Caso Carrefour: Entidades da sociedade civil cobram resposta do Estado

S. Paulo – Entidades da sociedade civil e do Movimento Negro, sob a coordenação do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE), se reúnem nesta quinta-feira (30/09), às 14h, em Audiência Pública no Auditório da Secretaria da Justiça, no Páteo do Colégio, centro de S. Paulo, para cobrar das autoridades a conclusão do inquérito que apura a prática de tortura contra o vigilante Januário Alves de Santana, 40 anos, nas dependências da loja do hipermercado Carrefour, em Osasco.

O caso aconteceu no dia 07 de agosto do ano passado, quando o vigilante, que é negro, foi tomado por suspeito do roubo do seu próprio carro – um EcoSport – perseguido, rendido e torturado num corredor por seguranças.

Após a denúncia, que teve grande repercussão no país e no exterior, o Carrefour anunciou a exoneração dos envolvidos, rompeu contrato com a empresa de segurança e indenizou o vigilante, por meio de um acordo extra-judicial fechado em novembro do ano passado.

Relatório

O inquérito, que é presidido pela delegada Rosângela Máximo da Silva, do 9º DP de Osasco, ainda não foi concluído. No mês passado, a delegada promoveu a reconstituição do crime e está aguardando o relatório elaborado pelo perito Nicolau Demirsky, do Instituto de Criminalística de S. Paulo. O vigilante da USP reconheceu todos os acusados que participaram das agressões, que lhe provocaram ferimentos de natureza grave, incluindo a fratura do maxilar esquerdo.

Segundo o advogado Dojival Vieira, que defende Januário, o acordo extra-judicial com o Carrefour, não interfere na área penal.

“O Carrefour adotou todas as providências necessárias para apuração dos fatos, bem como tomou a iniciativa de compensar Januário e seus familiares, em condições por eles consideradas plenamente satisfatórias. A empresa cumpriu a sua parte e fez o seu papel. Agora é a hora da Justiça fazer o seu, responsabilizando aqueles que atacaram de forma covarde, e sem qualquer chance de defesa, e ainda tentaram forçá-lo a confessar o roubo do seu próprio carro, tendo como motivação a discriminação racial, já que a suspeita decorreu do fato de Januário ser um negro com aparência humilde na direção de um EcoSport. É preciso que o Estado faça a sua parte para responsabilizar criminalmente os envolvidos”, afirmou.

No relatório a delegada deverá indicar quais os crimes que foram cometidos e indiciar os responsáveis, encaminhando o inquérito ao Ministério Público para que ofereça a denúncia. Aceita a denúncia pela Justiça, inicia-se o processo.

Preocupação

A preocupação das entidades é porque o caso foi encarado inicialmente como de lesão corporal dolosa, crime de menor gravidade, o que poderia resultar, inclusive em acordo para suspensão do processo, e conseqüente impunidade dos envolvidos. Para o advogado, se já não havia dúvidas antes, a reconstituição demonstrou que o que aconteceu nas dependências da loja, foi crime de tortura previsto na Lei 9.455/97, que, em caso de condenação, prevê penas de 2 a 8 anos de reclusão.

A Lei prevê aumento de pena de 4 a 10 anos de reclusão, se o resultado for lesão de natureza grave, conforme já foi atestado pelo Instituto Médico Legal de Osasco e pune também “quem se omite” quando tinha o dever de evitar ou apurar a conduta criminosa, como no caso dos policiais envolvidos.

Sociedade atenta

Segundo o presidente do CONDEPE, jornalista Ivan Seixas (foto), a conclusão do Inquérito – que já dura mais de um ano – é fundamental para que se garanta Justiça. “A sociedade está atenta a este caso que teve uma repercussão muito grande no país e até no exterior”, afirma. O presidente do CONDEPE disse que convidará a delegada a estar presente.

Para a audiência também foram convidados os familiares de Eduardo Luiz Pinheiro dos Santos e Alexandre Menezes dos Santos – os dois motoboys mortos pela Polícia, no primeiro semestre deste ano – e de Cristiano da Silva, o ajudante de pedreiro, de Vila Nova Cachoeirinha, morto com dois tiros por policiais militares em circunstâncias suspeitas na madrugada do dia 16 de maio passado.

A intenção do CONDEPE é também cobrar do Estado o porque as indenizações anunciadas pelo governador Alberto Goldman ainda não foram pagas e quais são os critérios que estão sendo adotados para definir os valores que as famílias receberão.

 

Fonte: Afropress

+ sobre o tema

Mulheres sambistas lançam livro-disco infantil com protagonista negra

Uma menina de 4 anos, chamada de Flor de...

Poesia: Ela gritou Mu-lamb-boooo!

Eita pombagira que riscaseu ponto no chãoJoga o corpo...

Geledés participa do I Colóquio Iberoamericano sobre política e gestão educacional

O Colóquio constou da programação do XXXI Simpósio Brasileiro...

para lembrar

Após sofrer racismo na escola, Kheris Rogers de 10 anos cria linha de roupas empoderadora

Você precisa conhecer Kheris Rogers, uma menina de 10...

A Discriminação de Boris Casoy: Isso é uma vergonha

Neste vídeo o apresentador da Band, Boris Casoy declara...

RACISMO NA ITÁLIA: Mais um capítulo do racismo na Itália

O prefeito de Brescia, Adriano Paroli, do PDL, informou...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=