Bancada feminina da Câmara diverge sobre veto à minissaia e ao decote

Mesa Diretora estuda regras de vestimenta para mulheres na Casa.
Jandira Feghali chamou ideia de ‘ridícula’; Keiko Ota defende ‘equilíbrio’.

Do G1

Integrantes da bancada feminina ouvidas pelo G1 divergiram em relação à proposta sob análise da Mesa Diretora que pretende impor regras de vestimenta na Câmara, restringindo o uso de minissaia e decote.

A pedido de parlamentares, o primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), anunciou nesta quarta (2) que a Mesa Diretora vai elaborar um projeto com regras para “evitar excessos” nas dependências da Casa.

Por se tratar de uma questão administrativa, o projeto não tem que ser apreciado pelo plenário, podendo ser votado pelos próprios integrantes da Mesa.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) é uma das que criticam a medida sob o argumento de que o parlamento tem temas mais importantes para tratar.

Para ela, a proposta é “ridícula” e “desmoraliza” a Câmara. “Imagina o ridículo: vai colocar segurança medindo tamanho de saia, tamanho de decote?”, questionou.

Ela sustenta ainda que a medida irá “elitizar” o Congresso devido ao nível de exigência. “Estudantes, movimentos sociais, como vão entrar aqui? Até cor do tênis estão limitando”, disse.

Favorável à imposição de um “dress-code”, Keiko Ota (PSB-SP) defende que a Câmara encontre um ponto de equilíbrio.

“Tem que ser liberal e conservador porque é um ambiente de trabalho, que requer muito respeito. Mas também não pode exagerar porque estamos no século 21. Temos de ser ponderados. Um decote extravagante, por exemplo, não combina com o ambiente”, opinou.

Temos de ser ponderados. Um decote extravagante, por exemplo, não combina com o ambiente.”
Deputada Keiko Ota (PSB-SP)

A deputada Geovania de Sá (PSDB-SC) concorda que há “exagero” pelos corredores da Câmara, mas diz ainda não ter opinião fechada sobre o tema.

Para Maria do Rosário (PT-RS), a proposta tenta impor “padrões culturais e de controle sobre as mulheres” por meio da vestimenta feminina.

“O Brasil é um país multicultural. Sou totalmente contrária que a vestimenta das pessoas seja observada de forma a impor padrões, ainda que eu preze, como pessoa, a discrição”, afirmou.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também se manifestou de forma contrária à proposta. Segundo ele, “cada um tem que ter juízo da forma como se comporta”.

Trajes “sensuais”
A ideia de limitar o uso de trajes “mais sensuais” partiu de um grupo de deputadas liderado pela parlamentar Cristiane Brasil (PTB-RJ). Atualmente, os homens são obrigados a transitar pelo Salão Verde e plenário com terno e gravata. Não há regras para as mulheres.

No Judiciário, existem exigências tanto para homens quanto para mulheres.  No Supremo Tribunal Federal, por exemplo, os homens precisam usar terno e gravata, enquanto as mulheres precisam usar blazer, calça social ou saias que não sejam muito curtas.

A deputada Cristiane Brasil encaminhou a Beto Mansur uma proposta com sugestões de regras de vestimenta. Pelo texto dela, seriam abolidas do ambiente legislativo “peças excessivamente decotadas, tanto na frente quanto nas costas, blusas de frente única ou tomara-que-caia, shorts, bermuda, miniblusa, minissaia, trajes de banho e de ginástica”.

Para homens e mulheres, a deputada quer restrições ao uso de jeans. Pela proposta, não serão aceitas calças desse material que sejam “rasgadas, desbotadas, estilizadas, muito justas ou com cintura baixa”.

O texto deixa claro que não poderá haver “exposição do abdômen ou lombar”. A proposta veda ainda roupas muito “justas e apertadas”, e proíbe o uso de chinelos “ou similares”, salvo quando houver recomendação médica.

As regras, pela proposta da deputada, não valem para crianças, adolescentes e turistas que visitam as dependências da Câmara. A parlamentar também prevê que o “dress-code” deve ser aplicado com flexibilidade, “observadas as condições sociais e econômicas” daqueles que pretenderem entrar na Casa.

Beto Mansur disse que não quer fazer muitas exigências quanto à formalidade no jeito de vestir e que levará em conta o clima quente de Brasília.

* Colaboraram Fernanda Calgaro, Nathalia Passarinho, Laís Alegretti e Lucas Salomão, do G1, em Brasília

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