Carrefour não quer clientes negros e pobres

Fonte: Casal 10-

A rede Carrefour tem uma longa lista de processos por violência e preconceito.

O último caso de violência do Carrefour  pode ser visto na íntegra na área SOS Racismo.

Januário que trabalha como segurança da USP chegou ao mercado com a família dentro de uma Eco Sport. Como a filha de 2 anos estava dormindo atrás ele resolveu ficar no carro, foi quando ele foi abordado por homens que desceram de uma moto. Temendo um assalto ele correu para dentro do mercado, um dos homens armado o perseguiu e tentou lhe segurar. Ele usou seu conhecimento de segurança para se defender até que ele ouviu gritarem de que o segurança estava chegando, porém o homem de quem ele estava se defendendo era outro segurança do supermercado e ele foi levado para o “quarto escuro”.

Lá dentro não adiantou explicar que ele era dono do carro, ele foi caçoado e espancado pelos seguranças que se revezavam para não se deixarem cansar. Foram socos, chutes, que lhe renderam sérias hemorragias, além de ofensas preconceituosas, até que a polícia chegou. Ele explicou ao policial, que a princípio também não acreditou, chegando a falar “Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa que não tem problema”. O terror só terminou quando o policial, ouvindo ele dizer que também era segurança, questionou sobre regras de segurança. Parcialmente convencido, ele levou Januário até o carro, onde a esposa dele já estava aguardando, e checou a documentação. Em vez do policial prender os seguranças da rede (coisa que teria que ter feito sendo Januário ladrão ou não) ele se limitou a dizer que ele deveria mover processo contra o supermercado. Januário realmente entrou com ação, mas ação dupla contra o supermercado e contra o Estado.

Desmentindo a teoria de que o Brasil só tem preconceito social, a esposa de Januário disse que a pior coisa que aconteceu na vida deles foi terem comprado a Eco Sport. Eles não conseguem sair de casa sem serem parados pela polícia.

Violência contra crianças:

Em outra situação, em julho de 2008, a escritora Lele Siedschlag denunciou em seu blog um caso que ela presenciou.

Ontem eu fui ao Carrefour Villa-Lobos (ali perto da ponte do Jaguaré, em SP) – eram 22h20. No fim das compras (o supermercado estava supervazio), na hora de empacotar as coisas, ouvi gritos horríveis, de crianças. Um cara subiu correndo pela rampa e pediu pra chamar o gerente, ou o responsável pelo supermercado. Eu imaginei o pior, larguei tudo e fui ver o que era. Ele me contou: dois meninos tinham sido espancados pelo segurança do supermercado, no andar de baixo. Motivo: estavam brincando na esteira rolante.

Os meninos subiram depois de uns minutos. Um menino de 10 e outro de 13. O de 10 estava chorando também, mas o de 13 estava todo machucado. O segurança encostou os dois na parede e desceu o cacete, encheu os dois de botinada. Enquanto o cara chamou o gerente, eu liguei pra polícia. Dei meu nome e falei que ficaria esperando.

O “gerente” chegou, me viu chamando a polícia. Eu perguntei a ele qual o nome do segurança, ele não quis me dizer. Perguntei qual o nome dele, ele disse que não ia me dar a informação. Disse que ou ele respondia pelo supermercado ou não respondia. Ele disse que o supermercado NÃO RESPONDE pelos atos dos seguranças. Depois eu descobri que o cara nem gerente era, era um “fiscal”, seja lá o que isso queira dizer. Na hora em que a polícia chegou, o segurança-animal passou um rádio pro tal fiscal pra avisar. E o fiscal respondeu “Se vira aí e responde pelo que você fez”. Fiscal Pilatos, lava as mãos.

Desci pra falar com a polícia, estavam lá os garotos, as testemunhas (eu e um casal, logo apareceu uma loira que disse que estava no carro e viu tudo). O segurança ainda tentou falar que os meninos furtaram alguma coisa, mas foi prontamente desmentido. Os policiais tinham spray de pimenta nas mãos (por quê? Não faço idéia). Chamaram os pais dos meninos, que logo chegaram. Uma família superpobre, de algum barraco ali do lado. A mãe, chorando, disse que tinha mandado os meninos “comprar mistura”. Os policiais me dispensaram e eu fui embora, mas antes tirei uma foto da perna do menino de 13 anos.

villalobos

Homofobia

Vanessa Graccio e Rafaela Garcia, ao fazerem compras numa das lojas da rede em São Paulo, tiveram que escutar chacotas e gestos obscenos de funcionários na frente do gerente da loja diante de diversas testemunhas. Elas entraram com ação contra o mercado e ganharam em última instância o equivalente a R$14.800.

O mesmo ocorreu em Piracicaba com o cliente Douglas Eduardo Gomes da Silva, que também entrou com um processo. A rede negou o fato, mas devido às provas e testemunhas que estavam no local, a rede foi obrigada a pagar o valor de R$ 44.640,00 de indenização por ser um caso reincidente.

A rede desta vez mudou a resposta padrão e disse desconhecer os processos (apesar de estar em Diário Oficial), que fariam um levantamento e responderiam à coluna. Isto faz 13 meses e até agora não houve retorno.

Matéria original: Carrefour não quer clientes negros e pobres

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