Balé folclórico da Bahia: Ode à cultura africana

O Balé folclórico da Bahia, que nasceu em Salvador em 1988, idealizado pelos diretores Walson Botelho e Ninho Reis, apresenta uma proposta que mistura balé cênico com dança afro contemporânea. Em seus 25 de existência coleciona apresentações em festivais de teatro nacionais e internacionais, sendo reconhecido como uma das maiores companhias de dança afro-brasileira do país. Mais de duas décadas depois, o Balé já exibiu sua arte para públicos das regiões mais diversas do Brasil, além de ter sido destaque de importantes festivais internacionais, como a Bienal de Dança de Lyon, que em 1994 abriu espaço para a concorrida agenda internacional do grupo.

 

Por  Patrícia Azevedo, do Maria Preta

 

Apenas a riqueza cultural e as variações do repertório já justificam a necessidade de presenciar os espetáculos da companhia, que se caracteriza por tomar o palco com temas inspirados na capoeira, frevo e em religiões de origem africana. Uma das encenações mais interessantes é a de Homem Peixe, que representa a tradição afro e seus símbolos religiosos, dentre eles o Candomblé. Rica em detalhes, a montagem transporta o público para uma dança lúdica da rainha das águas Iemanjá, que oferta aos pescadores abundância no trabalho no mar.

 

A companhia representa de maneira única os elementos que contribuem para formação da identidade cultural brasileira. (Foto – Marisa / site institucional Balé Folclórico da Bahia)
A companhia representa de maneira única os elementos que contribuem para formação da identidade cultural brasileira. (Foto – Marisa / site institucional Balé Folclórico da Bahia)

Não menos importante é a exibição de Fêmea, que com coreografia de Rosângela Silvestre – bacharel em dança e pós-graduada em coreografia pela Universidade Federal da Bahia, e música de José Ricardo Sousa, impressiona pela interpretação da força da mulher negra em sua rotina de vida na África até serem trazidas para o Brasil como escravas. Com estética fiel ao momento histórico, a trama mantém em seus adereços as texturas de pele de animais, costumes e características dos rituais tradicionais africanos de então.

Funcionando em um regime de seis horas de trabalho por dia e com 38 integrantes entre dançarinos, músicos e cantores, o Balé Folclórico da Bahia acaba de ser homenageado por dois países pela sua importante contribuição ao cenário mundial da dança. No Togo, a companhia se tornou nome de rua em Anéhio, cidade situada no sudeste do país, próxima a fronteira com o Benim. Já nos Estados Unidos, a prefeitura de Atlanta declarou o dia primeiro de novembro como o Dia do Balé Folclórico da Bahia, acoplando-o ao calendário oficial da cidade. De acordo com o diretor do grupo, José Carlos Narandiba, o segredo do sucesso internacional é simplesmente o reflexo de anos de esforços e resistência para manter as raízes africanas em evidência.

O xaxado e toda a sua história contada a partir do olhar do Balé Folclórico da Bahia. (Foto – Marisa Viana / Divulgação site institucional Balé Folclórico da Bahia)
O xaxado e toda a sua história contada a partir do olhar do Balé Folclórico da Bahia. (Foto – Marisa Viana / Divulgação site institucional Balé Folclórico da Bahia)

 

Homofobia na arte e entre as minorias

Infelizmente, a companhia não coleciona apenas alegrias em sua trajetória, no dia 17 de março o grupo sofreu a perda de um de seus trinta oito integrantes, o bailarino Reinaldo Pepe dos Santos, que foi brutalmente assassinado em seu apartamento em Salvador.

A policia vem tratando o caso como crime de latrocínio, no entanto segundo o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott, este é o oitavo caso de assassinato de homossexuais no estado somente em 2015. O ativismo gay luta para que o crime seja caracterizado como crime homofóbico na tentativa de proteger as minorias na Bahia.

 

Corte de Oxalá – Exu. (Foto Phillip Martin / Divulgação site institucional Balé Folclórico da Bahia)
Corte de Oxalá – Exu. (Foto Phillip Martin / Divulgação site institucional Balé Folclórico da Bahia)

Após o episódio, o grupo folclórico da Bahia assumiu a decisão de manter suas apresentações em Salvador mesmo tendo oportunidade de apresentar-se em qualquer local do mundo, um grande exemplo e símbolo de representatividade e resistência da negritude na arte.

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