Corporação abriu inquérito para investigar envolvimento de agentes na ocultação do corpo do ajudante de pedreiro em 2013
A Polícia Militar afastou das ruas os 14 agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) supostamente envolvidos na ocultação do corpo do ajudante de pedreiro Amarildo, que desapareceu na Rocinha em julho de 2013. O afastamento foi determinado até a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM) que apura o caso.
O Ministério Público já havia anunciado a abertura de um novo inquérito sobre o crime. O MP pretende agora identificar a altura exata da vítima, para saber se o tamanho corresponde ao do volume que aparece em uma das caminhonetes do Bope, segundo imagens reveladas pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo, na segunda-feira.
As imagens mostram que quatro caminhonetes do Bope chegaram à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha pouco antes da meia-noite do dia 14 de julho. Trinta e seis minutos depois, dois veículos deixaram o local. Um deles, que carregava um volume suspeito, teve o GPS desligado no período em que ficou estacionado na UPP.
Leia Também: Onde está Amarildo? por Eliane Brum
— Os peritos verificaram que o tamanho não era incompatível ao volume de um corpo — disse a promotora Carmem Eliza Bastos de Carvalho.
O laudo da perícia afirma que é “possível identificar um volume com contorno semicircular”, “parcialmente envolvido por material reflexivo”. Testemunhas do desaparecimento de Amarildo informaram que o corpo dele teria sido envolvido com a capa preta de uma moto.
Sem os dados do GPS do veículo que carregava o volume, o MP deverá solicitar as informações de localização que são emitidas pelo radiotransmissor. O MP também estuda pedir a quebra de sigilo telefônico dos agentes do Bope, para checar os dados de localização do telefone e verificar se houve algum contato com o major Edson Santos, então comandante da UPP da Rocinha. Alguns deles trabalharam com o major no período em que Santos foi comandante do Bope.
Leia Também: Caso Amarildo: MP vai investigar participação de policiais do Bope
Em relação ao veículo que manteve o localizador ligado, o MP vai pedir uma avaliação dos dados de latitude e longitude, para ter a precisão dos pontos por onde a caminhonete passou.
Logo após deixarem a sede, as duas caminhonetes pararam em uma rua onde também havia câmeras. Os quatro policiais que estavam no veículo sem o GPS saltaram, e o MP analisa duas possibilidades: que eles tenham levado o volume ou deixado embaixo do banco da caçamba do veículo. O MP já apurou que a Polícia Civil não fez escavações nesse ponto nas ações pela busca do corpo de Amarildo. Mais à frente, a caminhonete que manteve o localizador ligado parou por dois minutos em um ponto onde não havia câmeras. O GPS do veículo que transportava o volume só voltou a funcionar 58 minutos após ter sido desligado, de acordo com o MP.
A presença do Bope na comunidade, segundo a versão do Major Edson Santos, era justificada pelo risco de invasão de traficantes. A promotora contesta a versão.
— Policiais militares foram dispensados naquela noite. Isso me parece contraditório — afirmou a promotora.