Autor do livro “Albinos”, Gustavo Lacerda participa do evento Foto em Pauta a ser realizado na próxima terça-feira
Carlos Andrei Siquara
“Albinos”, livro de Gustavo Lacerda, lançado recentemente, é fruto de um trabalho iniciado em 2009 e resume um processo transformador para o fotógrafo. A obra sinaliza um marco na sua carreira ao reunir criações que o fizeram vencer os prêmios Conrado Wessel (2011) e Porto Seguro de Fotografia (2010), além de lançar luz para um grupo de pessoas que desconhece esse tipo de visibilidade. Lacerda é o convidado do Foto em Pauta, na próxima terça-feira (19), no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna.
A timidez e o desconforto típicos daqueles que possuem essa característica congênita – provocada pela ausência de pigmentação de pele, cabelos e olhos – são um dos traços mais presentes nos registros. O fotógrafo diz ter sido proposital essa intenção, o que resulta em imagens carregadas de grande sensibilidade. “Se observarmos com cuidado, há uma tensão, às vezes expressa na maneira como dispõem os braços ou as mãos, ou mesmo como encaram a câmera. É importante lembrar que essas pessoas não estão acostumadas a serem fotografadas. Ao contrário, elas convivem diariamente com o julgamento dos outros que estranham sua fisionomia”, sublinha Lacerda.
Ali, o fotógrafo não esconde, assim, a insegurança dos retratados face a essa difícil convivência. Por outro lado, ele conta ter tentado atenuar algumas situações que poderiam ser insuportáveis, a exemplo da incidência da luz e do flash naqueles conhecidos por sofrerem com a fotofobia.
“Optei pelo uso de uma luz mais difusa, que pudesse não os incomodar tanto”, explica. Para conseguir ressaltar os aspectos físicos, como as nuances de tonalidades dos cabelos e da pele, ele diz ter optado pela ambientação do estúdio, onde conseguiu ter o controle maior da iluminação, do cenário e do figurino.
“Eu acabei me afastando do registro documental, que é uma tendência mais contemporânea. Porém, essas escolhas deixaram tudo permeado por uma grande delicadeza. Os tons pastéis usados nas roupas e no cenário de fundo não visaram outra coisa a não ser ressaltar eles mesmos. Isso mexeu muito com aquelas pessoas. Acho que elas se viram de outra forma, houve um impacto positivo na autoestima”, observa o artista.
Ele compara suas criações com as de Alexandre Severo, fotógrafo que morreu no acidente com a aeronave onde estava também o político Eduardo Campos, na última quarta-feira. As suas, como as de Severo, que retratou uma família de negros com dois filhos albinos em Recife, devolvem naturalidade à vida dos seus personagens. “Eu conheci Severo e o trabalho dele depois de acharem que eu tinha feito uma foto da qual não me lembrava. Quando fui ver, era dele. Eu fiquei super chateado com a sua morte. O trabalho é muito bacana e, apesar de seguir uma linha diferente do meu, lida também com o tema de forma muito natural”, relata.
Fomte: O Tempo