A política que barra negros e pobres e ameaça a democracia da areia no Rio

Polícia prende jovens antes da chegada às praias, mas juiz diz que prática é ilegal

Por MARÍA MARTÍN, do El Pais

Os rapazes, negros e pobres, viajavam em vários ônibus de linha regular até a privilegiada zona sul carioca. O destino, no domingo passado, eram as praias mais famosas do mundo, mas eles acabaram no fundo de um furgão policial, sem ter cometido nenhum crime. A ação pretendia conter uma nova onda de arrastões, um fenômeno complexo que se repete periodicamente nas praias do Rio desde a década de 90, mas a estratégia revelou outro frequente escândalo: o racismo institucional das polícias brasileiras.

Uma semana antes, já estavam no Arpoador, área cobiçada de Ipanema e ponto final dos ônibus que vêm da periferia, os elementos desta espécie de violento jogo de gato e rato  entre assaltantes e policiais que não raro termina com cadeiras voando pelos ares em meio a centenas de banhistas aterrorizados. O roubo da carteira de um gringo no Posto 8 desencadeou caos na areia. A polícia chegou até a orla de cassetete em mãos e espancou os jovens que encontrou pelo caminho, nem sempre os culpados. Muitos deles, da Favela da Penha, bebiam e conversavam. Momentos depois, uma ferida ardia nas costelas de Marcos, enquanto a amiga Ana reclamava que ele apenas estava sentado, sem fazer nada. O roubo e a agressão —aparentemente sem relação com o crime já que Marcos não foi preso—, foram o broche final de um dia de praia regular, com cenas que a polícia carioca se diz, mais do que nunca, determinada a evitar.

O problema é que, para o juiz titular da 1ª Vara da Infância, Pedro Henrique Alves, e a Defensoria Pública do Rio, a solução não pode ser evitar que grupos da periferia cheguem às praias, como no fim de semana. Ambos consideraram “ilegal” a detenção no ônibus. “A polícia só pode prender um adolescente se o encontra cometendo um delito ou se tem uma ordem judicial fundamentada”, explica a defensora pública Eufrásia Souza das Virgens, que abriu um processo contra o Estado por danos morais e constrangimento dos jovens.

Enquanto uma parte da sociedade levava as mãos à cabeça chocada com a medida, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), defendia os agentes: “A inteligência da polícia mapeou esse movimento de menores desde seu embarque nos ônibus. Quantos assaltos praticaram esses menores? Não estou falando que são todos os que estavam ali [nos ônibus], mas tem muitos deles que já tinham sido detidos mais de cinco, oito, dez ou 15 vezes”.

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