Ato antiestupro alcança 11 mi de usuários e faz leitoras enviarem relato

por Alexandre Orrico

Bastou pouco mais de um dia para que uma foto enviada pela leitora e estudante Bianca Medeiros, 19, se tornasse a imagem mais visualizada e compartilhada nos quatro anos da página da Folha no Facebook.

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Ela foi feita na semana passada, em apoio ao protesto virtual “Eu não mereço ser estuprada” -e incentivou que dezenas de fotos com teor semelhante fossem mandadas. Bianca diz que a iniciativa foi para que a manifestação “não perdesse força”.

“O dedo é um gesto de protesto contra os 65%”, afirma a estudante, em referência à pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que deu origem ao ato virtual ao apontar que dois terços dos brasileiros acham que a mulher que mostra seu corpo merece ser atacada.

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Após postada no Facebook, a imagem de Bianca alcançou quase 11 milhões de usuários. Três leitoras, motivadas pela postagem, decidiram revirar um passado já sepultado e enviar relatos de abuso sexual.

Mexer em uma ferida profunda, ainda que em anonimato para proteger parentes da exposição, tem um motivo claro para todas: compartilhar experiências para que abusos sejam denunciados e traumas sejam superados.

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Tatiana*, 30, analista de atendimento

Tatiana foi abusada sexualmente por um tio quando tinha só 9 anos. Agora consegue falar sobre isso e espera que seu relato, enviado pelo Facebook da Folha, dê forças para pessoas que sofreram a mesma situação.

Escrevo de forma anônima porque eu não tenho a intenção de chocar minha família e meus amigos. Mas eu sinto que é o momento de falar, abraçar a causa. Aproveitar que hoje, graças a Deus e a alguns anos de terapia, eu consigo falar sobre o assunto sem me magoar. Consigo fazer sexo de forma natural.

Para e pensa: eu tinha só 9 anos. A primeira vez que aconteceu eu estava de saia -eu sempre estava de saia! Será que por esse motivo eu estava pedindo? Não, eu não estava pedindo.

Eu confiava naquela pessoa. Era meu tio. Acreditava quando ele me tocava intimamente e dizia que aquilo era só carinho. Eu não gostava, não queria, sentia nojo quando, além dos dedos, ele usava a língua nas minhas partes íntimas dizendo que aquilo era carinho. Eu tive febre, vomitei, senti nojo e me calei. Tinha medo e vergonha. Não tenho mais.

Comecei a namorar aos 22 anos e só aí me senti preparada para me relacionar sexualmente. Roupa não dita caráter e muito menos desejo sexual. Meu corpo é meu templo e só eu decido com quem eu quero transar -eu estando de burca ou pelada.

Pense na sua mãe, nas suas irmãs, filhas e sobrinhas. Alguma mulher da sua família pode, neste momento, estar sendo abusada, molestada, estuprada e sofrendo calada. Não, eu não pedi. Não, eu não quis. Não, eu não tive culpa.

Joana*, 22, decoradora

A culpa não é nossa! A culpa é dos nojentos aos montes passando por nós o tempo todo. Estou impressionada com tantas mulheres que, indignadas como eu, estão se abrindo. E quer saber? Já é hora. Se temos alguma culpa é a de nos calar, por medo ou vergonha.

Sim eu também já fui abusada, há dois anos. E de onde eu menos esperava -dentro da minha própria casa.

Não fui estuprada, graças à Deus. Mas foi uma tentativa. Um abuso muito maior do que levar uma cantada indecente na rua ou uma passada de mão na balada -que muitos não imaginam o quanto isso também é desagradável.

Isso deixou marcas profundas que supero um pouco todos os dias.

Sabe o que eu mais ouço? “Mas você estava de roupa curta?” A resposta é não, estava de calça e casaco. E mesmo que eu estivesse, não justifica.

Muitos dizem que o homem é assim mesmo, movido pelo instinto. Instinto é o caramba, somos todos seres racionais.

Digo isso tudo hoje por acreditar que esse seja o primeiro passo para acabarmos com os absurdos que acontecem todos os dias embaixo do nosso nariz e a maioria ignora. Você não imagina que conhece muito mais mulheres que já viveram muitos tipos de abuso.

Espero que isso ajude outras mulheres de alguma forma e que faça com que todos lutem por um mundo menos machista.

Patricia*, 27, designer gráfica

Muitos me conhecem, mais poucos sabem o que aconteceu comigo.

Tenho 27 anos e fui abusada sexualmente por uma pessoa da minha família quando eu era adolescente.

Nada foi feito, tive medo de ninguém acreditar em mim.

O agressor era da minha própria família. Pela primeira vez senti vontade de falar sobre o tema -hoje superei meu trauma.

Mas, ao vencer as marcas de uma violência, fui obrigada a vencer o preconceito: sou casada com uma mulher e minha opção também é cercada de agressividade e de ódio.

Nós temos medo desse mundo machista, sem amor e sem respeito. Não mereço ser estuprada e não mereço ser estuprada de novo. Ninguém merece.

*Os nomes reais foram preservados, a pedido das leitoras, para proteger amigos e parentes

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Fonte: JusBrasil

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