Casa Branca do Engenho Velho

Casa Branca do Engenho Velho, Sociedade São Jorge do Engenho Velho ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká é considerada a primeira casa de candomblé aberta em Salvador, Bahia. Constituído de uma área aproximada de 6.800 m², com as edificações, árvores e principais objetos sagrados. É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984.

• O Tombamento Terreiro Casa Branca, foi realizado em 14 de Agosto de 1986 pelo IPHAN.[1][2]
• Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico Inscrição:093
• Livro Histórico, Inscrição:504, Nº Processo:1067-T-82


História

A história da Casa Branca do Engenho Velho foi contada na III Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Cultura, realizado em Nova Iorque, pelo representante oficial da Casa Branca, José Abade de Oliveira, Ótun Olu K’otun Jagun


Ilê Axé Iya Nassô Oká / Terreiro da Casa Branca

No período da escravidão no Brasil,[3] os negros formavam suas comunidades nos engenhos de cana. Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Oyó e Keto, fundaram um centro num engenho de cana. Depois se agruparam num local denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Nagô Ilè Asé Airá Intilè também conhecida como Candomblé da Barroquinha, que segundo historiadores, remonta mais ou menos 300 anos de existência, dentro do perímetro urbano de Salvador.

Sabe-se que esta comunidade fora fundada por três negras africanas cujos nomes são: Adetá ou Iyá Detá, Iyá Kalá, Iyá Nassô e Babá Assiká, Bangboshê Obitikô. Não se tem certeza de quem plantou o Axé, porém o Engenho Velho se chama Ilé Iya Nassô Oká.

Foto antiga do Terreiro da Casa Branca


Os africanos que se encontravam alí, lugar deserto naquela época, porém próximo ao Palácio de sua Real Majestade, tiveram receio da intervenção das autoridades no seu Culto, daí, Iyá Nassô resolveu arrendar terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, no trecho chamado Joaquim dos Couros, lugar onde se encontra até hoje, estabelecendo aí o primeiro Terreiro de Culto Africano na Bahia.

A Iyá Nassô, sucedeu Iya Marcelina da Silva. Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iya Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o (Terreiro do Gantois).

Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte nova divergência foi criada entre suas filhas, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).

Vencendo o partido da Ordem, dissidentes inconformados fundaram então uma outra Ilé Axé, o (Ilê Axé Opô Afonjá).

Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi foi sucedida por Maria Deolinda, Mãe Oké. A direção sacerdotal do Engenho Velho foi posteriormente confiada à Marieta Vitória Cardoso, Oxum Niké, recentemente desaparecida.

Atualmente, assumiu a chefia da Casa, a Iya Lorixá Altamira Cecília dos Santos, filha legítima de Maria Deolinda dos Santos, carinhosamente chamada de “Papai Oké”. 

Sociedade Beneficente e Recreativa 

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Mãe Tatá – Altamira Cecília dos Santos, Iyalorixá da Casa Branca do Engenho Velho

A Sociedade Beneficente e Recreativa São Jorge do Engenho Velho que representa o candomblé da Casa Branca, foi fundada a 25 de julho de 1943, registrada no Cartório Especial de Títulos e Documentos em 2 de maio de 1945 sob nº 15.599, declarada de utilidade pública pela Lei Municipal 759 de 31 de dezembro de 1956, é regida por Estatuto e tem personalidade jurídica.

Sua Diretoria é composta por um presidente, um vice, 1º e 2º secretário, 1º e 2º tesoureiro. Assembléia geral, com presidente, 1º e 2º secretários. Comissão fiscal, composta por três membros. Atualmente a Diretoria da Sociedade é exercida pelo Sr. Antônio Agnelo Pereira. Ministro de Oxalá, Oxogum e Obalaxé do Ilé Iya Nassô Oká, Casa Branca. A Diretoria de Honra da Entidade é composta pela Trilogia Sacerdotal do Axé, atualmente representada nas pessoas da Iya Altamira Cecília dos Santos, Iya Juliana da Silva Baraúna e Iya Areonite da Conceição Chagas. Existe ainda a Diretoria do Patrimônio e uma Comissão de Defesa do Patrimônio. 

O Terreiro

 

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candomblé

O Terreiro é de Oxossi e o Templo principal é de Xangô. O Barracão que tem o nome de Casa Branca, é uma edificação alongada com várias divisões inter

nas que encerram residências das principais pessoas do Terreiro, como também espaços reservados aos quartos de Orixás, quarto de Axé, Salão onde se realizam as festas públicas, bem como a cozinha onde se preparam as comidas sagradas. Uma bandeira branca hasteada no Terreiro indica o carater sagrado deste espaço. No telhado do Barracão, símbolos de Xangô identificam o Patrono do Templo.

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– Bandeira na casa branca

O terreno fica situado numa encosta que se estende até uma cota de 30.00m com declividade de 30%, no lado direito da atual avenida da Gama, no sentido de progressão para o Rio Vermelho, entre as Ladeiras Manoel do Bonfim e do Bogun, na Unidade Espacial C-5 em Salvador – Bahia. Ocupa uma área de 6.000m². Em redor do Barracão existem várias casas de Orixás.

Situação atual

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Mãe Tatá e Mãe Nitinha de Oxum dançando.

No iníco, as atividades do Ilé Axé sofreram perseguições da Sociedade e por parte da Polícia. Já no período da República, o candomblé fora proibido de exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos, Entorpecentes e Lenocínio.

