Arion, o menino loiro mascote dos V Jogos Olímpicos Militares

Arion foi o nome escolhido em votação aberta por mais de 41 mil votantes para o símbolo do V Jogos Olímpicos Militares que será realizado no Rio de Janeiro de 16 a 24 de julho de 2011.

Arion é um deus da mitologia grega, poeta e cantor representado com uma cítara e golfinhos que fazem alusão à sua fuga de uma trama de morte num navio e que entoando cantos chamou golfinhos que permitiram sua fuga montado num deles.

O mascote do V Jogos Olímpicos Militares foi criado pelo cartunista Maurício de Souza e faz alusão à paz com uma pomba branca na camiseta do personagem que tem uma capacete em forma de chama – um símbolo tradicional dos Jogos Olímpicos.

Chama a atenção na figura do mascote dos Jogos Olímpicos Militares o fato de que sua imagem sugere um menino loiro. Esta imagem apesar de nos sugerir a uma associação com ariano não possui qualquer ligação semântica com Arion. A possível associação é mesmo um jogo de sentido que busca criar uma percepção subliminar bem ao gosto de outros jogos como os jogos de guerra praticados em simulações cotidianas em tempos de paz como os psicológicos, de propaganda que tem como lógica a guerra. Como a lógica da guerra presume um inimigo e aí convivem as lógicas do domínio e do extermínio, pode-se presumir que o inimigo é a cor do corpo negro. Em tese, isso é uma manifestação da subjetivação de um grupo minoritário formado pelas teorias eugenistas de Monteiro Lobato. Não prática não podemos presumir as Forças Armadas brasileiras promovam objetivamente uma política psicológica de extermínio da população negra ou do rebaixamento de sua auto estima por exercício deliberado de mentes tão perveras e corruptas.

Contudo, a imagem do mascote Arion induz a nossa percepção a estas associações pela sugestão que a palavra ariano possui no senso comum. O significado que predomina de ariano foi dado pelo nazismo designando-os arianos como raça superior, justificando e promovendo seu ideal de raça branca pura, superior e bela e ao mesmo tempo executando o extermínio de populações diferentes desse seu ideal.

Na sociedade brasileira a idéia de raça permanece presente sendo cotidianamente associada a força, energia, habilidade e superioridade especialmente no jargão esportivo, por isso, o menino loiro como símbolo dos Jogos Olímpicos Militares é um contrasenso. A escolha do símbolo Arion feita através de votação em meio a esta turbulência de significados e ambiguidade de sentidos também sugere a baixa auto estima da imagem do brasileiro. O segundo nome mais votado – quase a metade dos votos dados a Arion – era Turi que sugere Tupi e que significa tocha em tupi-guarani, aqui o símbolo lembra diretamente os povos indígenas e o mito do índio como povo original da terra. A terceira opção menos votada foi Super Pax que quer dizer, Super Paz mas que possui outros significados no contexto dos jogos militares, nesse caso, as associações possíveis nos conduzem ao seu contrário, a guerra. A maior “guerra” oferecida pela mídia e praticada cotidianamente é aquela que ocorre na periferia e especialmente nas favelas entre a polícia militar e o crime especialmente no “território inimigo” localizado nas favelas onde atualmente se executam as políticas de pacificação. Super Pax, carregaria assim uma pequena constelação de significados associados à periferia e por extensão ao negro, ao povo pobre, ao favelado, a outra nação. Desse modo, o jogo de significados recolocou o mito de fundação da nacionalidade brasileira na sua forma original composta por brancos/arianos, índios e negros.

Segundo a organização dos Jogos as três opções de nomes apresentadas foram selecionadas a partir de uma pesquisa que pretendeu apresentar um nome que expressasse os valores e pontos fortes das Forças Armadas: Probidade, Abnegação, Patriotismo, Veracidade, Imparcialidade e a Imagem Soldado Herói. Diante do resultado da votação é possível concluir que, a escolha por votação do nome Arion exprime uma percepção popular muito baixa da sociedade brasileira relativamente à sua autorepresentação. Além do mais é totalmente descabido imaginar que o símbolo com a imagem de um garoto loiro esteja isenta destes elementos de significação apontados e que provocam este sentimento de rejeição pela cor negra como um símbolo de nacionalidade e da diversidade do povo brasileiro.

Na medida em que ainda somos um país em busca de imagens de sua nacionalidade e de afirmação de identidade, isso, hoje ressaltado pela necessidade de projetar-se o país internacionalmente para grandes eventos internacionais com uma imagem forte de “nação desenvolvida” é risível que se consagre mais uma vez esta imagem equivocada de país colonizado com vergonha da cara de seu povo.

 

Fonte: Atabaqueblog

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