Por: TALITA BEDINELLI
Pesquisa com 5.168 estudantes do país mostra que 59% das vítimas de ofensas e humilhações estão nessa faixa escolar
Problema é mais grave na internet, onde a prática, disseminada por e-mails e sites de relacionamento, afetou 17% dos pesquisados
Ao completar 12 anos, Letícia (nome fictício) começou a ter problemas na escola para onde acabara de mudar. Durante três meses, duas garotas da sala passavam por ela, cochichavam e depois riam entre elas. Um dia, passaram a jogar objetos.
A intimidação parou quando ela procurou a direção. Mas, incomodadas com a bronca, as meninas passaram a intimidá-la no mundo virtual. “Elas me adicionaram no MSN e me chamavam de prancha e de tábua”, conta, em referência à sua magreza. Ela não queria mais ir à escola, as notas pioraram e, assim que o ano terminou, os pais a mudaram de colégio.
O trauma que a menina sofreu há um ano é comum nas escolas brasileiras de ensino fundamental, mostra uma pesquisa com 5.168 alunos divulgada ontem. A pesquisa foi feita em 2009, com estudantes de 25 escolas públicas e particulares e é a mais abrangente sobre bullying feita no país.
O problema afeta principalmente estudantes de 5ª e 6ª séries -59% dos que disseram ter sido vítimas de bullying estão nessa faixa escolar. No geral, pelo menos 17% das crianças entrevistadas estão envolvidas com o problema -seja intimidando alguém, sendo intimidadas ou os dois. Quase 60% dos entrevistados dizem já ter visto um colega ser maltratado.
No mundo virtual, onde as humilhações podem ser anônimas, a situação é ainda pior: o número de envolvidos com o bullying sobe para 31%, sendo que 17% foram vítimas. A forma mais comum de agressão cibernética é o envio de e-mails ofensivos. Depois, vem a difamação em sites de relacionamento, como o Orkut.
“Se considerarmos que muitas crianças têm vergonha de falar sobre o assunto, o número provavelmente é maior”, afirma Gisella Lorenzi, pesquisadora do Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor), órgão que realizou a pesquisa em parceria com a ONG Plan, que trabalha com direitos da criança e do adolescente.
O fenômeno, segundo os pesquisadores, pode se manifestar por xingamentos, violência física, risadas e ameaças. As agressões acontecem sem motivo e, geralmente, envolvem preconceito por características físicas, como foi o caso de Letícia, ou por um traço da personalidade, como aconteceu com Paloma, 14, que no ano passado sofria por causa da timidez. “Ficavam me chamando de mudinha e eu chorava para ir à escola”, conta.
Para Cléo Fanti, pesquisadora de bullying, os resultados mostram que as escolas têm que desenvolver projetos de longo prazo sobre a questão. “É importante que os pais, antes de colocarem os filhos em uma escola, questionem o que ela faz sobre o assunto. O bullying não é só uma brincadeira, há crianças que são espancadas.”
Fonte: Folha de S.Paulo