RIO – Reconhecido pelo papel de mediador de conflitos, o fundador do AfroReggae, José Júnior, nunca se viu na situação de refém da violência, nem foi ameaçado de morte por chefes do tráfico, com quem sempre negociou a saída de jovens do crime. Mas ele garante que, depois de denunciar o pastor Marcos Pereira (que está preso sob a acusação de estupro), de quem se tornou desafeto, a situação mudou. E, como ele mesmo diz, usando a linguagem do morro: “o bagulho é sério”.
Desde a decisão de reabrir a unidade no Alemão, houve duas novas ocorrências. O risco de um atentado nessas unidades persiste?
Sim, essas unidades ainda estão ameaçadas. E só tende a piorar. Existe o risco de pessoas inocentes serem mortas. E essa é a nossa maior preocupação no momento: preservar vidas. Eles deram oito tiros de fuzil na fachada da pousada (do AfroReggae no Alemão), na noite de terça-feira, na véspera da reabertura, e na quinta atiraram contra a unidade da Vila Cruzeiro. Acredito que essa retaliação vai continuar. Eu tenho recebido informações de autoridades e de moradores da comunidade falando sobre a pretensão de atentarem contra a minha vida.
O AfroReggae vai manter a agenda de crescimento nessas comunidades?
O AfroReggae só cresce. A tendência é ampliar, não por isso, mas porque já estava no planejamento. Espaços para manifestações culturais, tanto em artes cênicas, quanto em artes plásticas e fomento digital. Nós temos a pousada, que vamos inaugurar. A situação está muito difícil, mas acreditamos que esses atentados são parte de um processo de intimidação, já que, pela primeira vez, uma instituição não aceita acatar ordens do narcotráfico.
Uma das bandeiras da ONG é intermediar conflitos em comunidades. Como fica a situação dos coordenadores, que também são ex-traficantes?
Muitos correm risco de vida. Muitos estão receosos, mas nenhum deles pediu afastamento.
E tem alguém neste momento intermediando por eles ou pela permanência da ONG?
Deus. Só Deus. Apesar de atuar negociando com facções rivais, isso nunca tinha acontecido conosco. Mas, desde que denunciamos o pastor Marcos Pereira, as coisas estão difíceis. O que está acontecendo só demonstra que o que nós falamos sobre ele há um ano e meio é a verdade. Ele é uma das maiores mentes criminosas do Rio de Janeiro.
Fonte: O Globo