A polícia deveria aprender a engolir seco quando contrariada, por Leonardo Sakamoto

 

 

Tenho certeza que estou fazendo alguma coisa de muito errada nesta vida.

Recebi mensagens de alguns leitores ensandecidos, afirmando que estou fazendo silêncio proposital sobre o rapaz que foi alvejado pela polícia militar no protesto do último sábado, em São Paulo. A razão misturava meu envolvimento secreto com uma campanha pela Copa no Brasil e algum comportamento do Uni, o unicórnio mala da Caverna do Dragão. Ai, gente… Terreno para capinar é que não falta.

Falo tanto de polícia por aqui que até já me prometeram sessões de tortura e outros afagos em uma página de apoio à polícia de São Paulo. Mas vamos lá.

A polícia tem que ser mais fria que o cidadão em um protesto. Se a sua missão for garantir a segurança de todos, ela deveria cumprir isso evitando o confronto. Engolindo mais sapos se for necessário, afinal ela não está em guerra com a sua própria gente. Muito menos em uma competição para ver quem tem mais poder. Porque isso já deveria ser claro: o povo.

E, para isso, a polícia tem que estar preparada, principalmente psicologicamente. Mas não está.

Não, policiais não são monstros alterados por radiação após testes nucleares em um atol francês no Pacífico. Não é da natureza das pessoas que decidem vestir farda (por opção ou falta dela) tornarem-se violentos. Elas aprendem. No cotidiano da instituição a que pertencem (e sua herança mal resolvida), na formação profissional que tiveram, na exploração diária como trabalhadores e na internalização de sua principal missão: manter o status quo.

Investido de poder para cumprir essa missão, o policial aprende a não ser contrariado ou atacado. Foi hostilizado por dependentes químicos? Manda bomba. Recebeu uma resposta atravessada em uma blitz? Esculacha. E manda bala sob a justificativa de ter sido atacado com um estilete.

O problema não se resolve apenas com aulas de direitos humanos e sim com uma revisão sobre o papel e os métodos da polícia em nossa sociedade. Setores da polícia estão impregnados com a ideia de que nada acontecerá com eles caso não cumpram as regras. Outra parte sabe que a mesma sociedade está pouco se lixando para eles e suas famílias, pagando salários ridículos e cobrando para que se sacrifiquem em nome do patrimônio alheio.

Parte da população apoia esse tipo de comportamento policial. Gosta de se enganar e acha que se sente mais segura com o Estado agindo dessa forma. Essas pessoas são seguidoras da doutrina: “se você apanhou da polícia, é porque alguma culpa tem”.

E se não se importam com inocentes, imagine então com quem é culpado. Para eles, é pena de morte e depois derrubar a casa e salgar o terreno onde a pessoa nasceu, além de esterilizar a mãe para que não gere outro meliante. Enfim, mais do que um país sem memória e sem Justiça, temos diante de nós um Brasil conivente com a violência como principal instrumento de ação policial.

Ou talvez isso nem seja um problema, não é? Afinal, com algumas exceções, isso é uma briga envolvendo pobres (policiais) contra pobres (quem é baleado ou fica na cadeia).

 

 

Fonte: Blog do Sakamoto

 

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