Direto ao ponto: cada um tem a alma que pode. Existem as almas penadas e as despenadas. Alma alta, alma baixa. Alma religiosa, agnóstica, ateia. Em comum, todas únicas como o DNA dentro do corpo. O que estou chamando de alma também posso denominar personalidade. Esta que já vem pronta com o bebê. Bacuri chorou, bacuri tem alma.
Por Fernanda Pompeu Do Yahoo
Na espantosa diversidade das almas, há uma esquina de encontro. A sua expressão no vasto mundo. Alguns vão chamar de marca, outros dirão obra. Os mais eruditos definirão alma como essência imaterial da existência. Chamo simplesmente de caminho, isto é, a expressão da vida de gentes e bichos. A casa de máquinas das subjetividades.
Existem almas que se expressam na delicada e trabalhosa tessitura de criar e educar alminhas. Outras bordam presenças nos espaços públicos, em exigentes profissões. A grande maioria solta faíscas em complexas conexões. Exemplos de expressão da alma: projetar pontes estaiadas, mostrar a novas gerações como cozinhar o barreado com pertences. Ensinar o neto a passar a própria roupa. Ensinar a neta a dizer o que pensa.
Fundamental lição: pôr para fora a expressão interior, que não precisa ser ruidosa, verborrágica, espaçosa. Pode se exprimir por meio de um violão, pandeiro, teclado eletrônico. Se expor por versos, frases, desenhos, cores. Pela dança, pela fotografia, grafite, diário pessoal. Mas não apenas pela arte.
A expressão da alma pode ocorrer no cuidado das plantas de um minúsculo jardim, no agasalho de tricô feito no sofá. Também na qualidade de acolher o distante, o diferente. Na habilidade e competência de ouvir – atributo de almas superiores. Pois sabem que sozinhas, trancadas com suas verdades, não chegarão a lugar nenhum. Elas creem, com toda razão, na incompletude das almas.
Expressar-se é se dar ao mundo. Por um fio de voz, silêncio oportuno, traço tênue, sorriso tímido que trocamos com desconhecidos. Às vezes, pelo grito, fala nervosa, risco de piche, cara feia que exibimos aos conhecidos. Seja como for, se expressar é a maneira de dizer estou aqui, faço diferença.
Sala de aula fora da escola. Maior parte das vezes, a alma é aluna. Outras poucas, professora. A lousa pode ser a rua, pode ser a casa. O local de trabalho, a cama dos amores. A expressão da alma se esparrama por todos o espaços. É corda de varal, de guitarra, de qualquer coisa estendida no tempo de cada um. Permitir a fala da alma alegra a vida, porque quebra o aquário e liberta nossas águas submersas e estratosféricas.