Hoje porém a situação é diferente. Existe na Prefeitura de Salvador, o Projeto Mamnba da Pro-Memória, sob a direção do Antropólogo Ordep José Trindade Serra, cujo objetivo é proceder o Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos Negros na Bahia.

Em 14 de junho de 1986, o Ministério da Cultura, a Prefeitura Municipal de Salvador e o Ministério da Relações Exteriores, em conjunto lançaram oito postais sobre a Ilé Axé Iya Nassô Oká e a revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou – A Coroa de Xangô no Terreiro da Casa Branca – em separata do número 21/1986. Chegou então a hora da proteção a todos os Terreiros de Candomblé do Estado. Língua yorubá nos Currículos de 1º e 2º graus.

Diante da solicitação da Socidade Beneficente São Jorge do Engenho Velho, conforme fundamentação e comprovação firmada pelo presidente, Sr. Antonio Agnelo Pereira, cultor de etnografia afro e diplomado em Língua Yorubá pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, o Conselho Estadual de Educação aprovou introdução da Língua yorubá nos Currículos de 1º e 2º Graus nos Colégios de Rede de Ensino do Estado.
O Ilé Axé Iya Nassô é o 1º Templo de Culto Religioso Negro no Brasil – Casa Branca do Engenho Velho.

É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984 (Tombamento do Terreiro do Engenho Velho).
Antes disso, em 1982, o Terreiro já havia sido tombado como Patrimônio da Cidade do Salvador 1ª Capital do Brasil.

Em 1985 o Terreiro do Engenho Velho foi considerado Axé Especial de preservação Cultural do Município de Salvador.

A Sociedade São Jorge do Engenho Velho, representante legal da Comunidade do Ilé Axé Iya Nassô Oká foi considerada de utilidade pública Municipal e Estadual. É Membro do Conselho Geral do Memorial Zumbi.

Atualmente está feito o Plano de preservação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e prepara-se o Projeto de Recuperação da área em convênio com o Ministério da Cultura e a Prefeitura Municipal do Salvador.

O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, mais antigo do Brasil, tem como Iyalorixá a Venerável Altamira Cecília dos Santos, secundada pelas veneráveis Iya Kekeré Juliana da Silva Baraúna e Otun Iya Kekeré Areonite da Conceição Chagas.

Possui um vasto Colégio Sacerdotal composto pelas Iya bomin, Ogans e Olossés, além de muitas Iyaôs e Abians. Deu origem a inúmeros Templos afro-brasileiros.

Sacerdotisas

• Iyá Nassô Oyo Akalagmabo Olodumare
• Marcelina da Silva – Oba Tossi –
• Maria Julia Figueiredo de Oxum – Omó Niké
• Ursulina de Figueiredo – Mãe Sussu –
• Maximiana Maria da Conceição – Tia Massi – (Iwuin Funké) cujas grandes auxliares foram Luzia de Oxum (Oxum Muiuá), Eugênia de Oxóssi e Teté de Iansã (Oya Tumkecy, a Iyá kekeré, falecida em 2006)
• Maria Deolinda dos Santos – Papai Oké – Iuindejá
• Marieta Vitória Cardoso – Oxum Niké –
• Altamira Cecília dos Santos – Mãe Tatá- Oxum Tomiuá (filha consanguinia de “Papai” Oké) – e Areonite da Conceição Chagas – Mãe Nitinha de Oxum – Oloxundê -, Iyá kekeré, Iyá Tebexê e Oju Odé do terreiro, além da decana do terreiro em tempo de sacerdócio, falecida em 3 de fevereiro de 2008. Mãe Nitinha também era a Iya Agan do terreiro Ilê Babá Agboulá em Itaparica (Amoreiras) conhecido por “Bela Vista”, embora não tenha confirmado este posto religioso.

Calendário de festas

As obrigações religiosas da Ilé Axé começam no fim de maio ou princípio de junho com a Festa de Oxossi. No dia de Corpus Christi tem a tradicional Missa de Oxóssi

A Festa de Ayrà tem lugar a 29 de junho.

Na última sexta-feira de agosto, realiza-se a Cerimônia da As Águas de Oxalá, seguindo-se os três domingos consecutivos, nos quais se festeja Odudwa no primeiro, Oxalufan no segundo e a Festa do Pilão em homenagem a Oxaguian, no último domingo.

Na segunda-feira imediata, festeja-se Ogum e na seguinte Omolú.

Havendo no entanto, um espaço para iniciação de novas filhas, prossegue as festas em louvor a Yansã, Xangô, Festa das Iabás e Oxum, terminando o ciclo festivo no final de novembro.

O X Alaiandê Xirê Ipade Lomin – Encontro das Águas na Avenida Vasco da Gama, aconteceu de 15 a 18 de novembro de 2007 na Casa Branca do Engenho Velho, devendo retornar ao referido terreiro na 12ª edição, em 2009

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Referências

1. ↑ Revista do IPHAN escreve sobre os terreiros tombados pdf
2. ↑ Patrimônio, negociação e conflito Gilberto Velho
3. ↑ Templo Iorubá

Ligações externas

• Terreiro da Casa Branca
• O Candomblé da Barroquinha
• Feitiço de Oxum: Um estudo sobre o Ilê Axé Iyá Nassô Oká – tese de doutorado

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