Amílcar Cabral – por Paulo Freire

Amílcar Cabral
O Pedagogo da Revolução

Paulo Freire

Eu conhecia Amílcar Cabral não pessoalmente, mas através das referências que se faziam à Amílcar Cabral, à luta Africana. Parece-me que era impossível, inclusive, comentar, falar dos movimentos de libertação em África, sobretudo, da chamada África de expressão Portuguesa, que para mim é muito mais a expressão de uma postura colonialista portuguesa do que verdadeira essa afirmação, sem falar de Cabral. Eu sempre dizia que não reconhecia as Áfricas, uma de expressão Portuguesa, de expressão Francesa, de expressão Inglesa, para mim o colonialismo pairou e impôs-se sobre a África e sem ter conseguido jamais ter transformá-la em Áfricas de expressão disto ou daquilo. Mas era.

E é difícil, pensar sobre os movimentos de libertação dessa chamada falsamente África de expressão Portuguesa, sem se fazer referência a Amílcar Cabral. Amílcar Cabral esteve na gestação de todos os movimentos de libertação das ex-colônias Portuguesa, desde o tempo que ele jovem ainda, estudava em Lisboa.

Pessoalmente, lamentavelmente, eu nunca pude encontrar Amílcar, é uma das minhas frustrações, eu gostaria de tê-lo conhecido pessoalmente. Mas conhecia seus trabalhos e fiz a leitura de alguns de seus textos. Dediquei-me muito à leitura de seus textos quando, após a libertação da Guiné Bissau, Cabo Verde e demais países, recebi um convite do Governo da Guiné Bissau para, com uma equipe com a qual eu trabalhava, na época em Genebra, dar uma contribuição ao povo Guineense e também Cabo Verdiano.

Então naquela época uma das exigências que nós nos fizemos foi exatamente fazer um estudo sério do que a gente encontrou da obra de Amílcar. Lembro-me de que eu li dois volumes da obra de Amílcar numa tradução francesa; só depois eu consegui o texto original publicado em Lisboa. Mas a gente lia, eu costumava a ler o Amílcar assim, página por página, palavra por palavra, fazendo minhas notas, e quando cheguei, fomos juntos, a equipe do Instituto de Ação Cultural – IDA, e eu a Bissau, nós começamos então a conversar com gente que havia lutado ao lado de Amílcar, com gente cabo-verdiana e com gente guinense, que havia lutado com Amílcar, ao lado de Amílcar.

E a gente foi vendo e comprovando uma enorme coerência, através dos depoimentos, entre o que a gente lia nos textos de Amílcar, e o que se diziam a nós nos depoimentos. Gente moça, gente jovem, guerrilheiro que tinha lutado nos campos, nas matas com Amílcar. Então, a leitura de Amílcar, a personalidade Amílcar, de Amílcar como um grande revolucionário, era uma coisa que a mim me fascinava e me fascina completamente hoje.

O livro não escrito de Paulo Freire

E nasceu, daí desses encontros com a obra de Amílcar com a repercussão dessa obra na prática, inclusive com a distância às vezes enorme entre o que Amílcar escreveu e o que Amílcar fez enquanto processo de libertação, ou seja a posta em prática após a mudança, após a libertação. Isso não diminuiu em nada, para mim, a validade das propostas de Cabral. Nasceu daí precisamente o sonho de fazer um estudo, uma espécie de biografia da práxis. Eu cheguei até a ter o nome do livro que eu quis escrever, que não pude escrever, que se chamaria “Amílcar Cabral, Pedagogo da Revolução”, eu estabeleci uma diferença já para esse título entre, ser pedagogo da revolução e ser pedagogo revolucionário, me parece que há uma ligeira diferença que não diminui em nada o que é apenas pedagogo revolucionário.

Há uma diferença que eu acho fundamental. Amílcar me parece que na verdade, foi um pedagogo da revolução, quer dizer, ele teve, ele encarnou perfeitamente o sonho de libertação de seu povo e os procedimentos políticos pedagógicos, para a realização desse sonho. Recordo também que um dos caminhos que eu pensei para fazer o trabalho sobre Amílcar era procurar ouvir ao máximo a gente que havia lutado ao lado dele, dentro da Guiné, em Cabo Verde, e depois, em outros países da África, e depois fora da África. Cheguei a ter uma conversa com a liderança do PAI a quem eu coloquei a minha proposta, o meu projeto.

E eu dizia que como intelectual, eu me sentia um militante, e que a diferença entre mim e um outro intelectual qualquer, é que outro intelectual poderia fazer uma pesquisa muito séria, inclusive, e depois escrever o livro, sem pedir permissão nenhuma ao partido, sem se entregar também ao debate do partido. Mas que essa não era a minha posição. Caso o partido dissesse sim, eu iria então trabalhar e se chegasse um dia ao término do que eu sonhava, eu ofereceria os originais, antes de publicá-los ao partido, ao PAI, para que o PAI lesse os originais e depois me convocasse no sentido de debater comigo os pontos com os quais o partido não concordasse. E eu dizia com muita lealdade, se o PAI me convence do meu erro eu retiro, se não me convence, então eu não retiro. Mas o que eu quero é deixar muito clara a minha posição política, e não apenas a posição de um intelectual interessado na obra de um grande líder, como foi o Amílcar. O partido aceitou, não fez nenhum obstáculo. Eu dizia mais ainda que, aprovado o texto, que eu daria o texto ao partido  que apenas, trabalharia, junto às editoras para que publicassem, mas que os direitos autorais pertenceriam ao Partido.

Julinho Carvalho

Comecei então a trabalhar, me lembro, uma coisa lamentável, eu gravei aproximadamente 10 entrevistas em Bissau e se perderam todos os cassetes na nossa mudança de Genebra para o Brasil. Eu me lembro, por exemplo,uma entrevista excelente foi com o cabo-verdiano que está hoje em Cabo Verde, ele era o comissário das Forças Armadas em Bissau, antes da ruptura, Julinho Carvalho. Eu conversei tanto com esse homem, um homem extraordinário, um grande estrategista militar. Tive com ele uma entrevista fantástica, foi ele que gravou mais, perto de duas horas.

Falando da visão política, da visão militar, e da visão que a gente poderia chamar aqui sem nenhum receio, humanista, de Amílcar Cabral, sem, porém, dar ao adjetivo humanista nenhuma conotação piegas, humanista no sentido da radicalidade com que a gente se refere ao que há de humano. Então ele me contou fatos como esse que eu vou relatar aqui: disse ele que um dia, uma equipe de comandantes, de que ele fazia parte, organizou, fez um projeto armado, no sentido de destruir o principal quartel português e esta ação seria uma perda irreparável para forças colonialistas. Com aquela derrota dos portugueses, vislumbrada no projeto que os comandantes militares faziam, dificilmente o exército colonialista poderia sobreviver.

Disse-me o comandante que levaram o projeto a Amílcar, e ele examinou, discutiu durante duas horas o projeto e, em certo momento, ele pergunta aos comandantes “E qual é o custo social da posta em prática deste projeto? Militarmente eu não tenho dúvida nenhuma que realmente funciona. “Mas eu quero saber é a posta em prática, o que vai custar?” E o comandante disse: “Olha, nós liquidaremos as tropas portuguesas, em cem por cento, perdemos cinqüenta por cento das nossas”. A resposta de Amílcar: “É muito caro para ser posto em prática”. Então disse que fez uma pergunta extraordinária.

Essas coisas me impressionavam tanto que eu não esqueço. No ano que vem eu vou à Genebra e ainda tenho a esperança de descobrir essas fitas por lá. Mas então o Amílcar disse a eles uma coisa que a mim me impressionou. Disse:“Olha, vocês fizeram um plano, um projeto de guerra, de luta, como se tivessem esquecido de que nós estamos com a história, e a história conosco. Os portugueses é que estão contra a história. Então não há mal nenhum que a gente retarde o momento último da última pá de terra em cima do colonialismo, por um tempinho mais, sem perder tanta gente”.

E então concluiu dizendo o seguinte: “O que interessa a nós é expulsar os colonialistas, não necessariamente matá-los. Para expulsá- los, precisamos matar alguns e morrer”. Por isso vocês vejam, que a colocação é ao contrário, inclusive é uma colocação, me parece, profundamente normal, porque eu nunca pude admitir, quando se pensa, por exemplo, que revolucionário é gente truculenta que anda querendo matar.

É um absurdo, porque isso não é revolucionário, isso é uma patologia, não é, portanto, atributo de revolucionário querer matar gente. Mas essa preocupação do Amílcar, dizia esse comandante, estava permanente na luta e nas análises que Amílcar fazia nos seus textos, aliás, os seus textos na sua maioria são resultados exatamente de extraordinários seminários, muitos dos quais feitos em plena selva,como avaliação do processo de luta, de luta armada etc.

