Senhores negacionistas,
Coube à nossa geração viver uma encruzilhada existencial: ou mudamos a forma de nos relacionar e habitar o planeta, ou simplesmente esse planeta será inabitável para nós.
As cenas que estamos testemunhando no Rio Grande do Sul são exemplos de uma realidade que não vai desaparecer e que, a cada ano, se repete de forma cada vez mais intensa pelo mundo.
Todos os dados mostram isso. Seja aqui nos Alpes, onde moro, na África, nas florestas do Canadá e em tantos outros lugares.
Vocês nunca acreditaram que a água iria subir, que o calor seria insuportável, que a produção agrícola sofreria. Pois bem: essa realidade definirá sua existência.
A questão ambiental não é uma ideologia. É um fato. E ele é dramático.
John Maynard Keynes já dizia que aqueles que acreditam estar isentos de qualquer influência intelectual estão, frequentemente, escravizados por algum economista morto. Eu iria além: por algum ideólogo defunto.
Vimos alguns de seus líderes acusar uma jovem que reivindicava um novo mundo de “pirralha”. Vimos um ex-chefe da diplomacia que denunciava como esses estudantes eram “zumbis” que serviam ao globalismo e outros ismos que ele mesmo não sabe definir.
Tenho a impressão de que alguns desses líderes de fato sabem que a transformação é uma realidade. Mas não podem admitir. Caso contrário, teriam de reconhecer que o próprio sistema está falido. E, caso optem por esse caminho, terão de desmontar as bases sobre as quais seu poder é estabelecido.
No Congresso Brasileiro, seus representantes têm em suas mãos decisões que serão fundamentais para definir qual a direção que o Brasil e o planeta tomarão. Dependendo da decisão que tomem, estarão ajudando a vida humana na terra a ser ainda mais difícil.
Nas prefeituras espalhadas pelo país, seus representantes não têm mais escolha: ou atuam para preparar suas comunidades ou serão varridos pelo óbvio. Hoje, um político que optar por negar a revolução climática não está apenas cometendo uma insensatez. Trata-se de um crime.
Estamos vivendo uma verdadeira transição a uma sociedade moldada por limites ecológicos. A era do mundo infinito acabou.
Há poucos dias, escutei uma história reveladora. Um produtor rural no Sul do país — negacionista — insistia que essa história de mudanças climáticas era coisa de comunista. Mas, sem contar a seus parceiros, aumentou o seguro de sua produção. Não aguentava mais perder dinheiro diante dos eventos climáticos extremos que sua região vive.
Sugiro ir além: comprem também um seguro de vida. Negar o óbvio não será suficiente para sobreviver.
Saudações democráticas
Jamil Chade