A internet a serviço do jornalismo

Fonte: Folha de São Paulo-

 

Por Carlos Eduardo Lins da Silva*
 

{xtypo_quote}Há quem enxergue na internet um inimigo do jornalismo; é um erro conceitual e estratégico{/xtypo_quote}

OS JORNAIS americanos, por estarem enfrentando crise sem precedentes, concentram esforços para criar instrumentos para reforçar seus vínculos com os leitores e sua relevância junto à sociedade.
O “New York Times” recebeu na semana passada o prêmio Knight-Batten, que reconhece inovações no jornalismo, por suas novas ferramentas capazes de aumentar o controle social sobre as autoridades.
Uma delas se chama “Represent”. Com ela, o leitor de Nova York é capaz de acompanhar interativamente as atividades de seus representantes nos diversos níveis de governo.
O jornal coloca à disposição numa espécie de “facebook” informações factuais e reportagens sobre cada político, seus votos, discursos, e permite ao leitor escrever comentários e mensagens.
Durante a eleição de 2008, o “Times” colocou no seu site a íntegra em vídeo dos principais discursos e dos debates entre Barack Obama e John McCain, com a sua transcrição ao lado, o que permitia fazer buscas no texto ou remeter-se a partes específicas do maior interesse de cada pessoa, o que não é possível para quem está assistindo apenas ao vídeo.
Coisa parecida é o “Document Reader”, por meio do qual o jornal posta documentos públicos de qualquer tamanho e permite ao leitor procurar trechos que mais lhe interessem, assinalar passagens, fazer comentários à margem.
O “St. Petersburg Times” tem o “Polifact”, que apura a veracidade de promessas ou declarações de candidatos a cargos públicos ou autoridades no exercício do mandado e coloca o resultado de sua apuração à disposição da audiência.
Parceiro constante de jornais que se aventuram nesses experimentos é o site Propublica (http://www.propublica.org), sem fins lucrativos, que se proclama independente e dedicado a produzir “matérias importantes com força moral” resultantes de trabalho investigativo autônomo. Ele foi estabelecido em 2007, com dinheiro da Fundação Sandler, dos banqueiros Herbert e Marion Sandler, e é dirigida por jornalistas que deixaram o “Wall Street Journal”.
Estes são alguns exemplos de como a internet pode contribuir muito positivamente para melhorar a qualidade do jornalismo e das relações entre a sociedade e seus governantes.
Há quem enxergue na internet um inimigo do jornalismo. É um erro conceitual e estratégico. A internet é apenas um meio, como o rádio, a TV, o papel, em que se pode fazer jornalismo.
O jornalismo americano está em crise de modelagem de negócio, não de público. Nunca os grandes jornais diários tiveram tantos leitores quanto agora, graças à internet. Mas eles ainda não conseguiram achar a fórmula que transforme essa leitura em receita.
Uma das empresas jornalísticas mais lucrativas no momento nos EUA é o “Congressional Quarterly” (CQ), que se dedica apenas à cobertura das atividades do Congresso dos EUA. Ele acaba de ser vendido pelo “St. Petersburg Times” para um concorrente como forma de salvar o jornal diário de seus problemas.
O sucesso do CQ e das iniciativas acima mencionadas mostram que uma ligação orgânica entre jornalismo e acompanhamento de políticas públicas pode ser um caminho promissor.

 

Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.

 

Matéria original: A internet a serviço do jornalismo

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