O que ainda não estava aqui

O outro moço, uma outra entrevista que me impressionou enormemente, foi de um jovem que estava funcionando quando eu conversei com ele, na Guiné Bissau, como uma espécie de supervisor distrital no campo da educação, algo parecido com isso na nomenclatura do sistema educacional brasileiro, numa zona. Ele conversando comigo eu lhe perguntei: “O que foi que mais te impressionou, na tua passagem por Amílcar?” E ele disse: “Camarada Paulo Freire, o que mais me impressionava no camarada Cabral era a capacidade que ele tinha de conhecer o que ainda não estava aqui”. O que será isso, perguntei, ele disse: “Eu penso não é camarada”. Eu digo: “Mas é claro que você pensa”“Diz agora, eu sou capaz de pensar seiscentos metros em torno de mim. O camarada Cabral pensava seis anos na frente dele”. E aí eu disse: “Explica isso”. Ele disse: “Uma vez nós estávamos na frente da batalha, numa certa zona de luta, depois de uma semana de castigo forte da aviação tuga, o camarada Cabral chegou para uma visita de inspeção e de estudos”. Isso é o que eu estou chamando aqui de seminários que ele costumava fazer, de avaliação da prática. No fundo, Amílcar foi um extraordinário teórico, por isso foi um excelente prático, praticista. Então, ele trouxe a moçada para um desses seminários.

Eu fico a imaginar uma daquelas clareiras maravilhosas que a gente acha na África, nos bosques, nas matas, e lá sentados bem africanamente, à sombra das árvores grandes, Amílcar conversava, avaliava o processo de luta, e em certo momento disse: “Eu preciso retirar duzentos de vocês da frente da luta, para mandar para outra frente de luta. Eu preciso de duzentos de vocês para mandar para Conacri, para Instituto de Capacitação, para capacitar os duzentos e depois trazê-los para o interior do país para as zonas libertadas, no sentido de trabalhar como professores”. E aí o jovem olha para mim e diz, vejam como é um raciocínio assim muito imediato. Muito parecido com milhares de raciocínios nossos no Brasil e na América Latina. Disse: “Como é que eu, que estava com um fuzil na mão, vendo o meu companheiro cair morto junto de mim, os tugas matando a gente, como é que eu podia naquela hora pensar que pudesse haver a possibilidade de duzentos de nós saírem da frente de luta para ir estudar. Então a minha reação foi a seguinte: Mas camarada Amílcar, esse negócio de educação fica para depois.”

Você veja que essa reflexão é extraordinariamente igual a de milhares de nós aqui na América Latina, para não falar só no Brasil. “– Então camarada Cabral esse negócio de educação, fica pra quando a gente botar os tugas para fora, aí a gente pensa na educação, e aí a gente se forma, se capacita. Eu pensava que o camarada Cabral ia trazer para cá mais duzentos guerrilheiros, e não tirar duzentos de cá”. E Cabral vai e diz a ele: “E por que você acha que não está certo isso?” E o moço diz: “Porque a gente não pode perder essa guerra”. Cabral então diz: “Mas é exatamente para não perder a guerra, que eu preciso de duzentos de vocês”. Isso é um diálogo lindo. Isso é um negócio, para mim, extraordinário! E o moço continuava sem acreditar e sem entender, sobretudo.

O pedagogo da revolução

Num parêntese, há algo embutido nesse diálogo que me fala muito do pedagogo da revolução. É na verdade isso que eu chamo de substantividade democrática,é preciso acabar com essa invencionice de que falar em democracia já significa imediatamente que o sujeito é da social democracia ou é revisionista espontaneísta, é frouxo ou é um bando de coisas como essas. É preciso acabar com essa mania de que só há rigor sob o autoritarismo. É preciso que quem diga isso, assuma seu autoritarismo, e não o transfira para os outros. Então, esse dado da conversa, vejam bem, é muito importante, o moço que dialogava com Cabral o tinha na verdade como o grande líder, ninguém pense que não, porque é hoje ainda o grande líder presente, e não presente magicamente, nem miticamente. Olha, obviamente que naquela hora ele sabia que Cabral era o líder. Mas o líder não falava apenas aos liderados, porque falava com os liderados, ao lado de falar aos liderados.

Eu quero fazer outro parêntese para dizer, que para mim é fundamental que uma liderança radicalmente democrática revolucionária, que essa liderança fale aos liderados. Mas que não é possível, é que ela deixe de falar com, e para mim, só há uma maneira de falar aos liderados sem falar contra eles, é falar com eles também.

Só falando com, é que você se legitima em determinados, necessários momentos, em que você correria o risco de cair num espontaneísmo. Só falando com é que em certos momentos você legitima o direito de “falar a”. Isso fazia Amílcar de uma maneira extraordinária, o autoritário sempre “falar a”, o espontaneísta pensa que jamais pode “falar a”, e que tem sempre de falar com, e para mim essas são duas posições falsas. A minha posição é de quem “fala a” por que “fala com”. Isso fazia o Amilcar, esse diálogo desse moço é uma beleza.

Em certo momento de sua narrativa, ele então diz que Amílcar olha a todos e diz o seguinte: “– Meus amigos, meus camaradas, esta guerra vai ser ganha por alguns da minha geração, que escaparão, vai ser ganha por alguns da geração de vocês que escaparão, mas vai ser ganha pela geração que está chegando aí”. Vejam vocês que visão, isso é o que eu chamo de sensibilidade histórica, que saía pelos poros dele, isso é que é a capacidade de ler o mundo e não de ler os textos. Quem se perde apenas na leitura dos textos se esborracha constantemente. Só não se esborracha quando só cuida mesmo da sua academia e quando cuida da academia, sem tarefas administrativas. E aí dizia Amílcar: “– E o que acontece é que daqui a cinco anos por aí, seis, quando essa geração que está aí jovenzinha, chegar ao momento da luta definitiva, vai precisar de instrumentos de guerra, que não são os que vocês estão usando, mas instrumentos de guerra que vão exigir conhecimento matemático que vocês não tiveram e nem têm, são acontecimentos científicos de que a geração outra vai precisar”. Aí disse ele: “E o que nós precisamos no momento é exatamente levar duzentos de vocês, para serem formados no sentido de voltar a formar cá”. O moço me olha e me diz: “Camarada Paulo, eu fui então para Conacri. Confesso ao senhor que eu fui sem entender muito, mas fui. Estudei, capacitei-me e voltei. Formei quadros aqui que eram realmente os quadros da geração que tinha que ganhar, e vi alunos que estudaram comigo derrubando aviões tugas, com foguetes, esses foguetes soviéticos”. Parou, olhou para mim e disse: “Camarada Paulo Freire, foi por isso que no começo eu disse ao senhor que eu sou capaz de pensar seiscentos metros em torno de mim, e que o camarada Cabral pensava seis anos na frente dele”.

Profestismo, advinhação, intuição

Eu me lembro ainda de quando ele me disse isso, eu aproveitei para falar sobre o que eu entendia de profetismo. Para mim o camarada Cabral, era um profeta, não por que fosse um doido barbudo, como o beato Salu da novela1 , por que há um equívoco, muita gente quando ouve falar em profeta, fica pensando que se trata de gente maluca, de gente doida, suja, que vive fazendo discursos. Não. O profeta ou a profetiza, é exatamente quem, por viver intensamente o hoje, adivinha o amanhã.

¹Novela “Roque Santeiro” de Dias Gomes, Rede Globo de Televisão.

Eu usei o adivinhar propositadamente para valorizar um pouco, a tarefa de adivinhar na epistemologia. Eu acho que conhecer não é adivinhar, mas passa também pela adivinhação ou pela intuição para gente ser mais cortês. O profeta é exatamente essa pessoa que não tem nada do doido, que tem é uma profunda raiz no hoje que ele briga para transformar. E é exatamente essa práxis atolada no hoje que o faz, compreendendo o passado, prever, antever o futuro, porque ele sabe que o futuro afinal de contas se faz é no hoje que se transforma.

Não há um futuro como uma coisa marcada, esperada para gente colocar depois, como se fosse um módulo que a gente fabrica e deixa lá a espera da pessoa que vai chegar para buscá-lo no futuro. Não, o futuro se constrói é na transformação radical do hoje. E era isso que fazia Cabral, esse homem capaz do pensar seis anos na frente dele. Os depoimentos que eu tive na Guiné Bissau somam mais ou menos, quinze ou dezesseis horas de gravação, todos eles de diferentes figuras, camaradas que lutaram com o fuzil, com uma responsabilidade de comandante, camaradas que eram comissários ou ministros na época da entrevista.

O primeiro ministro, que morreu em acidente, Chico Terra, me deu também uma entrevista muito boa, todos esses depoimentos, enfatizaram, em Amílcar, primeiro essa capacidade de prever, segundo enfatizaram esse gosto do falar com, terceiro enfatizavam uma extraordinária competência, associada a uma sensibilidade histórica, qualidades absolutamente indispensáveis, ao saber científico, ao lado da sensibilidade do objetivo, do concreto, da objetividade. Salientavam, também, um imenso respeito, ao senso comum, ao conhecimento, que caracteriza a incerteza da sabedoria popular. Ele tinha um profundo respeito a isso.

