A violência sexual como arma de guerra

Fonte: Radiocaicara-
Por: Oman Carneiro
A violência sexual é uma arma de guerra na Colômbia, utilizada por todos os atores do conflito e que tem mulheres e meninas como suas grandes vitimas, acaba de ratificar um informe da Intermón Oxfam que avalia denúncias de outros organismos nacionais e internacionais de direitos humanos.

 

“Todos os grupos armados da Colômbia, forças de segurança do Estado, paramilitares ou grupos guerrilheiros usam a violência sexual como arma de guerra, ao ponto de fazer parte integral do conflito”, assegurou Paula San Pedro durante o lançamento simultâneo do estudo em Bogotá e Madri.

O informe “A violência sexual na Colômbia: uma arma de guerra” dá uma renovada projeção ao que nas últimas duas décadas reiteram organizações de mulheres, de direitos humanos, de negros, de camponeses e de parlamentares, sem despertar a sensibilidade esperada nos órgãos de decisão do Estado, do governo e na sociedade.

Com um conflito armado há mais de 40 anos, a dor é suportada com muita solidão e mais impotência pelos grupos da população civil especialmente vulneráveis, como confirmaram depoimentos e material audiovisual apresentado durante a Cúpula Mundial de paz, realizada em Bogotá de 1º a 4 deste mês.

O deslocamento forçado teria afetado mais de quatro milhões de pessoas desde 1995 até abril deste ano, segundo dados de organizações não-governamentais, entre elas a Consultoria para os Direitos Humanos e o Deslocamento (Codhes).

Aproximadamente, 10% da população colombiana, de 42 milhões de pessoas, tiveram de se deslocar em razão do conflito, segundo esta organização.

Majoritariamente trata-se de camponeses, negros ou indígenas, obrigados a deixar suas terras de maneira forçada e testemunhos frequentes do assassinato de familiares ou da violação de mulheres.

Em armas contra o Estado estão as esquerdistas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o, menor, Exercito de Libertação Nacional (ELN), enquanto continuam ativos setores paramilitares de extrema direita, embora entre 2002 e 2006 tenha sido anunciada a desmobilização de dezenas de milhares de seus efetivos.

Marcas indeléveis
Intermón Oxfam e outras organizações humanitárias asseguram que do total de população deslocada 60% são mulheres, e destas duas em cada dez se deslocam para fugir da violência sexual.

Os dados não são verificáveis porque “as mulheres, em muitos casos, não denunciam por medo ou vergonha”, disse à IPS Alexandra Quintero, coordenadora da área de pesquisas da não-governamental corporação Sisma-Mulher, que realiza informes anuais sobre a violência cometida contra as mulheres em diferentes setores.

Violências que conseguiram produzir demência temporária ou definitiva nas vitimas, testemunharam participantes da Cúpula Mundial de Paz. “Ou, marcas indeléveis”, como garantiu à IPS uma mulher negra de 53 anos, natural do departamento de Chocó.

Maria (nome fictício) recordou que em Chocó, “antes da chegada do conflito, vivíamos tranquilos à margem do rio Atrato. Isso foi até 1988, mais ou menos, quando começou a guerra mais cruel. Ouvíamos um motor e ficávamos paralisados”, recordou.

Chocó é um departamento situado na costa colombiana do Pacífico, cuja população majoritariamente negra ou mestiça suporta os maiores índices de pobreza do país e onde o transporte é feito em quase sua totalidade por rios e planícies estreitas entre montanhas.

“Tiravam as pessoas à meia-noite de suas camas, matavam os homens e abusavam das mulheres”, continuou María com um tom de voz que mesclava raiva e impotência.

Maria conheceu uma mulher violentada por vários guerrilheiros, mas, também foi testemunha da crueldade dos paramilitares e soube de fatos cometidos por soldados contra outras moradoras da região.

“Esse é um trauma do qual a pessoa nunca consegue se livrar por mais que se fale de reparação. Porque isso a mulher sente na carne, e mesmo sendo uma senhora idosa, o que uma mulher não quer permitir em seu corpo não deveria ocorrer”, acrescentou María.
Por isso, agora integra o grupo de mulheres chocoanas que promove “organizar-se, fazer plantões de protesto e despertar”. E assegurou que “necessitamos participar mais e nos fazermos visíveis porque somos muito assediadas”.

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