“Angú Incubado” Por: Zulu Araujo

Para quem não sabe, Angu é uma comida típica da culinária afro brasileira. A palavra de originária do idioma fon – Àgun (África Ocidental-Congo) referia-se, antigamente, a uma papa de inhame sem tempero, muito comum naquela região africana. No Brasil e em particular na Bahia ganhou sobreme (incubado) pois esconde uma série de iguarias no seu interior, tais como pedaços de carne, frango, lingua, miúdos do boi, etc e é preparado geralmente com fubá (farinha de milho) ou farinha de mandioca. É muito apreciado no nordeste brasileiro e além de saboreado, sua nomenclatura é utilizada para mil e umas ironias, pois nunca aparenta o que é.

Por Zulu Araujo no log do Zulu

Foto: Margarida Neide/ A Tarde

É mais ou menos assim que anda a política brasileira no momento – um verdadeiro angu incubado. Os sinais de que nada é o que parece ser começaram a surgir em junho, quando milhões de jovens foram para as ruas, aparentemente sem razões objetivas, gritando slogans anti tudo, chutando lixeiras reais e simbólicas e execrando a tudo isto que aí está . Até hoje, passados alguns meses da esbórnia de cidadania, nenhum intelectual, político ou cientista social conseguiu encontrar uma razão lógica para aquela explosão. O governo se assustou, o parlamento ídem, a grande mídia como sempre tentou manipular o fenomeno a seus interesses inconfessáveis, mas o fato é que as razões que levaram a esta indignação coletiva não está nem de longe resolvida e ninguém sabe o que vem por aí. O Governo tenta fazer cara de paisagem colocando a culpa no Congresso, o Congresso tenta maquiar fazendo reforminhas inconsequentes ou aprovando projetos absolutamente inócuos e o povão de olho, melhor dizendo, olhando de soslaio, “com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”, ou as eleições.

Outro sinal inquietante, ao menos para os governantes de plantão, é a movimentação de Marina Silva, na sua luta desesperada para ter um partido que possa chamar de seu e que pavimente seu vôo rumo ao planalto. Em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, Marina é vista ora como um fenomeno, ora como um assombro, tanto à direita como à esquerda, mas em verdade ninguém sabe o que pode vir a ocorrer nas eleições que se avizinham. Já pensou se o eleitorado resolve brindá-la com um mandato presidencial ? Vai ser um deus nos acuda, pois verdadeiramente ela é um ponto fora da curva e ninguém sabe o que pode vir a dar.

Neste cenário já meio conturbado, surge agora, com força e determinação a candidatura de Eduardo Campos, cujo partido, o PSB acaba de sair do governo, fazendo um esforço enorme para manter uma relação civilizada com o PT que não tem ajudado em nada neste sentido. Esta postura ousada dos socialistas pode fazer estragos monumentais tanto na campanha petista quanto na tucana, se o povão tomar gosto por esta ousadia, no mínimo, poderemos imaginar, um segundo turno eletrizante. É bem verdade, que os socialistas vão enfrentar um jogo pesado tanto do governo, cujo pior dos mundos seria enfrentá-los num segundo turno quanto dos tucanos que não pretendem abrir mão do seu pseudo lugar cativo neste espaço.

Mas, apesar de todas estas variáveis, incógnitas e cenários tão distintos, há uma dúvida atroz – pra onde vai a classe média brasileira ? É perceptível que este imenso contingente de eleitores está insatisfeito, indignado e muitas vezes irado, mas ninguém sabe, com certeza que rumo ele vai tomar. E quando esta definição vier, se vier, poderá definir os rumos do Brasil para o século XXI. Não é à toa que todo mundo está querendo se posicionar na cabeceira da pista para não perder a oportunidade, por menor que seja. Ninguém está afim de ficar aguardando a fila andar, (como se fosse uma profecia divina). E quem não se tocar e ficar esperando a generosidade alheia vai ficar pelo caminho choramingando.

Enfim, parece ou não, um angu incubado, essa próxima eleição ?

Axé !

Toca a zabumba que a terra é nossa !

 

 

Fonte: Terra

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