Eu me lembro, por exemplo, que em um dos textos dele que resultou, dessas avaliações de luta, ele discute com um grupo de guerrilheiros, a crendice no poder do cri-cri, que é exatamente, os bentinhos, as coisas que a gente usa, amuletos, a crença no amuleto, os chamados mezinhos. No Brasil a gente tem um mezinho, que não é um amuleto, é uma espécie diferente de amuleto, é a cachacinha no chazinho. E o camarada brigando, convencido de que o mezinho faria com que a bala do inimigo ricocheteasse, batia e pulava para o outro lado e não pagava o sujeito. E ele ouve aquilo com uma sabedoria do antropólogo político, e depois diz: “Eu gostaria de dizer aos camaradas que o que nos defende da bala do inimigo é saber ou não saber brigar”.

Cultura e crença

É ter, diria eu agora acrescentando um pouco, é ter ou não ter uma competência sobre a luta que a gente ganha na luta, não é o mezinho que faz isso. Aí diz Cabral: “Mas o partido respeita, respeita a crença, a convicção que está no corpo da nossa cultura”. Eram essas as dimensões da cultura que ele chamava de debilidade da cultura, essas debilidades estavam do ponto do vista da sua análise, exatamente, nas relações entre o ser humano e o mundo natural. E ele defendia, vejam que coisa bacana, que não era sacudir a pá de terra em cima daquela compreensão mágica do real, não era para as pessoas ficarem ao nível daquela debilidade, mas era partir daquela debilidade, para poder alcançar a sua superação. É isso que em nível político pedagógico eu venho dizendo desde os anos cinqüenta.

No entanto, há críticos meus neste país, que dizem que o que eu defendo é que o educador deve ficar ao nível do educando. Isso é uma coisa incrível. Eu nunca usei o verbo ficar, porque seria um absurdo, eu tenho usado sempre o verbo partir. Partir da concepção do mundo que tenha o educando ou que tenha a massa popular e partir, a não ser que me provem com algum dicionário, significa deslocar-se de um certo ponto, com direção a outro. Portanto, há no verbo partir uma conotação do movimento e outra de intencionalidade, de diretividade. É por isso que a educação é diretiva mesmo, ela é um partir de.

Pois bem. Em Cabral você percebe isso de uma forma extraordinária, mas aí ele conclui o discurso dele naquela que deve ter sido uma bonita tarde numa mata da Guiné Bissau. E ele diz: “No entanto, não tenho dúvida nenhuma de que os filhos dos nossos filhos vão elogiar o PAIGCi, que soube lutar, mas vão dizer sorrindo: os nossos pais acreditavam em coisas bizarras, em coisas estranhas”. Mas vocês vejam que isso é um negócio maravilhoso! Aí é que cada vez mais esse homem se afirma a mim, como um pedagogo da revolução. Vocês vejam, seria um absurdo, por exemplo, simplesmente dizer: vocês são uns idiotas, e eu não sei, como é que vocês estão vivos ainda. Mas por outro lado seria também um absurdo conceder,não era possível conceder. O caminho para, não estigmatizando, não conceder, era debater, era falar sobre a debilidade, isso ele fez em tudo… Hoje, nessa manhã que vocês me oferecem aqui na UnB, o fato de eu estar de novo pensando nessas coisas, não tive tempo de reler nada, mas isso me apaixonou tanto que eu não garanto, se eu achar as entrevistas em Genebra, que eu escreva o livro que eu queria, mas pelo menos um artigo para analisar isso.

O sonho

Eu vou terminar o último depoimento para ter tempo da gente fazer a conversa geral. O depoimento de uma mulher, que tinha um posto muito elevado, muito importante, no ministério da educação, também a mim me impressionou muito. Ela me disse que um dia o Cabral reuniu toda uma equipe diretora em Conacri, é exatamente a Guiné, Conacri, que se libertou do colonialismo francês antes da libertação. E lá o PAIGC tinha esse centro de capacitação, e um dia, me dizia essa depoente, numa reunião grande de avaliação do processo de luta, quando aparentemente estava concluindo a reunião, me disse ela que Cabral parou, fixou os olhos no teto da sala, e disse: “Agora me deixem pensar”. E começou a falar só.

Descrevendo o que seria a Guiné e o que seria Cabo Verde, após a independência. Chegou, inclusive, a pormenores administrativos, falava dos ministérios, dos departamentos, que se chamava comissariados, descreveu, perfilou o país, saindo da lama colonialista, e constituindo-se na continuidade da luta pela libertação, enquanto luta pela consolidação da libertação. E em certo momento, ele pára, olha para o grupo todo e um dos membros da equipe disse: “Camarada Cabral, mas isso é sonho”. E ele apontava esse sonho para um período imediato muito próximo. E aí me disse ela que Cabral deu uma resposta, dessas que eu fixei. E ele disse: “Sim, é sonho. Mas ai da revolução que não sonha. Ai dos revolucionários que não sonham. A questão que se coloca é apenas saber como lutam para viabilizar o sonho”.

Vocês vejam, isso de novo tem que ver com essa dimensão profética de Cabral, e com uma consciência muito lúcida, muito clara que ele tinha, da relação inquebrantável da prática e teoria, que ele jamais dicotomizou, só que nunca fez um discurso, verbalmente teórico, que dificultasse a compreensão do seu conteúdo por parte de seus camaradas de guerra, de luta.

Em Cabral e com Cabral

Em Cabral eu aprendi uma porção de coisas, digo em Cabral significando também com Cabral, eu aprendi muitas coisas. Eu confirmei outras coisas de que eu suspeitava, mas eu aprendi, por exemplo, uma coisa que é a necessidade que tem o educador progressista e o educador revolucionário.

Eu faço uma distinção muito rápida entre um e outro: para mim um educador progressista é aquele que trabalha numa sociedade burguesa de classe como a nossa, por exemplo, e tem o sonho que o transcende, que vai mais além de fazer a escola melhor, mas que é preciso fazer, porque ele sonha é mesmo com a transformação radical da sociedade burguesa, numa sociedade socialista. Esse para mim é um educador progressista.

O educador revolucionário é aquele que já se encontra situado histórica e socialmente, na sociedade, em processo, em um nível maior do processo atual. Vou dar um exemplo, eu acho que um de nós aqui é um educador progressista, e na Nicarágua um de nós seria um educador revolucionário. Talvez se pudesse dizer: -Paulo isso é um negócio tão acadêmico que não adianta. Eu também não dou muita atenção a essa distinção semântica.

Simplicidade e simplismo

Mas voltando ao que eu dizia, uma coisa que eu aprendi muito com Cabral, foi como um educador progressista precisa fazer-se simples, sem, porém, jamais virar simplista. Isso me parece fantástico. Pegue os textos de Cabral, e eles são realmente simples, mas não simplistas. Para mim o simplismo, é uma expressão fantástica, contundente do elitismo, é pior até do que o populismo, mas coincide muito com certas vocações populistas. Quer dizer, no fundo o simplismo é autoritário. O simplista é aquele que diz: como vou falar a essa gente que não é capaz de me entender. Então ele fala meias verdades, quartos de verdade, não são nem meias verdade, são pitadas de verdades.

Em Cabral a gente vê o contrário disso, o que Cabral faz é buscar, com simplicidade, falar do concreto seriamente. Depois dessa introdução em que eu digo a vocês, e repito, que não me sinto um especialista em Cabral, não me arrogo assim, mas que tenho uma enorme admiração por ele. Inclusive, eu tenho em nossa casa, uma foto de Cabral, é a única foto em que o vi em pé com um fuzil. Disseram-me em Bissau, que ele tinha horror àquela foto, por que era uma das únicas coisas, possivelmente negativas em Cabral. E que ele tinha raiva do tamanho dele, eu não sei até onde é verdade, mas dizem que ele era baixinho e que tinha uma raiva enorme do seu tamanho, sobretudo quando ele estava com um fuzil a tiracolo, aí a gente vê que ele era pequeno mesmo. Por causa dessa história da altura Cabral, eu vou ate me admitir o direito de ser medíocre e dizer um desses frasões bestas: Cabral era enorme por dentro.

A memória do que não vi: Cabral e Guevara

Mas eu fico aqui a me lembrar desses depoimentos, e se eu fosse um artista plástico, eu seria capaz de reproduzir o que eu tenho na memória do que eu não vi. O encontro de Cabral com Guevara na mata. Disse-me a pessoa que fez esse depoimento, que os dois ficaram parados, um diante do outro, profundamente atraídos um pelo outro. Depois se abraçaram. Possivelmente, aquele momento, em que dois homens enormes, sendo um baixo e o outro grandão, se encontraram, tenha sido o único em que Cabral não teve raiva do tamanho físico dele. É como se ele se completasse também fisicamente, com o que sobrava do tamanho físico de Guevara.

Mas é que na verdade os dois eram um para o outro iguais do ponto de vista da compreensão da luta. Não é por acaso que Guevara também não teve nenhum receio de falar em amor, com relação à revolução, ele ainda fez uma concessão, porque disse: “Ainda correndo risco de parecer ridículo, eu digo que não há revolução sem amor”. E depois tem aquela outra linda frase dele sobre a ternura: “É preciso endurecer sem jamais perder a ternura”. Não é por acaso que ele dizia isso e que Cabral dizia coisas parecidas.

