Antiautoajuda para 2015

Em defesa do mal-estar para nos salvar de uma vida morta e de um planeta hostil. Chega de viver no modo avião

Por  ELIANE BRUM no El Pais

Não tenho certeza se esse ano vai acabar. Tenho uma convicção crescente de que os anos não acabam mais. Não há mais aquela zona de transição e a troca de calendário, assim como de agendas, é só mais uma convenção que, se é que um dia teve sentido, reencena-se agora apenas como gesto esvaziado. Menos a celebração de uma vida que se repactua, individual e coletivamente, mais como farsa. E talvez, pelo menos no Brasil, poderíamos já afirmar que 2013 começou em junho e não em janeiro, junto com as manifestações, e continua até hoje. Mas esse é um tema para outra coluna, ainda por ser escrita. O que me interessa aqui é que nossos rituais de fim e começo giram cada vez mais em falso, e não apenas porque há muito foram apropriados pelo mercado. Há algo maior, menos fácil de perceber, mas nem por isso menos dolorosamente presente. Algo que pressentimos, mas temos dificuldade de nomear. Algo que nos assusta, ou pelo menos assusta a muitos. E, por nos assustar, em vez de nos despertar, anestesia. Talvez para uma época de anos que, de tão acelerados, não terminam mais, o mais indicado seja não resoluções de ano-novo nem manuais sobre ser feliz ou bem sucedido, mas antiautoajuda.

Continue lendo aqui 

+ sobre o tema

O Brasil deveria comercializar o que tem de melhor: o seu povo

Ouvi no rádio um moço – que falava muito...

Em carta a Dilma, MPL lembra de índios e pede diálogo com movimentos sociais

Convidado para reunião com a presidenta, Passe Livre pediu...

Movimento negro cobra auxílio emergencial de R$ 600 e vacina para todos pelo SUS

Nesta quinta feira (18), a Coalizão Negra por Direitos,...

para lembrar

Meu filho, você não merece nada – Por: ELIANE BRUM

A crença de que a felicidade é um direito...

Bolsonaro e a autoverdade

Como a valorização do ato de dizer, mais do...

É possível morrer depois da internet? – Por: Eliane Brum

Com sua festejada “vitória” sobre o Google, o espanhol...

1500, o ano que não terminou

Quem chorou por Vitor, o bebê indígena assassinado com...

Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”

A linha de tempo mais macabra da história da saúde pública do Brasil emerge da pesquisa das normas produzidas pelo Governo de Jair Messias...

“A pandemia expôs o apartheid não oficial do Brasil em toda a sua brutalidade”. Entrevista com Eliane Brum

O Brasil vive o caos sobre o caos. Em pouco mais de um mês, a Covid-19 fez mais de três mil mortes e o...

“O ódio deitou no meu divã”

“O ódio deitou no meu divã”. Relatos de psicanalistas revelam a violência que cresce e se infiltra no Brasil com a possibilidade de Jair...
-+=