Angolanos preocupados com falta de qualidade do processo educativo

Aumentar a escolaridade e o número de alunos nas escolas

Por Agostinho Gayeta no Voa Portugues

Imagem: Aleksandra Pawloff (Courtesy Photo)

A falta de qualidade do processo educativo em Angola é uma preocupação muito generalizada e o esforço para aumentar a escolaridade e o número de alunos nas escolas não corresponde a uma oportunidade efectiva para que estes possam adquirir as competências necessárias para se inserirem no mundo do trabalho e para a vida.

As disfuncionalidades no sistema educativo angolano comprometem grandemente o presente e o futuro do país.

Esta é uma das conclusões saídas da V Semana Social Nacional realizada pelo Mosaiko Instituto para Cidadania e pela Ceast, que terminou a 31 de Janeiro. “Igualdade de oportunidades” foi o tema central do encontro;

Covidado a reflectir sobre a importância da educação para a igualdde de oportunidades, o Coordenador da Rede de Educação para Todos até 2015 defendeu uma educação baseada na liberdade, na democracia e na cidadania.

Vitor Barbosa pensa que, enquanto Estado Democrático e de Direito comprometido com a dignidade da pessoa humana, Angola deve ter sempre em conta a busca da justiça social.

O padre Martinho Lazarte, Salesiano de Congregação Dom Bosco, chamou  atenção para a gravidade do fenómeno do analfabetismo no país, cujas iniciativas governamentais para reduzi-lo têm encontrado algumas dificuldades em zonas recônditas de Angola.

O sacerdote apelou, por outro lado, para o problema da falta de comprometimento com a educação e a instrumentalização do programa com fins clientelistas e partidários que marcaram o início da efectivação do projecto de alfabetização. Esta situação é considerada pelo sacerdote como um bloqueio ao desenolvimento.

A alfabetização tem a ver com aquisição e uso de habilidades de leitura e escrita, além de cálculos matemáticos e com o desenvolvimento da cidadania activa.

Vitor Barbosa, da Rede Angolana de Educação para Todos até 2015, reprova a ideia segundo a qual os alfabetizandos “devem aprender apenas a ler os manuais”.

Para ele é preciso que saibam, além de ler e escrever, usar os seus conhecimentos para dar resposta aos desafios da comunidade.

Um sistema educativo que pretenda estender-se por toda parte sem recursos humanos competentes se não estiverem resolvidos os problemas de básicos do ensino primário está a erguer-se a estátua da visão do profeta Daniel.

“Uma estátua com cabeça de ouro, mas com pês de barros, que derrubará o futuro da nação e de milhões de jovens”, disse o padre.

O religioso entende que o surgimento de universidades em todas as províncias de Angola causa dúvidas sobre “a preocupação com uma imagem de prestígio e não com o desenvolvimento”.

Para o sacerdote é urgente a potenciação e a valorização do ensino primário, remunerando condignamente os melhores professores capazes de criarem as bases suficinetes aos alunos para as etapas subsequentes.

O salesiano de Dom Bosco aponta a introdução de classes de transição e a monodocência como fraquezas do actual sistema de ensino que, na sua visão, foi efectivada sem uma consulta alargada.

A educação informal desempenha um papel preponderante, por isso as políticas públicas da educação devem envolver todos os recursos disponíveis e a comunicação social assume um papel de destaque.

Ao falar sobre algumas políticas públicas de educação relacionadas com a igualdade de oportunidades, Vitor Barbosa defendeu que as políticas do sector educativo devem corresponder ao tipo de Estado que é Democrático e de Direito, contribuindo para que os cidadãos conheçam os seus direitos e deveres e particpam activa e conscientemente.

O coordenador da Rede de Educação para Todos até 2015 entende que o facto da educação ser um direito humano o seu principal responsável para a sua garantia deve ser o Estado.

Barbosa pensa, por outro lado, que cabe ao Estado investir na primeira infância para que a partir da tenra idade os cidadãos começam a realizar actividades que resultam no seu desenvolvimento físico e psicomotor, incluindo competências linguísticas básicas. Isto na visão do activista contribui para uma sociedade mais inclusiva e justa.

Para o padre Martinho Lazarte, o investimento económico na educação elevará a escolrização e diminuirá o analfabetismo dando maior qualidade educativa generalizada, para além de desenvolver a pesquisa o que pode tornar o país mais autónomo e maduro.

O coordenador da Rede de Educação para Todos até 2015 defende que a educação deve “combater a cultura do medo e do silêncio e estimular a cultura do diálogo”.

Para Vitor Barbosa “uma boa educação para o exercício da cidadania baseada nos direitos humanos leva o cidadão a sentir-se indignado perante qualquer acto de injustiça ou de inclusão e mobiliza o seu saber e as suas acções para dar a suamodesta contribuição para combater”.

A abertura oficial do ano lectivo 2015 foi feita a 2 de Fevereiro pelo vice-presidente da República Manuel Domingos Vicente.

O acto teve lugar no Município do Soyo, província do Zaire dois dias depois do término da V Semana Social Nacional onde os participantes concluiram que :Só uma maior igualdade no acesso efectivo às oportunidades poderá possibilitar um crescimento equilibrado e sustentável de Angola.

É importante fazer um diagnóstico social participativo, sério e profundo para a identificação das preocupações e necessidades reais e sentidas pelas comunidades e das suas propostas para superar as dificuldades que enfrentam.

+ sobre o tema

Bolsista do ProUni convida Lula para festa de formatura

A estudante de jornalismo Rita Correa Garrido, de 26...

UNEafro abre inscrições para cursinho

UNEafro abre inscrições para cursinho VAGAS ABERTAS 2017 Você quer ser...

Universitários brasileiros são brancos, moram com os pais e estudam pouco

Pesquisa traçou perfil do estudante que cursa os últimos...

Como a Academia se vale da pobreza, da opressão e da dor para sua masturbação intelectual

Texto originalmente publicado em RaceBaitR como “How Academia Uses...

para lembrar

Obra infanto-juvenil em inglês aborda preconceito racial

Lançamento do livro “The Black Butterfly” (A borboleta Preta), de...

Educação física, arte, sociologia e filosofia ficam no Ensino Médio

A Câmara dos Deputados decidiu incluir na reforma do...

Nova Zelândia oferece bolsas de estudo para brasileiros; veja como participar

Quem sempre teve o sonho de estudar no exterior,...

A crítica de Marcien Towa às doutrinas de identidade africana

O presente trabalho propõe tematizar a crítica que o...
spot_imgspot_img

Faculdade de Educação da UFRJ tem primeira mulher negra como diretora

Neste ano, a Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tem a primeira mulher negra como diretora. A professora Ana...

O que a proibição de livros nos diz sobre o futuro que nos aguarda

Reportagem da Agência Pública mostrou que existe um movimento coordenado para barrar a entrada de determinados livros no sistema prisional de Minas Gerais. Apenas títulos...

Encontro anual do SETA definiu ações e estratégias para uma educação antirracistae emancipatória.

Geledés - Instituto da Mulher Negra participou do planejamento anual Projeto SETA  (Sistema de Educação Por Uma Transformação Antirracista) em Paraty, Rio de Janeiro....
-+=