A Escola, que traz em seu currículo sambas enredos fortes e potencializadores, nos leva à refletir sobre a seguinte pergunta “E se Jesus Cristo voltasse agora à Terra?”
No O Dia
Em tempos “sombrios”, em que o respeito aos direitos humanos é facilmente substituídos pela falta de equidade e de tolerância, a Estação Primeira de Mangueira propõe, em seu enredo, momentos de reflexões contra os processos de marginalizações sociais, políticas, econômicas e religiosas no Brasil.
E para tal, a Escola, que traz em seu currículo sambas enredos fortes e potencializadores, nos leva à refletir sobre a seguinte pergunta “E se Jesus Cristo voltasse agora à Terra?”. O questionamento é, de certa forma, imbuído sobre as reflexões que nos levam a compreender que as práticas de Jesus Cristos são totalmente diferentes das práticas de certas lideranças religiosas cristãs fundamentalistas que estão muito longe de pregar o amor e a comunhão.
O enredo nos faz pensar que provavelmente o Jesus Cristo, descrito e nos apresentados através de seus atos, estaria vivendo entre a “gente comum” que mora nos morros e periferias das cidades brasileiras. Há mais de 40 anos lutando em prol dos direitos humanos, contra o racismo, a intolerância religiosa e todas as formas de preconceitos, acolho o enredo como um verdadeiro ato em defesa da liberdade religiosa e em prol do diálogo inter-religioso, da pluralidade, das liberdade e do respeito.
Precisamos pontuar que, na atual conjuntura social do Estado brasileiro, “colocar a cara na avenida” é selar um destino de luta e visibilidade em prol dos grupos sociais subalternizados. Assim, ao endossar em seu enredo, de 2020, “A VERDADE VOS FARÁ LIVRE”, a Mangueira traz para o centro da avenida as discussões sobre os flagelos humanos e os silenciamentos históricos. Processos de subalternizações cotidianas presente nas comunidades periféricas, nos morros, guetos, vielas da vida que invisibilizam e objetificam a participação dos “marginalizados históricos” no cenário nacional.
E ao falar dos “marginalizados históricos”, a escola verde e rosa faz ecoar as vozes das favelas, das vítimas de intolerância religiosa, dos jovens negros executados cotidianamente, das vítimas de feminicídio e LGBTfobia. Assim, a Mangueira vem caminhando e nos faz o convite para caminharmos no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, trazendo o Cristo humano e humanizador. Aquele Jesus que se fez pequeno, que acolheu os pobres, que dividiu o pão, que conversou com a samaritana e salvou a prostituta da morte. E no final, o maior dos maiores ensinamentos de Cristo: “Amai-vos uns aos outros”.
Babalawô Ivanir dos Santos é doutor em História pela UFRJ