No fundo, para mim, foram estes dois homens, as duas das maiores expressões deste século, e Guevara, também era um pedagogo da revolução, não era só um pedagogo revolucionário, tinha a mesma sensibilidade popular, sem ser populista. Ele se arrepiava também diante do povo, do povão, e ele sabia o que é que significava povo. Por exemplo, o Amílcar não tem também, nenhum receio de falar em povo. Ele sabe o que é que significa povo. Muito bem. Eu vim aqui muito mais para dar um depoimento também, depoimento sobre depoimentos, em torno dessa figura extraordinária, que é Amílcar Cabral.

PERGUNTA:

Para nós é uma emoção grande ver Paulo Freire, falando de Amílcar Cabral. Algumas perguntas já foram tratadas, mas de qualquer maneira a idéia seria explicar o processo histórico da Guiné Bissau e Cabo Verde, com suas diferenças, na busca da unidade. Como é que o senhor sentiu isso, como o senhor percebeu essa questão?

Exato, eu posso dizer a vocês como eu percebi. Um dia, logo no começo de minhas visitas a Cabo Verde e a Guiné Bissau, eu cheguei a perguntar a um dos ministros, se não seria mais fácil, por exemplo, um tipo de solidariedade política, um tipo de solidariedade cultural, de solidariedade econômica, entre os cinco países irmãos, mantendo cada um deles a sua autonomia administrativa, política etc. Por que me parecia que havia certos rasgos históricos e culturais entre as duas sociedades, me parecia difícil superar isso para ter um bloco só. A própria forma de experiência colonizadora que Portugal teve, os procedimentos colonizadores entre Cabo Verde e Guiné Bissau foram distintos.

A impressão que eu tenho é que o colonizador escolheu o arquipélago de Cabo Verde, para fabricar lá assimilados culturais, na sua grande maioria. Isso era o sonho dos portugueses e que não deu certo. Era essa a política para com a população mestiça mais para clara de que para escura de Cabo Verde. Lá foi formada a intelectualidade que teve uma chance que os outros não tiveram. Portugal pensava em tirar, e tirou de Cabo Verde, quadros, seus quadros necessários, quadros intermediários para a administração colonial nas outras colônias, ou nas chamadas províncias. Isso se deu durante longo tempo e esse fato marcava uma diferença, com relação às demais colônias.

De modo que eu via, por exemplo, uma maior facilidade, não sei se é bem a palavra, uma maior aplicação na época, das propostas Cabralianas em Cabo Verde, do que na Guiné, por exemplo, uma maior coerência, entre o que se dizia e entre e que se fazia. Eu achava meio difícil, e havia também uma certa ciumada, que eu não quero discutir se era correto ou não, de guineenses, e isso era aproveitado, do ponto de vista da direita, com relação a caboverdianos. O comissário Julinho Cavalho, sujeito extraordinário, tem uma clareza política, formidável, é um grande estrategista militar, com uma lucidez enorme. Mas Julinho era caboverdiano, e com a ruptura, com os acontecimentos de 79, quando o Luiz Cabral, o irmão de Amílcar, foi afastado, Julhinho foi para Cabo Verde, com outros mais. Como presidente então do partido.

Livro escrito e livro falado

No livro Por uma Pedagogia da Pergunta, nesse livro, quero explicar, eu comecei, eu comecei a falar livros e não apenas escrever livros. E um desses livros falados, eu falei em Genebra com um exilado chileno, muito amigo meu, que me substituiu no Conselho Mundial de Igrejas. E é um excelente intelectual, chamado Antônio Faundez. Eu gosto muito desse livro. Eu acho um livro sério, um livro afetivo também, as páginas que eu dedico à análise de como eu vi o exílio, a mim me satisfazem quando eu releio.

Mas há um momento para mim muito bonito do livro, que é o papo crítico de Faundez comigo, quando ele critica a atuação minha e de meus companheiros na 18 Guiné. E aí eu tento explicar essa questão da Língua Portuguesa. Evidentemente que nas Cartas a Guiné eu não deixei isso claro, e eu explico agora nesse livro por que não deixei. Mas uma das primeiras coisas que eu fiz quando escrevi ao Mário Cabral que não é irmão de Amílcar, que era o ministro da educação da época, foi exatamente sobre a questão da língua portuguesa, e isso eu disse em Cabo Verde,
de público até. Eu acho que, lingüisticamente é um absurdo, é uma inviabilidade ensinar o português na Guiné Bissau às massas populares, é uma inviabilidade política. Às vezes a inviabilidade não é política.

Vocês imaginem que se o Brasil fizesse uma revolução, vivesse uma revolução,e nos chegássemos aos camponeses brasileiros, e aos obreiros, aos operários brasileiros, e disséssemos o seguinte: – Olha, para revolução da gente avançar, nós vamos ter que alfabetizar agora, em espanhol. É a mesma coisa.

Mas eu me lembro que, na minha primeira consulta ao Mário Cabral, na minha primeira carta, nas Cartas a Guiné, eu faço uma referência a esse problema. Quando nós chegamos a Guiné, eu coloquei isso para equipes do ministério, e ele me disse que não, que havia um bilingüismo, e há mesmo em grande parte do Cabo Verde. Por exemplo, em Cabo Verde você pode alfabetizar em língua portuguesa sem violentar, eu não diria que é sem violentar, violenta um pouco, mas é possível fazer. Em São Tomé mais ainda, mais que na Guiné Bissau, em Angola, em Moçambique. Moçambique e Angola estão numa situação pior do que Cabo Verde, do que a Guiné.

Angola e Moçambique têm uma situação dramática, por que não criaram, não houve condições históricas sociais para criar uma língua como o crioulo. Não se criou o crioulo, em Angola nem em Moçambique, o que temos em Angola e Moçambique são as línguas nacionais etnos culturais, dos diferentes grupos. Existem trinta línguas, trinta e seis línguas, dezesseis línguas, eu compreendo as dificuldades. Politicamente não pode o MPLA nem a FRELIMO, por exemplo, chegar ao povo de Angola e de Moçambique e decretar que uma daquelas línguas seria a língua nacional. Fazer isso seria um desastre. Então a única saída política que tiveram, foi decorrente da inviabilidade lingüística. Fazer da língua do colonizador a língua cuja tarefa é a tarefa impossível de formar a sua infância e a sua mocidade,que é a língua estrangeira.

A língua do colonizador

Eu vou ler aqui e agora uma carta do livro Por uma pedagogia da pergunta.Quem não leu esse livre ainda, talvez nem precise comprar. Mas esse é um problema,esse é um grande desafio que as lideranças revolucionárias têm de enfrentar.Vocês vejam o seguinte, sem querer ser simplesmente o reducionista: No processo da independência, pode-se ter, grosso modo, duas possibilidades da linha política a ser implantada, com a chegada ao poder do grupo nacional. A primeira seria, por exemplo, a de, rompendo com o colonialismo, cair, porém, no colonialismo,que é colonialismo adocicado.

E tem mais, o neocolonialismo barateia as despesas do colonizador, ele gasta menos e lucra mais, por que ele não precisa necessariamente de manter um espaço ocupado por seus funcionários, a sua burocracia. Ele vai substituindo a sua burocracia pela nacional, pagando menos. Na postura neocolonialista, a língua do colonizador continua sendo absolutamente fundamental. Então, o colonizador faz tudo para reservação da sua língua, como presença de poder.

Eu não quero discutir aqui agora, uma série de conseqüências tão óbvias aí para nós. A outra opção política é a ruptura fundamental com o colonialista, e a partida para um tipo de sociedade independentizada. Meus amigos, o que isso significa para uma liderança lúcida? Eu digo nesse livro aqui, nos Diálogos, o que significa,por exemplo, grupos europeus, privados e públicos, de estados, chegando diariamente ao aeroporto de Bissau para trazer propostas de desenvolvimento. Em Cabo Verde era a mesma coisa, haviam propostas de desenvolvimento que não tinham na sua maioria, nada com o desenvolvimento, que interessasse aos povos independentes. É que interessava às agências, elas apanham inclusive as lideranças desexperimentadas.

Essas lideranças têm larga experiência de guerra de luta na selva, mas a experiência desse outro tipo, a diplomática, a discussão da economia, a compreensão do anejamento interessado ao povo, isso tudo tem que ser criado, inclusive o que custa a esses paises em termo da ajuda internacional.

Inclusive, nesse aspecto, eu sugiro que vocês chamassem aqui o Douglas um dia para discutir também África com vocês, do ponto de vista econômico e do desenvolvimento. Ele tem feito estudos extraordinários sobre esse assunto mostrando inclusive, quanto custa um expert das Nações Unidas, que não vai para Guiné Bissau, a não ser que lhe paguem sete mil dólares por mês, seis mil dólares. Porque um expert não é, necessariamente, um militante político, aliás por isso mesmo ele é um expert. Eu não estou sabotando ninguém, o cara merece ganhar o seu dinheiro, está certo. Mas o que significa isso do ponto de vista do país, isso mexe com a ecologia, com a política da região, são os hábitos dos brancos que chegam. Eu vi em Bissau padaria para fazer pão só para os experts brancos. O que isso tudo significa? Então é essa linha, não quero discutir aqui as dificuldades. A gente já sabe como não é fácil. Esse país daqui da gente, dizem, se idependentizou no dia sete de setembro 1822. Pois é, continua numa extraordinária dependência.

