Silvânia Santos foi eleita pela população para ocupar o cargo público.
Trabalho é garantir direitos de crianças e adolescentes em situação vulnerável.
por Marina Fontenele no G1
Trabalhar na defesa dos direitos e em busca de dias melhores para crianças e adolescentes. Esse é o objetivo da conselheira tutelar Silvânia Santos de Sousa, 26 anos, transexual eleita para a função com quase 400 votos da população da Zona Norte de Aracaju. Membro do Grupo Homossexual do Bugio (GHB) e ligada a movimentos transgêneros, ela afirma que é a primeira transexual do Brasil a assumir, de forma titular, ao cargo de conselheira tutelar.
“Competência e caráter não se medem pela sexualidade. Um amigo me disse que eu tinha tudo para dar errado diante do preconceito que ainda existe a sociedade: nasci negra, na periferia, deficiente e transexual. Mas eu não quis me vitimar, pelo contrário, eu acreditei nos meus sonhos e quis mostrar que eu sou capaz de ajudar as pessoas e trabalhar pela comunidade”, afirma Silvânia, que assumiu a função pública neste mês.
Foto: Marina Fontenele/G1)
Antes de a população elegê-la conselheira, Silvânia já fazia um trabalho voluntário de aula de dança para crianças do bairro Bugio. “Aquilo me realizava então pensei que eu poderia chegar a mais crianças e adolescentes que merecem atenção. Tive medo no início, mas a comunidade me apoiou e me confiou essa missão”, lembra. As aulas eram mantidas através de doações de comerciantes da região. Nessa época, Silvânia era funcionária da recepção de uma empresa e ainda não tinha vestia de forma feminina.
“Os principais problemas que eu e meus colegas de trabalho vamos combater são evasão escolar e hospitalar, negligência, violência física, psicológica e sexual, entre outros. Nosso dever é garantir os direitos de crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social, em risco de violência ou opressão. Vamos conversar com a família, aconselhar para que situações como estas não aconteçam mais”, destaca.
Para a transexual, a experiência de quem vivenciou algumas dessas dificuldades aguçou a sensibilidade. “Hoje minha família me apoia, mas já passei por humilhação na rua e ouvi muitos comentários maldosos até assumir de vez a minha felicidade porque ser transexual não é só uma mudança de visual e de órgão sexual, mas sim a adequação à minha identidade”.
Foto: Marina Fontenele/G1)
De acordo com a conselheira municipal, o racismo acontece fora de casa e a vítima geralmente tem o apoio da família, que acolhe e encoraja. “Já o preconceito sexual, muitas vezes já começa dentro do núcleo familiar quando a criança apresenta trejeitos de homossexual e nesses casos a pessoa fica sem chão, sem ter a quem recorrer. Acaba que a casa se torna um ‘terreno inimigo’, é preciso reverter esse tipo de situação”, analisa.
Silvânia acredita que a evasão escolar é outro problema grave, que precisa do apoio de todos no combate. “A evasão escolar de homossexuais é uma coisa que preocupa muito também porque isso acaba reduzindo as futuras possibilidades de trabalho. E, menos oportunidades podem acabar impulsionando a prostituição e a entrada no submundo da marginalidade. Todos têm o direito à educação e possuem capacidade de realizar seus sonhos”, finaliza. Para o futuro, ela planeja cursar faculdade de Direito e continuar com o trabalho na comunidade.