Aluno da rede pública já chega pior à 1ª série

Pesquisa mostra que alunos das escolas particulares iniciam o ensino fundamental já com larga vantagem em relação aos da rede pública

Estudo acompanhou 20 mil alunos de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Campinas, Campo Grande e Salvador de 2005 a 2008

Fernando Rabelo/Folha Imagem

Vitória Vieira, 3, na creche do Espaço de Desenvolvimento Infantil na favela Parque Alegria, onde mora, no centro do Rio de Janeiro

Os alunos que ingressam nas escolas particulares chegam à primeira série já com larga vantagem em relação às crianças de escolas públicas. E essa desigualdade nas médias pouco se altera até o final da quarta série do ensino fundamental.
Esta é uma das conclusões de um estudo pioneiro no Brasil, o projeto Geres, que acompanhou, de 2005 a 2008, 20 mil alunos de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Campinas, Campo Grande e Salvador.
Em português, a distância inicial entre alunos da rede pública e privada até diminuiu, mas permaneceu significativa ao final da quarta série. Em matemática, ela cresceu.
O Geres tem como diferencial o fato de ter monitorado, ano a ano, a mesma geração de alunos desde a entrada na primeira série do fundamental até a conclusão da quarta série.
Os exames do MEC (Ministério da Educação) não permitem essa comparação pois as avaliações externas só começam a partir da 4ª série (ou quinto ano, no caso de redes que já ampliaram o ensino fundamental de oito para nove anos).
Para Fátima Alves, pesquisadora da PUC-Rio e uma das coordenadoras do projeto, é preciso investir mais na educação infantil (creches e pré-escolas) para diminuir essa desigualdade inicial.
Outra conclusão é que, diferentemente do que os pesquisadores supunham, os maus resultados na 4ª série não são gerados por falhas no primeiro ano de alfabetização. Ao final da 1ª série, os estudantes avaliados até conseguiam adquirir habilidades de leitura que, para os autores do Geres, eram adequados para os sete anos.
“O problema não estava nessa fase inicial. Nossa hipótese é que esteja na consolidação. Em vez de reforçar a leitura e interpretação de texto, muitos professores podem estar partindo para etapas seguintes, como o ensino de normas gramaticais”, afirma Fátima. Cláudia Costin, secretária municipal de Educação do Rio, concorda que há uma abordagem precoce da gramática nos primeiros anos. “É como se a pessoa ainda estivesse aprendendo a dirigir e o instrutor já passasse a explicar como funciona o motor.”
Já o educador João Batista Oliveira, do Instituto Alfa e Beto e defensor do método fônico, que enfatiza o ensino pela associação de letras e sons, discorda: “O que os alunos aprendem no primeiro ano é muito pouco e não dá para dizer que seja suficiente. A escola pode fazer mais diferença nesse primeiro ano, garantindo uma boa alfabetização, com métodos de eficácia comprovada”.
Os estudos a partir do Geres mostram também que o uso efetivo do livro didático em sala de aula está associado a melhores notas.

Estudo constata diferença nos EUA também

A diferença nas notas entre alunos ricos e pobres existente antes da entrada nos níveis primários foi constatada em estudo dos economistas Flávio Cunha e James Heckman (prêmio Nobel de economia).
Eles mostraram que, nos EUA, 93% da diferença cognitiva medida aos 13 anos entre alunos de mães com alta escolaridade e filhos de mulheres de baixa instrução já estava presente aos cinco anos.
“Crianças de famílias desfavorecidas ingressam nas escolas com muito menos vocabulário”, diz Heckman.

Nordeste tem mais alunos no ensino infantil

Há vários estudos que mostram que o acesso à pré-escola melhora o rendimento no ensino fundamental e ajuda a diminuir a desigualdade. No entanto, para o matemático Ruben Klein, autor de um desses estudos, para que o efeito seja completo, é preciso garantir qualidade, o que não ocorre hoje.
Prova disso, diz ele, é que a região com maior acesso à pré-escola é, segundo o IBGE, o Nordeste, com 79% de crianças de quatro e cinco anos na escola. No Sul, a proporção é de 59%. Nas avaliações feitas com alunos no ensino fundamental, no entanto, as médias do Sul são maiores.
“Ter feito pré-escola faz diferença, mas poderia fazer muito mais, se essas crianças já começassem a aprender a contar, reconhecer números, ler. Isso pode ser feito por meio de jogos e atividades adequadas a essa faixa etária”, afirma Klein.
Há quase consenso entre educadores de que ampliar o acesso à pré-escola é um dos caminhos para reduzir a desigualdade. No caso da creche, no entanto, especialistas divergem a respeito da melhor política de atendimento às crianças de zero a três anos.
Para o economista Ricardo Paes e Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, programas de visitação familiar, em que agentes ensinam pais a cuidarem dos filhos, são mais viáveis economicamente de serem aplicados em larga escala do que as creches.
João Batista Oliveira, do Instituto Alfa e Beto, concorda: “[Ter] Uma creche de alta qualidade é ótimo, mas custa caro. Com poucos recursos, universalizar creche ruim, com profissionais despreparados e tendo que cuidar de muitas crianças, é péssima política, pois, em vez de ajudar, pode até prejudicar o desenvolvimento cognitivo”.
A questão, no entanto, é complexa, pois o acesso à creche acarreta também impactos na inserção da mulher no mercado de trabalho, aumentando a sua renda.
Além disso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, mostra que o acesso é bastante desigual.
Nas famílias com rendimento per capita inferior a 1/4 de salário mínimo, apenas uma em cada dez crianças de zero a três anos está na creche. Já nas mais ricas, com rendimento superior a cinco salários mínimos per capita, quase a metade (46%) está matriculada.

Fonte: Folha de São Paulo

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