Faz pouco tempo que vinha aqui uma chilena, de vez em quando, dizer como é que devia ser a economia em Brasília, faz pouco tempo isso. Agora vocês imaginem o que é tudo isso, deste ponto de vista, portanto, da construção de uma autonomia,da independência, da identidade cultural.

Língua e identidade.

Obviamente que aí o problema da língua é absolutamente crucial, porque,vejam bem meus amigos, esse negócio de língua em primeiro lugar é uma abstração.Não sei se tem algum esperto aqui em lingüística, mas o que é concreto mesmo é a linguagem. Esse negócio de Língua Portuguesa, lingüística, isso é abstração,o concreto é a maneira como a gente fala, o discurso da gente, e esse é de classe. E esse é um discurso de classe, que está submetido a mudanças culturais de classe também, a influências etc. Agora vejam: o problema da linguagem vem diretamente com o erro da cultura ou da classe. Por isso é que uma das primeiras providências que o colonizador faz é tentar impor a sua linguagem sobre o colonizado.

É fantástico como o colonizado se defende, como ele se defende manhosamente contra,e vamos usar a língua para não dificultar muito, contra a língua estrangeira invasora e como ele se defende falando e mantendo a sua língua que o colonizador chama de puro bastardo dialeto. Por que o colonizado se convence de que se ele tem um momento de liberdade, este momento é aquele em que se expressa na sua forma de ser e de falar, que é a sua própria linguagem.

Ora, a questão da linguagem é fundamental. Eu me lembro de que uma das providências que o presidente Nyerere2 que acaba de deixar o governo da Tanzânia tomou foi a de escalonar a mudança do inglês para o suaíle3. Ele superou, no ano .“X”, o inglês na pré-escola, no outro ano ou dois anos depois, superou o inglês no primeiro grau. Até deve estar chegando agora para universidade. O Nyerere para mim é outro grande africano de quem eu discordo de vez em quando, mas para mim, é um dos grandes pedagogos deste século, não apenas na África, mas no mundo. Só que não é conhecido no Brasil, ele é conhecido nos países de língua inglesa.

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2 Julius Nyerere, presidente da Tanzânia.

3 Língua desse pais

Eu conversei muito com o Nyerere sobre essa questão de identidade cultural,e ele tinha a vantagem de falar brilhantemente, fantasticamente o suaíle e o inglês.Ele falava o inglês de Oxford, e um suaíle de Tanzânia. Então esse problema de língua deve ser uma preocupação central, fundamental, em qualquer processo de luta. Porque o problema da linguagem está dentro do programa da cultura. Há uma frase de Amílcar muito fantástica em que ele diz: a luta de libertação é um fato cultural e um fator de cultura. Só isso é um seminário de um semestre. Agora vejam que, dentro desse fato cultural, está a linguagem também. Então isso é,para mim, um ponto de partida, como preocupação.

Agora, evidentemente vocês não pensem que é fácil. Eu conversava com o ministro e dizia: Olha, é preciso ganhar esta luta, é preciso ganhar essa guerra. Sugerimos a ida para lá, isso tudo eu digo nesse livro, de lingüísticas com um grande conhecimento das línguas africanas e do crioulo. Hoje em dia, esta lá uma equipe de lingüística, segundo me disse e o Miguel, continuando a trabalhar.Mas não é fácil você pôr o crioulo, por exemplo, como língua nacional e língua de mediação da formação cultural e política do seu povo. Onde é que você vai buscar dinheiro e competência técnica e científica para traduzir todas as obras fundamentais que a Guiné não produziu ainda e que tem de ler, tem de estudar? Passar tudo isso da noite para o dia para o crioulo, com que dinheiro, tempo e com que competência?. Revolução não é brinquedo, é uma coisa muito séria, mas tudo isso tem que ser pensado.

Eu queria, em cinco minutos, ler a tal carta, que eu acho que esclarece muitas dessas coisas. Quando chegou o momento de nossa assessoria, e que eu vi que não dava, mas um ano e pouco depois de ter chegado lá, eu escrevi a carta ao ministro que eu vou ler. Não publiquei por uma questão política, uma questão de respeito,uma questão tática, hoje já é tempo de publicar. Então eis a carta4 a Mário Cabral de julho de 1977:

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4 Transcrita como foi lida.

Desde o primeiro momento em que começamos o nosso diálogo, através das primeiras cartas que lhe fiz, diálogo que não apenas continuou e se aprofundou,mas também se vem estendendo a outros camaradas, uma preocupação constante nos acompanhou. A de jamais nos vermos em nossa colaboração a Guiné e ao Cabo Verde, como espertos internacionais. Mas, pelo contrário, como militantes. Como camaradas engajando-nos, mais e mais no esforço comum de reconstrução nacional.

O que quero dizer com isso vou reafirmar: é que para nós não só individualmente,nós como equipe, seria impossível um tipo de colaboração em que funcionássemos como consultores técnicos desapaixonadamente. Assim, também, por outro lado, é que vocês todos nos receberam, assim também é que vocês entenderam desde o princípio a nossa presença aí. O que vocês queriam e esperavam de nós era o que buscávamos fazer e ser. Não tivesse havido essa coincidência e não raro, poderíamos ter sido tomados como impertinentes, num ou noutro momento do nosso trabalho em comum, quando o que sempre nos moveu foi e continua a ser, o nosso espírito de militância. É com esse mesmo espírito que (eu tenho uns amigos que dizem que eu nasci no Recife por acaso, eu deveria ter nascido em Minas Gerais, pela habilidade política.)

É com este mesmo espírito que lhe escrevo mais esta carta, carta que, embora escrita e assinada por mim, sumariza a posição de toda equipe e se constitui numa espécie de relatório meu, incompleto, de nossa última reunião em Genebra,em que tentamos um balanço das atividades a que estamos ligados na Guiné Bissau.Recordemos aqui, ainda que rapidamente, como necessidade didática alguns dos pontos, que juntos, o comissariado de educação e nós, vimos estabelecendo como fundamentais desde os começos de tais atividades:

a) A alfabetização de adultos como toda educação é um ato político, não podendo por isso mesmo ser reduzida ao puro aprendizado mecânico de leitura e de escrita.

b) O aprendizado da leitura e da escrita de textos, em coerência com a linha política do PAIGC, com a qual concordamos, implica a compreensão crítica do contexto social a que os textos se referem. Demanda a leitura da realidade, através da análise da prática social dos alfabetizandos, de que o ato produtivo é uma dimensão básica. Daí a impossibilidade de separar-se a alfabetização e a educação em geral,de produção, e por extensão necessária, da saúde.

c) A introdução da palavra escrita em áreas onde a memória social é exclusiva, ou preponderantemente oral, (isso é outro problema enorme na África),pressupõe transformações infra-estruturais capazes de tornar necessária a comunicação escrita. Daí a necessidade que se teve de estabelecer as áreas prioritárias para a alfabetização. Isto é, aquelas que estivessem sofrendo tais transformações ou por sofrê-las em curto prazo.

Tomando estes itens como campo de referência para análise do que foi possível fazer neste ano e pouco de experiências de que tanto temos aprendido, temos como resultado óbvio que o ponto central, o problema maior a ser pensado e discutido é o da língua. Em várias oportunidades, não somente em cartas, mas também em reuniões de trabalho aí, a questão da língua foi discutida. Debatemo-la no seio mesmo da comissão nacional, na sessão da sua instalação, e uma vez mais na última de suas reuniões, se não me equivoco.

Poucas não foram, por outro lado, as vezes em que tratamos este problema com os membros das comissões coordenadoras, da comissão coordenadora, voltando a ele aí em junho passado, em umas das reuniões que você presidiu, e de que Mário de Andrade participou (Mário de Andrade era uma espécie de ministro da cultura) juntamente com camaradas de outros setores do comissariado de educação. Reunião em que Marcos Arruda propôs um pequeno texto, algumas sugestões, a propósito.

Poderia finalmente citar ainda, a ultima conversa que tivemos com o camarada presidente, cujo núcleo principal foi a língua. Há um ano e pouco, se não estamos interpretando mal a política do governo, se pensava que seria viável a alfabetização em Língua Portuguesa, mesmo reconhecendo-se o crioulo como língua nacional. A razão radical para a alfabetização na língua estrangeira, era a inexistência, ainda, da disciplina escrita do crioulo, enquanto esta disciplina não fosse alcançada,pensava-se que não havia porque deixar o povo iletrado, os próprios resultados que se vinham obtendo com a alfabetização em Português no seios das FARPs reforçavam essa hipótese.(As FARPs são as Forças Armadas Revolucionárias Populares).

O que a prática, porém, vem evidenciando, é que o aprendizado da Língua Portuguesa, se dá mesmo com dificuldades, nos casos em que esta língua não se acha totalmente estranha à prática social dos alfabetizandos, o que é de resto óbvio. Este é exatamente o caso das FARPs, como de certos setores de atividades de centros urbanos como Bissau. Mas este não é o caso dos centros rurais do país, em que se encontra a maioria esmagadora da população nacional, em cuja prática sociala Língua Portuguesa inexiste.

