Abstenção nas eleições: por que a surpresa?

por Chico Vigilante

A Justiça Eleitoral e grande parte da mídia brasileira agiram apostando na abstenção de votos nas eleições municipais. Não entendo porque agora estão estranhando os resultados neste sentido.

Os mesmos articulistas que passaram os últimos meses focando na criminalização da política, colocando holofotes no julgamento da Ação Penal 470, e mandando recado aos eleitores de que não existem homens sérios na política deste país, agora demonstram surpresa com os índices de abstenção que no segundo turno alcançou cerca de 19% dos eleitores.

No último domingo, mais de 25 milhões de pessoas foram às urnas votar, mas cerca de seis milhões não compareceram à votação. A abstenção nas eleições municipais deste ano foi a segunda maior na história dos segundos turnos do Brasil, iniciada em 1992.

O número só é menor do que nas eleições de 1996, a primeira totalmente informatizada no Brasil, quando o índice chegou a 19,4%. O número de hoje também é maior do que no primeiro turno deste ano, quando 16,4% dos eleitores não compareceram às urnas. Em 2008, esse índice foi de 18% no segundo turno e de 14,5% na primeira fase do pleito.

O Programa de televisão da Justiça Eleitoral sobre o ficha limpa mostrava um mecânico com as mãos cheias de graxa preta, insinuando que políticos sujam as mãos. Melhor papel teria feito se mostrasse aos eleitores a importância do voto para a democracia e a cidadania.

Depois das eleições a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, disse que se “preocupa” com o índice alto de abstenção e que a Justiça Eleitoral e especialistas deverão analisar meios mais “eficazes” de convidar o eleitor a votar.

Criticar genericamente os políticos só faz com que um sentimento de desconfiança em relação à política se instale no país, gerando cidadãos apáticos ou desiludidos, e diminuindo sua disposição para agirem politicamente de forma correta.

Os altos índices de abstenção demonstram que a defesa feita por alguns de acabar com a obrigatoriedade do voto no país, não contribui para o bem do Brasil. Infelizmente ainda não estamos preparados para tal. Se abster nas eleições não elimina os maus políticos, não impede a corrupção. Apenas demonstra o despreparo e a fragilidade política de alguns cidadãos.

Temos diferentes espaços de participação política e eles devem ser preenchidos com a contribuição do cidadão. Esse posicionamento é de extrema importância para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, igualitária social e politicamente. Naõ podemos nos esquecer: somos nós os responsáveis pela história de nosso país.

Fonte: Brasil 247

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