Carta aos negacionistas: comprem um seguro de vida

Enviado por / FonteUOL, por Jamil Chade

Senhores negacionistas,

Coube à nossa geração viver uma encruzilhada existencial: ou mudamos a forma de nos relacionar e habitar o planeta, ou simplesmente esse planeta será inabitável para nós.

As cenas que estamos testemunhando no Rio Grande do Sul são exemplos de uma realidade que não vai desaparecer e que, a cada ano, se repete de forma cada vez mais intensa pelo mundo.

Pessoas resgatadas em Canoas; vítimas recebem atendimento psicológico – Imagem: Amanda Perobelli/ REUTERS

Todos os dados mostram isso. Seja aqui nos Alpes, onde moro, na África, nas florestas do Canadá e em tantos outros lugares.

Vocês nunca acreditaram que a água iria subir, que o calor seria insuportável, que a produção agrícola sofreria. Pois bem: essa realidade definirá sua existência.

A questão ambiental não é uma ideologia. É um fato. E ele é dramático.

John Maynard Keynes já dizia que aqueles que acreditam estar isentos de qualquer influência intelectual estão, frequentemente, escravizados por algum economista morto. Eu iria além: por algum ideólogo defunto.

Vimos alguns de seus líderes acusar uma jovem que reivindicava um novo mundo de “pirralha”. Vimos um ex-chefe da diplomacia que denunciava como esses estudantes eram “zumbis” que serviam ao globalismo e outros ismos que ele mesmo não sabe definir.

Tenho a impressão de que alguns desses líderes de fato sabem que a transformação é uma realidade. Mas não podem admitir. Caso contrário, teriam de reconhecer que o próprio sistema está falido. E, caso optem por esse caminho, terão de desmontar as bases sobre as quais seu poder é estabelecido.

No Congresso Brasileiro, seus representantes têm em suas mãos decisões que serão fundamentais para definir qual a direção que o Brasil e o planeta tomarão. Dependendo da decisão que tomem, estarão ajudando a vida humana na terra a ser ainda mais difícil.

Nas prefeituras espalhadas pelo país, seus representantes não têm mais escolha: ou atuam para preparar suas comunidades ou serão varridos pelo óbvio. Hoje, um político que optar por negar a revolução climática não está apenas cometendo uma insensatez. Trata-se de um crime.

Estamos vivendo uma verdadeira transição a uma sociedade moldada por limites ecológicos. A era do mundo infinito acabou.

Há poucos dias, escutei uma história reveladora. Um produtor rural no Sul do país — negacionista — insistia que essa história de mudanças climáticas era coisa de comunista. Mas, sem contar a seus parceiros, aumentou o seguro de sua produção. Não aguentava mais perder dinheiro diante dos eventos climáticos extremos que sua região vive.

Sugiro ir além: comprem também um seguro de vida. Negar o óbvio não será suficiente para sobreviver.

Saudações democráticas

Jamil Chade

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