Na verdade, a Língua Portuguesa não é a língua do povo da Guiné Bissau, não é por acaso que o camarada presidente se cansa, como nos afirmou, quando tem que falar por longo tempo em português, (isso ele me disse, o Cabral). O que se vem observando nas zonas rurais, apesar do alto nível do interesse e de motivação dos alfabetizandos e dos animadores culturais, é a impossibilidade do aprendizado de uma língua estrangeira, como se ela fosse nacional, de uma língua virtualmente desconhecida, pois que as populações durante os séculos de presença colonial,lutando por preservar sua identidade cultural, resistiram a ser tocados pela língua dominante, no que foram ajudadas, pela maneira como os colonizadores se comportaram, quanto a organização das forças produtivas do país.

O uso de suas línguas deve ter sido por muito tempo, um dos únicos instrumentos de luta de que dispunham. Não é de estranhar porque os próprios dominadores culturais destas mesmas zonas dominem precariamente o português. De estranhar seria que, em tais circunstâncias, o aprendizado da Língua Portuguesa, se estivesse dando mesmo razoavelmente apenas se há uma área, por exemplo, de cujo esforço de alfabetização, era legítimo esperar os melhores resultados. Esta área é Gorki. Eu falo muito nisso no outro livro. O centro Máximo Gorki integrando cada fez mais a vida das comunidades em torno dele, contando com professores efetivos e estagiários com alto nível de consciência política, tinha todas as condições necessárias para tornar-se um núcleo de apoio aos trabalhadores da alfabetização.

O que se observou, porém, ao longo da experiência e se comprovou em junho passado com a avaliação feita por Augusto e Marcos Arruda, é que os alfabetizandos,durante os longos meses de esforço, não conseguiram fazer outra coisa senão uma caminhada cansativa, em torno das palavras geradoras. Marchavam da primeira à quinta, na quinta haviam esquecido a terceira, voltava-se à terceira e se percebiam que haviam olvidado a primeira e a segunda. Por outro lado, ao procurarem criar palavras, com as combinações silábicas de que dispunham, raramente o faziam em português.

Eu mesmo tive a oportunidade de ver palavras portuguesas, mas cuja significação era outra completamente, pois era em macanha5 que pensavam. Um dia eu ouvi um sujeito fazer da-de-di-do-du, ele pegou dedo e disse dedo. Eu aí disse:”Elza, esse cara criou uma palavra”. Aí o animador me disse: “Não, isso daí é em macanha, significa não sei o que, mas a pronúncia era dedo”. A Língua Portuguesa, não tem nada que ver com a sua prática social. Na sua experiência cotidiana, não há um só momento sequer, em que a Língua Portuguesa se faça necessária. Nas conversas em família, nos encontros de vizinhos, no trabalho produtivo, nas compras do mercado, nas festas tradicionais, ao ouvir o camarada presidente, nas lembranças do passado, nestas, o que deve estar claro é que a Língua Portuguesa, é a língua dos tugas, de que se defende, de que se defenderam, durante todo o período colonial.

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5 http://www.didinho.org/aguinenocontextodospaisesdelinguaportuguesa.htm

Pode se argumentar que esta dificuldade no aprendizado se deve à inexistência de materiais de suporte. O que nos parece, porém, é que a falta desses materiais no sentido mais amplo possível poderia ser, em outras circunstâncias, a causa principal do fato, nesta é puramente adjetiva. O que quer dizer é que, mesmo dispondo de um bom material de ajuda, como o caderno de educação popular, os resultados seriam apenas pouco melhores. É que o caderno, enquanto material de suporte de ensino, é incapaz de superar a razão fundamental substantiva de dificuldade:a ausência da língua portuguesa na prática social do povo.

Na postura neocolonialista, a língua do colonizador continua sendo absolutamente fundamental. Então, o colonizador faz tudo para a preservação da sua língua,como presença de poder. Eu não quero discutir aqui agora, uma série de conseqüências tão óbvias aí para nós. A outra opção política é a ruptura fundamental com o colonialista, e a partida para um tipo de sociedade independentizada.

Eu sugiro que, quem tem esse livro, que leia essa carta inteira. O que eu chamava a atenção mais adiante também é sobre como no fundo, usar a Língua Portuguesa como língua mediadora da formação político, ideológico, científica, e técnica, do ex-colonizado, e usar a super estrutura, como fator determinante da divisão das classes sociais dentro do próprio corpo da revolução, o que é um paradoxo.Eu dizia ao ministro lá: Olha o que e que vai acontecer, bilíngües aqui, bilíngües exatos só os filhos de vocês, são os filhos dos ministros, os filhos de uma pequena burguesia, que mora no centro urbano. Por exemplo, você é bacanamente bilíngüe, mas possivelmente, e eu conheço um Cabo Verdiano que nem sequer falar o crioulo, só fala português.

Aí eu dizia pra eles: Olha, se continua isso desse jeito, o que vai acontecer? Pode-se dizer hoje que quem governará esse país dentro de vinte anos serão vocês. E onde é que está a participação das grandes massas camponeses deste país, no processo de reconstrução nacional e de criação de uma democracia popular. Onde?Eles não vão participar, exatamente porque vocês vão continuar através da escolarização,a fazer a seleção do poder. E obviamente que, entre o teu filho que é bilíngüe e o filho do camponês que não é bilíngüe, que só fala crioulo, a língua étnica deles, o que vai acontecer, é que na escolha o teu filho vai passar em cursos, sobretudo se os critérios de avaliação, continuam sendo critérios intelectualistas. Se a escola continua a avaliar a capacidade de saber da criança, pela decoreba da geografia e da história, e não introduz no processo avaliativo, a habilidade de ler o mundo, que a criança que não fala português tem, a sabedoria que ela ganhou também, e isso não vai entrar. O que vai acontecer então é que, só quem se aprova é quem, em primeiros lugares, é quem é bilíngüe. Aí eu posso dizer quem é que vai governar esse país.

Trabalho coletivo

Então, eu coloco isso aí, e aí eu faço no fim da carta duas ou três propostas. Eu faço, por exemplo, a análise de uma experiência brilhante que houve lá, de hortas coletivas, que começou com a alfabetização e suspendeu-se a alfabetização, e o ganho de aprendizado desse grupo, foi a descoberta do valor do trabalho coletivo, e não do ba-be-bi-bo-bu. Aí eu mostro, inclusive analiso a importância disso, e uma dessas cartas foi para lá em 77, e houve mudanças, o governo começou depois a aceitar o debate em torno disso, com muito mais abertura do que antes, e eu compreendia inclusive a dificuldade.

Um dia o próprio presidente me disse: – Camarada Paulo Freire, entre nós mesmos há aqueles que não aceitam o crioulo, acham não é língua, é um dialeto feio. Obviamente é porque a penetração da ideologia dominante é fortíssima, mesmo lutando, o sujeito ainda terminava aceitando o perfil de que sua cultura, e de sua história, e de si mesmo tinha feito pelo colonizador, e que, portanto, sua língua é feia e incompetente para expressar sua ciência, tecnologia e a arte.

E tem até um momentinho aqui que eu digo, no livro, que nenhum não há razão nenhuma para o português, o alemão e o francês, para falar só nessas três expressões de linguagem, ficarem ressentidos porque têm que usar a palavra stress,por exemplo. Não tem como traduzir stress, em qualquer deles tem-se dizer stress.

Língua e desenvolvimento tecnológico

O problema da evolução da linguagem está ligado diretamente ao desenvolvimento
das forças produtivas de qualquer sociedade. E o processo da tecnologização e da cientifização está ligado ao desenvolvimento das forças produtivas, ou então não se é bom marxista. Agora, o que é acontece, é que o desenvolvimento tecnológico Norte Americano, juntou a tradição do poder anterior, que era exatamente o poder econômico político do mundo da Inglaterra, seu poder econômico,tecnológico e político hoje, fazem da linguagem inglesa, de sua expressão. Por isso o Gilberto Freire disse há trinta anos atrás com outra intenção possivelmente, que o inglês é o latim moderno. Virou latim moderno, pelas plenas razões por que o latim antes foi o latim.

Então essa história de dizer que o crioulo não tem capacidade é uma balela,é reacionarismo, não é científico, é ideologia pura. Porque vem com qualquer outra linguagem, a capacidade de crescer e de se desenvolver. Qual é a língua hoje que não tem uma série enorme de introduções do inglês? Para mim o único deslize de Cabral é exatamente num texto dele, que eu tenho aqui, quando dele diz que o maior presente que os tugas deixaram, para ele, foi a língua”.

Língua e luta política

Sobre isso, no meu livro, escrevi assim: Uma das raras ingenuidades de Amílcar.Eu conversei sobre isso em Bissau, numa das minhas entrevistas. E dizia para as pessoas que eu não entendo como um sujeito que foi, tão rigoroso quanto Cabral foi e ao mesmo tempo tão manhoso, pode ter dito uma coisa dessas e a própria viúva dele me disse:– Camarada Paulo Freire, é preciso entender esse texto e o contexto histórico e social, em que ele o pronunciou. Essa questão é fundamental e hoje qualquer analista de Cabral terá que sublinhar isso, não pode passar despercebido. Mas o que me disseram lá foi o seguinte, é que na época em que Cabral fez essa afirmação, cabia essa análise, pois estava havendo um risco, na luta, de uma certa sectarização, que colocava os Cabo Verdianos e os Guineenses contra qualquer português, contra a cultura portuguesa, contra a linguagem portuguesa,contra tudo que fosse português.

