A cada quatro homens gays, três sofrem algum tipo de violência

Será realizada neste domingo (4) a 18ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. O evento enseja reflexões sobre conquistas do movimento em todo o mundo, como a visibilidade dessa população e o reconhecimento da união homoafetiva. E também sobre desafios que permanecem, como vencer a discriminação e a violência.

De acordo com o estudo, 42% dos homens gays já receberam ameaça de agressão por não serem heterossexuais Um relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), divulgado em fevereiro, aponta que 312 gays, travestis e lésbicas foram assassinados em 2013, o que em média equivale a um assassinato a cada 28 horas. Para a coordenação do GGB, a União e os governos estaduais falham na garantia de segurança a essa comunidade. Há ainda a impunidade: de cada dez assassinatos, somente três tiveram os autores identificados.

Segundo o documento, o Brasil segue na liderança do ranking dos chamados crimes homo-transfóbicos, concentrando, em 2013, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis. Pernambuco e São Paulo são os estados onde mais LGBT foram assassinados. Roraima e Mato Grosso são os mais perigosos para essa população. Manaus e Cuiabá, as capitais onde registraram-se mais crimes homofóbicos, sendo o Nordeste a região mais violenta, com 43% de “homocídios”.

A discriminação, que dá início à violência, não está somente nas praças e nas ruas. Tampouco é praticada somente por desconhecidos. Está nos ambientes religiosos, nas escolas, faculdades, nos círculos sociais próximos, entre amigos e vizinhos e, principalmente, no contexto familiar.

De acordo com o psicólogo Luiz Fabio Alves de Deus, que entrevistou homens homossexuais para sua pesquisa de mestrado pela Faculdade de Saúde Pública da USP, os dados são preocupantes: ao revelarem sua orientação sexual, quase três quartos dos entrevistados foram agredidos verbalmente – justamente pela sexualidade;  21% sofreram violência física; e 42% receberam ameaças de agressão por não serem heterossexuais. Assim como a violência, a discriminação era maior entre aqueles que assumiam sem reservas e para mais pessoas a sua sexualidade.

“Há um discurso de aparente tolerância. Em muitas famílias, é comum aceitarem desde que a pessoa não torne pública a sua orientação sexual, numa vida clandestina”, diz Luiz Fabio. Segundo ele, revelar a orientação sexual é ainda mais difícil para aqueles que já sofrem algum outro tipo de preconceito na sociedade, como os negros, daí o fato de eles, proporcionalmente, se assumirem menos.

Dados do estudo mostram que os jovens, com até 30 anos, têm mais tendência a revelar a orientação sexual. Isso provavelmente porque os mais velhos amadureceram em uma época em que comportamentos sexuais diferentes da heterossexualidade eram menos aceitos.

Os dados fazem parte de uma pesquisa mais abrangente, feita em 2012, pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em parceria com o Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS, e com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Luiz Fábio, que participou da pesquisa inicial, conta que o objetivo era estudar o comportamento e práticas sexuais de gays, bem como a prevalência de infecção por HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis entre homens que fazem sexo com homens.

“A discriminação e a violência são vistas com naturalidade, vivenciadas pela população não heterossexual em todos os contextos sociais em que circulam. Esperamos que esses resultados possam influir em políticas públicas. A exclusão e as violências sistemáticas a que está submetidas essa parcela da população afetam também a saúde, a educação e comprometem o exercício da cidadania destas pessoas, com implicações na igualdade de direitos em outros segmentos também, como entre homens e mulheres”, diz o pesquisador.

 

 

Fonte:Vermelho

+ sobre o tema

Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”

Mesmo enfrentando preconceito e incompreensão fora de casa, o...

Promotoria impede mudança do nome de trans

Após autorização da 1ª Vara, Ministério Público interrompe o...

Homem hétero não tem amigo gay. Veja três histórias que desmentem essa ideia

Livre dos preconceitos e respeitando as diferenças, homens heterossexuais...

Pela primeira vez no Chile, militar desafia homofobia e se declara publicamente gay

Mauricio Ruiz procurou ajuda do Movilh (Movimento de Integração...

para lembrar

Filhos de Bob Marley anunciam primeira turnê coletiva em duas décadas

Bob Marley teve, ao total, 11 filhos, e cinco deles...

Sônia Nascimento – Vice Presidenta

[email protected] Sônia Nascimento é advogada, fundadora, de Geledés- Instituto da...

Suelaine Carneiro – Coordenadora de Educação e Pesquisa

Suelaine Carneiro [email protected] A área de Educação e Pesquisa de Geledés...

Sueli Carneiro – Coordenadora de Difusão e Gestão da Memória Institucional

Sueli Carneiro - Coordenação Executiva [email protected] Filósofa, doutora em Educação pela Universidade...
spot_imgspot_img

Filhos de Bob Marley anunciam primeira turnê coletiva em duas décadas

Bob Marley teve, ao total, 11 filhos, e cinco deles preparam a turnê coletiva The Marley Brothers: A Legacy Tour, que percorrerá a América do Norte...

Líderes da ONU pedem mais ação para acabar com o racismo e a discriminação

Esta terça-feira (16) marcou a abertura na ONU da terceira sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes, que reúne ativistas antirracismo, pessoas defensoras dos direitos...

Brasil finalmente considera mulheres negras em documento para ONU

Finalmente o governo brasileiro inicia um caminho para a presença da população afrodescendente no processo de negociação de gênero na Convenção-Quadro das Nações Unidas...
-+=