Acervo fotográfico disponibiliza fotos da população negra após o fim da escravidão
Por Walacy Neto, do DM
A história do Brasil é como um quebra-cabeça faltando peças. Além disto, algumas “peças” encaixadas não pertencem ao local onde aparecem. Ou seja, a história do Brasil é repleta de falhas e ainda por cima é contada de um ponto de vista privilegiado. Por muitos anos, para não dizer até os dias atuais, os livros de história lecionadas nas escolas do país falam do surgimento de uma nação a partir da visão do Português, do invasor e colonizador deste território. Boa parte da história do Brasil de antes da chegada dos povos portugueses, também chamada de história do Brasil profundo ou pré-história do Brasil, foi pisoteada pela entradas em busca de metais preciosos e matérias primas. Os nativos desta região foram em sua maioria aniquilados pelo contato com novas doenças (sífilis, por exemplo) e o restante foi escravizado para extrair produtos da sua própria terra até a escassez.
Com quase toda a população nativa extinta, faltava mão de obra barata para as plantações de café, cana-de-açúcar e para funções de mineração. Começa o tráfico de escravos negros da África e tem início outra parte muito nebulosa na história desse país. Além dos maus tratos, os negros eram retirados do seu local de origem, proibidos de cultuarem suas religiões e celebrarem sua própria cultura. Apesar disso, uma cultura tão rica não poderia ser simplesmente sufocada. Vemos hoje como é forte a presença das tradições negras na sociedade brasileira e essa miscigenação talvez seja a melhor característica deste povo.
Ainda sim, muito da história dos negros no Brasil foi apagada e muitas pessoas importantes simplesmente desaparecem das páginas dos livros. Por exemplo, sabemos da estrutura das senzalas, de como funcionava a Casa Grande, onde os negros trabalhavam, suas danças e castigos, mas não sabemos da participação do negro na sociedade após a abolição da escravatura, de fato, não sabemos das comunidades quilombolas que nasceram e morreram nos interiores do Brasil, nem mesmo dos hérois ou revolucionários que lutaram pela liberdade durante o período da escravidão, e depois lutaram por uma vida digna com a abolição da mesma.
O NEGRO E MUNDO NOVO
A Biblioteca Pública de Nova York conta com um acervo digital de fotos e gravuras de várias épocas e locais do mundo. Recentemente, alguns livros foram digitalizados e mostram imagens raras desse Brasil, que pouco vemos nos livros de história. O livro com mais imagens da vida dos negros no Brasil é The Negro in the New World (O Negro no Novo Mundo), que mostra pessoas negras em vários lugares do país, como Cuba, Haiti e, claro, o Brasil. A obra revela um pouco da história da escravidão ao redor do mundo, e como foi a influência desse tráfico nas sociedades. A obra foi publicada originalmente no ano de 1910 e está disponível gratuitamente no acervo da biblioteca: https://digitalcollections.nypl.org.
O livro foi organizado por Sir Harry H. Johnston, que na verdade nunca frequentou o Brasil, mas tinha informantes na região, como cita o escritor Gilberto Freyre no livro Casa Grande & Senzala. As fotos mostram o grande movimento migratório de negros para o Caribe, Haiti e países da América Latina. As fotos, provavelmente tiradas logo após a abolição da escravatura no Brasil, retratam o cotidiano da população negra do país, sobretudo na Bahia. Os mercados a céu aberto, baianas com suas vestimentas e mineradores peneirando o fundo dos rios, são algumas das imagens que podemos encontrar neste catálogo da Biblioteca Nacional de Nova York.
RETRATOS DO BRASIL
Muitos artistas estrangeiros retrataram o Brasil em pinturas após a chegada dos portugueses. Alguns por conta própria ou pela curiosidade de vislumbrar o “Novo Mundo”, são responsáveis por trazer aos olhos do presente um pouco da realidade do passado. No site da Biblioteca Nacional de Nova York, uma outra obra importante que pode ser encontrada no acervo, são as pinturas do artista alemão Johann Moritz Rugendas, que frequentou o Brasil nos anos de 1820 e relatou a realidade dos navios negreiros, bem como a formação dessa sociedade.
O quadro abaixo (primeiro à direita) chamado Rue Droite à Rio Janeiro (Rua Direito no Rio de Janeiro) é uma representação do comércio de escravos que acontecia nesse local, durante o período do Brasil colônia. Johann continuou sua jornada registrando a formação dos países do chamado “Novo Mundo”, entre eles Chile, Argentina, Peru e Bolívia. Ele voltaria ao Rio de Janeiro no ano de 1845 onde retratou membros da família imperial e foi convidado para participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa e, em troca de uma pensão vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao rei Maximiliano II, da Baviera.
Nigéria Professora e seus alunos em Minas Gerais, próximo ao Rio do Sono
Sono Negros começam viagem de barco subindo o Rio São Francisco
Mineradores peneiram o solo do rio em busca de metais preciosos
(Fotos: Reprodução/DM)