E Cabral precisava cortar o risco de engrossamento dessa perspectiva, que para ele, e eu concordo, enfraqueceria a própria luta. E era no fundo uma ingenuidade,porque a questão do colonizado diante de cultura colonizadora, não é de negar, ou melhor, é a de negá-la dialéticamente, não é dizer que não tem nada nela que sirva, nisso Cabral era muito lúcido.

Nenhuma cultura pode ser avaliada como absolutamente ruim, ou absolutamente boa. Cultura é necessariamente diferente. Então o que você vai ter é que ver o que é que você pode fazer para aproveitar dos tugas, o que eles têm de positivo.Disseram-me que, foi nesse momento aí que Cabral fez essa afirmação. Por tanto,que essa firmação era tática. Agora, se eu fosse camarada dele naquele tempo,amigo eu diria: – Não publica isso, muda Cabral, mesmo com toda tática que tu tens que ter, tu tens outros caminhos de evitar a sectarização. Ele dizendo isto estava aceitando uma coisa absolutamente inexistente, que era a língua como puro instrumento. Então eu acho que, não foi só a tática não, eu acho que aí Amílcar errou. Mas é bacana você encontrar um baita de um erro num sujeito extraordinário como ele.

PERGUNTA:

Na experiência africana, a ciência tomada como argumento de luta em que medida
preservou o modo de pensar e explicar os fenômenos que não estão na pauta da
ciência contaminada pelo positivismo?

Esta é uma excelente pergunta. A impressão que eu tenho, você sabe que nas cartas a Guiné Bissau, em certo momento talvez até por pura intuição, uma coisa que eu acho que, eu sugeriria a quem gosta de estudar (parece até falta de modesta por minha parte), levar-se muito em consideração, esse negócio da adivinhação,esse negócio de sensibilidade, esse negócio da intuição, que não tem nada contra a rigorosidade científica. Mas, pelo contrário, tem que estar embutida na rigorosidade,no procedimento rigoroso com relação ao objeto. Por que afinal de contas,a rigorosidade está é na forma como você se aproxima do objeto.

O motor da história

Nas cartas a Guiné em certos momentos, eu toco nisso de raspão, digo que Amílcar lutava por uma compreensão científica, mas nunca cientificista da realidade.Segundo lugar, a minha impressão, a minha convicção, é a de que Amílcar estava muito longe dos critérios positivistas. Amílcar foi, para mim, um muito bom marxista, que fez uma leitura africana de Marx, não uma leitura alemã de Marx,nem uma leitura no século passado. Ele fez uma leitura deste século na África. Não é por outra coisa, que ele em plena Havana, no sério discurso que ele fez em Havana,ele rejeita aceitar, a afirmação de que a luta de classes é o motor na história. Ele nega isso em Havana, e ele diz no texto que não é propriamente a luta de classe,ele analisa historicamente o surgimento das classes, tecnicamente, marxistamente falando, e afirma que muito mais do que a classe é o modo de produção que se constitui em motor da história.

Eu tenho a impressão também que, do ponto de vista marxista, quando se fala na luta de classe, possivelmente não é apenas tomando classe no sentido mais técnico, mais exato. Antes mesmo do surgimento histórico das classes sociais, havia conflitos, já havia lutas de interesses contraditórios, de dominante e dominados. Mas Cabral colocava isso, com muita independência em Havana, e ele diz que, uma das razões para recusar a luta de classe como motor da história é que ele não poderia aceitar que a África não tivesse existência antes. E depois ele coloca outra questão. Ele coloca no fundo duas questões epistemológicas. Uma é essa. O que é que houve antes da luta, da resistência das classes, e o que é que vai haver depois? Aí ele disse: Será que se acaba a história? Essa segunda pergunta já me parece mais complexa. Será que com a revolução socialista no mundo, com a suplicação das classes antagônicas, etc, se acaba a história também? A revolução socialista seria o anúncio do fim? Se for eu prefiro até que não tenha. Eu gosto muito é da história mesmo.

Gramsci e Cabral

Então Cabral coloca essa questão, com muita independência. Mas o que eu acho é o seguinte, um homem como esse deveria ser estudado ao lado de um outro para mim extraordinário, que é o Gramsci. E eu não sei se Amílcar estudou Gramsci.

Ele não faz nenhuma referência a Gramsci não é por safadeza, não. Ele realmente parece que não leu Gramsci. As obras de Gramsci começaram a ser traduzidas quando ele estava brigando, já dentro do mato. Em Espanhol os primeiros livros de Gramsci, foram traduzidos, eu estava no exílio.

Agora vocês vejam como ambos se sensibilizam diante da cultura, sem, contudo,nem um nem outro, hipertrofiarem cultura. Mas o que ambos fizeram raticamente,um escreve na cadeia, preso atolado, pensando pra burro. O outro escreve no mato, por que a obra de Amílcar, não tenha dúvida, com algumas exceções, por exemplo, dos escritos de juventude, e aí ele foi muito mais poeta, ele escreveu no mato, ele escreveu, brigando. Havia talvez, duas espécies de texto os que ele escreveu para a briga na mata e os para a briga política dentro das Nações Unidas e nas Universidades. Por que, vocês vejam a genialidade desse homem, Amílcar Cabral dizia: – A luta da libertação é uma luta política, por um momento armado, e não ao contrário. Ele jamais disse: A luta de libertação é uma guerra com algumas pitadas de política. Por que tem gente que acha que não tem política nunca, só bala, e ele diz que é o contrário, é uma luta evidentemente política com momento armado.

Luta armada e luta política

E Cabral usou os dois momentos, ele viveu integralmente, a substantividade da luta. Por isso teorizou. Por que ele estava um dia numa mata daquelas de Bissau,dois dias depois, recebendo o título de Dr. Honoris Causa de uma universidade norte americana. E fazendo, ao receber o título de Dr. Honoris Causa, um discurso sobre a guerra de Cabo Verde e Guiné Bissau. Ia para as Nações Unidas lutar, a primeira grande vitória dele foi a política, eles conseguiram convencer as Nações Unidas, e as Nações Unidas convenceram o mundo de que eles eram um país invadido por Portugal.

As Nações Unidas foram lá, para dentro da mata, para decretar a independência, isso é um negócio extraordinário. Ali houve um negócio formidável, quem conscientizou o exército português, foram as perdas deles. Chegou o momento em que não teria havido mudanças em Portugal, a chamada Revolução dos Cravos, se não tivesse havido a guerra na África. Foram os Africanos nas suas matas, que transformaram e derrubaram a direita de Portugal. Foram eles. Chegou um momento em que o exército português, isso me era dito lá, quando os aviadores portugueses começaram a cair, porque antes eles vinham de helicópteros, e fuzilavam as crianças depois desciam, o que eu dito nas cartas à Guiné Bissau é verdade, o cara descia, e espetava a mulher grávida. Sacudiam o feto para cima e espetado na baioneta. Isso daí foi verdade, verdade.

Um dia o povo africano recebe os instrumentos soviéticos, que foram obtidos pela politicidade fantástica de Cabral que trabalhou bem junto a União Soviética nisso. E quando os portugueses vinham sobrevoando, cantarolando, eles danaram a derrubar os aviões. Aqueles meninos da geração que contei aqui.

Cada avião que passava caía, porque eles não erravam um tiro. Aí os pilotos não subiam mais, não queriam mais ir, aí tiveram que fazer a mudança interna de Portugal. Mas eu acho que, um cara como esse deveria ser estudado. Quer dizer,ao lado de um Gramsci. Qual é a diferença grande entre os dois? Amílcar morreu possivelmente mais velho do que ele, Gramsci, e teve o que Gramsci não teve, por que Amílcar teve “X” anos de guerra dentro do campo, dentro do mato, Gramsci não, Gramsci teve foi cadeia. Mas eu tenho uma convicção de que o estudo, o estudo isolado ou simultâneo de textos deles dois, tem uma importância enorme, deve ser feito por educadores, eu acho que uma das coisas que está fazendo falta aos educadores é exatamente essa compreensão da politicidade da educação e da pedagogia.

PERGUNTA:

Nós estamos tentando compreender Paulo Freire hoje, por isso nossa vontade de ouvi-lo falar sobre Amílcar Cabral. A pergunta é a seguinte: Como, hoje, Paulo Freire vê a viabilidade de aplicação de seu método de alfabetização:

a) como parte de um currículo de normalista,

b) em aplicação extra institucional

c) ou algum outro caminho?

Sem desrespeitar a sua pergunta de vocês eu daria uma volta seguinte: eu acho que essa pergunta tem que ver com as minhas experiências anteriores. Uma das coisas que eu acho piores nas pessoas é quando elas se arrepiam com qualquer tipo de crítica. Eu acho horrível isso. Ela fica de beicinho, choraminga, vai para o canto da sala. Eu só não sou obrigado a bater palmas. Agora, há um tipo de crítica que eu não aceito, por exemplo, tem gente que diz o seguinte: o Freire deu uma contribuição no seu tempo. Quer dizer, nos anos cinqüenta e nos anos sessenta. Ele me põe velhinho, como se eu tivesse com 95 anos de idade, calado há trinta. Aí, o cara analisa, então, a influência que Paulo Freire teve no seu tempo. E dizer então,que a importância que teve no seu tempo, me demite imediatamente do hoje em 1985, se eu acreditasse nisso eu iria para casa chorar, no ombro de Elza, minha filha me dá o teu ombro.

Fazer a escola

Eu me acho em 1985 tanto quanto tu, com uma vantagem mínima, e nunca você tem só a vantagem. A minha vantagem é da experiência anterior. A desvantagem é, possivelmente, um maior enraizamento teu, no hoje, do que o meu, o que é fundamental. Por isso é que os velhos são moços na medida em que se enraízam no tempo dos moços. Mas eu não quero dizer que eu tenho exatamente a sua idade,quanto à capacidade de me enraizar. Então é com esse jeito que eu vou te dizer.

Eu acho que tudo o que a gente possa fazer, como estudante e como intelectual, de um modo geral, estudante e professor, e um dia eu também espero que a gente diga como zelador de uma escola, porque o que está acontecendo é que o elitismo desse país é muito grande. A divisão de classe é um negócio terrível -, de tal maneira que, quando se pensa, quando um educador fala nos que fazem a escola,primeiro é machista por que não aceitam as mulheres fazendo a escola. Segundo é de classe, porque para eles só os educadores fazem a escola. Então, são os intelectuais os que fazem a escola. Para mim não, quem zela, essa moça que me trouxe um café faz a sua universidade também. É preciso ser respeitada.

Evidentemente, isso não significa que eu esteja aqui dizendo que essa moça que zela deve ser convidada para discutir que tipo de programa se vai implantar, o que se vai fazer na teoria da comunicação, de jeito nenhum, porque a esfera dela não é essa. E eu também não tenho que dar palpite de como ela melhor pode limpar uma xícara. Essa é a esfera de sua responsabilidade, que é tão bacana quanto a minha, de discutir o conteúdo de pedagogia. Mas eu acho que, isso faz parte de revolução que não esta aí ainda. Então eu acho que, tudo o que a gente pudesse fazer hoje aos que fazem a escola, no sentido de melhorá-la, de fazê-la menos ruim,da escola pública, a escola pública e livre, aberta realmente às classes trabalhadoras desse país, a gente devia fazer.

Tudo o que a gente pudesse fazer do ponto de vista, das condições materiais incluindo aí, então, a briga pelos salários dos educadores, pelos salários dos serventes,por tanto, pelos salários de quem faz a escola. Eu acho um absurdo que, a gente, professor, só briga para subir o da gente. É preciso brigar para subir o salário do zelador, e diminuir a distância entre o que a gente ganha e o que ele ganha. Não é demagogia não, é coragem de dizer isso. Agora, as condições materiais têm que ver com a sala, têm que ver com o salário do professor, o salário da moça que faz o café. A merenda tem que ver com o quadro-negro, com materiais didáticos,tem que ver com a competência de quem faz a escola, a competência científica.

Mas sendo científica e técnica, essa competência é necessariamente política também,por que admitir uma separação entre uma e outra, é absolutamente ingênuo e antidialético. Não há competência técnica que já não seja política. É preciso saber a serviço de quem eu sou um homem bom técnico, e essa pergunta me leva a uma resposta de caráter político, a opções políticas. É preciso saber buscar uma escola melhor, do ponto de vista de quê? Porque não há uma escola melhor do que ela mesma.

É preciso saber que escola pública pode ser melhor, e eu estou querendo, nós estamos querendo. Isso não é possível saber se nós nos situarmos no ponto de vista dos interesses populares ou não. Quer dizer, é preciso saber se a escola pública melhor que eu quero e essa que continua eficientemente expulsando as classes populares de dentro dela. Se a escola pública que eu estou querendo é essa que está fechada a esses oito milhões de meninos, ou se pelo contrário, a escola pública que eu quero é aquela onde se vai lutar para ampliar as suas portas, e não janelas, para entrada das classes trabalhadoras dentro dela. ´

Mas essa escola pública melhor, não é só uma questão de quantidade, se bem que a gente sabe que a quantidade termina guiando, provocando uma mudança de qualidade. Mas é preciso também começar a ver, o que eu chamo de capacitação permanente, de quem faz a escola, e de como trabalhar e orientar esse tipo de esforço de formação permanente. Mas isso também tem que ver, e é político isso, com a questão do conhecimento. Quer dizer, como conhecer bem essa escola que se pretende melhor ou menos ruim. Isso significa discutir, debater o papel do educador, o papel do educando.

A escola democrática

Tem muita gente que, equivocadamente, pensa que toda discussão que você faça em torno da relação, com toda crítica que você faça, às relações entre o educador e o educando são escolanovismo, isso é baitamente ingênuo, não é? O que é escolanovismo é criticar apenas a escola burguesa ou a escola que se dá dentro, ou as relações que se dão dentro de uma escola burguesa, sem ultrapassar os seus limites. Toda prática educativa gira em torno de conteúdos e de objetos de conhecimento,porque todo ato educativo é um ato gnosiológico. Então, admitir uma prática educativa onde não houvesse conteúdo, é absolutamente um absurdo.

A questão fundamental substantiva, não é se há ou não há conteúdos porque isso é óbvio,a questão é saber conteúdos a favor de quem e de quê. Portanto, a questão é metodológica do ato de conhecer conteúdo. Essa é a questão substantiva que se esconde,do ponto de vista autoritário.

Obviamente que há meia dúzia de iluminados que decretam o que deve a geração futura saber. Do ponto de vista da substantivamente democrática o educador não se omita na escolha e na delimitação dos campos de conteúdos, mas em lugar de fazer ele só isso, ele fala ao educando sobre os conteúdos, falando com ele. Aí é que está a diferença.

Então eu acho que, hoje vivemos no Brasil, objetivamente, um clima em que há todo um esforço no sentido de fazer coincidir a experiência dentro da intimidade da escola com o que está havendo lá fora, como as greves, por exemplo. Os bancários chegaram a uma greve agora extraordinária, em que eles souberam colocar, provar para o povo, que eles pediam, discutiam e sabiam se organizar. E é engraçado como algumas vozes faziam apelos para que os bancários fossem patriotas,desistindo de lutar, enquanto que aos banqueiros não precisa se pedir nada, porque já se supõe que eles sejam patriotas porque são banqueiros.

Então, vocês vejam o movimento das chamadas diretas já, as massas que vieram as ruas, às praças desse país, a própria morte do Presidente Tancredo Neves,a tomada do seu corpo pelas massas populares. Isso tudo tem que ver com a escola, isso está no clima histórico social dessa sociedade. Eu acho que uma sociedade,cujas ruas se encheram com um milhão e setecentos mil, só em São Paulo,de gente defendendo as diretas já, devia ter uma escola que corresponda a isso, mais democrática, mais aberta. Nesse sentido, veja bem, nunca licenciosa, a questão que se coloca não é da licenciosidade, não é a do espontaneísmo, mas também não é a da manipulação e nem a do autoritarismo. Eu digo também nesse livrinho que o espontaneísmo não tem o seu contrário positivo no autoritarismo, e viceversa.Eu acho que, o corpo da pergunta de vocês está ai. A questão não é a do método do ba-bé-bi-bó-bu, a questão é dessa visão epistemológica, politizada da prática educativa, num caminho democrático e não democratista.

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Brasília, 12/11/85
MJMG/spp

CDU: 12 C117
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i O PAIGC é um partido criado na Guiné Bissau, a 19 de Setembro de 1959. Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Júlio de Almeida, Fernando Fortes e Elisée Turpin criam o Partido Africano da Independência/União dos Povos da Guiné e Cabo Verde. Criado clandestinamente, que acaba por se legalizar quatro anos mais tarde,quando foi sediada em Guiné Conacri, antes disso era um partido clandestino na Guiné Bissau angariando partidarios. Em Novembro de 1957 os fundadores do (PAIGC) participam em Paris numa reunião para o desenvolvimento da luta contra o colonialismo português,uma luta que era apoiada por anti-colonialistas em Lisboa, Em Accra num encontro pan africano vão a caminho de Luanda quando ocorre o massacre de Pidjiguiti. Em janeiro de 1960 vão à Segunda Conferência dos povos africanos, em Tunis, em maio estão em Conacri. Ainda neste ano, em Londres, denuncia se, numa conferência internacional,pela primeira vez, o colonialismo português. Em 1960 e 1962, começa a formação de militantes quadros de expansão para o interior da Guiné Bissau e pedidos de apoio aos países limítrofes. A Republica Popular da China dá o primeiro passo, recebendo Amilcar Cabral e alguns milítantes dando lhes preparação e formação ideológica. Em 1961 o Reino de Marrocos lhes dá apoio idêntico. e só em 1962 da se a luta contra a armada Portuguesa. Durante todos os anos de luta, sublinha se com ênfase que a luta do PAIGC não é contra o povo português. O combate é, exclusivamente, contra o sistema colonial.
(Extraído de texto da wikpédia.org/wiki/PAIGC)
Site do partido: www.paigc.org

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