Centro de candomblé é invadido por 8 homens: ‘alegaram ser da polícia’

Caso aconteceu em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do Rio.
Delegado responsável descartou possibilidade de intolerância religiosa.

Do G1

Oito homens pularam o muro de um centro de candomblé com armas, pás, barras de ferro e enxadas na segunda-feira (23) no bairro Balneário, em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do Rio. O líder do culto religioso afirma que os invasores se diziam policiais em busca de drogas, mas não estavam fardados. De acordo ele, os invasores afirmaram que investigavam uma denúncia de tráfico de drogas e perguntaram se as pessoas presentes eram usuárias. O caso foi registrado na 125ª DP da cidade.

“Eles invadiram o barracão alegando ser da polícia com pás, barras de ferro, dizendo que era uma denúncia dentro da minha casa de candombé. Não quiseram se identificar, pularam o muro, reviraram tudo, cavaram um buraco, sem dar satisfação nenhuma. Um deles perguntou para uma senhora de 49 anos, que é mãe, se ela era usuária de droga”, conta o líder Marcelo Barboza.90

O delegado responsável pelo caso, Jorge Veloso, descarta a possibilidade de intolerância religiosa: “Pelo que eles passaram aqui é que pessoas se denominando policiais – a gente não conseguiu identificar quem são -, em busca de material entorpecente começaram a cavar. Foi registrado como violação a domicílio. Eles não foram lá para quebrar santo, nem o centro. O dolo foi no termo de invadir”, disse o delegado ao G1.

Quartos e guarda roupas foram revirados (Foto: Arquivo Pessoal/ Oswaldo Rodrigues
Quartos e guarda roupas foram revirados
(Foto: Arquivo Pessoal/ Oswaldo Rodrigues

Segunda invasão
O líder Marcelo Barboza conta que uma outra invasão havia ocorrido na última quinta-feira (19), quando só havia uma pessoa no local. Segundo ele, os homens afirmavam apurar uma denúncia de um sequestro. O líder se diz assustado com as ocorrências suscessivas.

“Além desse susto, a gente vive o medo de saber o que os oito homens fariam na casa de candomblé se não houvesse ninguém”.

Ester Oliveira, que presenciou a invasão nesta segunda, conta que acordou com o barulho e foi surpreendida.

“Um homem estava pulando com uma arma na mão e me perguntou se estava sozinha. Só eu estava acordada. Um monte de homens foram pulando, e outros entraram pelo portão”, acrescentando que eles ficaram cerca de duas horas no local.

“Todos faziam as mesmas perguntas para ver se a gente entrava em contradição. Para mim, que sou hipertensa, foi um choque. Mandaram a gente abrir porta, mexeram em malas e em guarda roupas. Na hora, eu tremi muito. Depois que foram embora, tomei remédio para me acalmar”.

Os invasores mexeram na dispensa, olharam as cisternas, guarda-roupas. De acordo com Ester, os homens brincavam com a religião praticada ali: “Fizeram piada das pessoas que são do nosso culto. Conheço a lei. Foi muito constrangedor”.

De acordo com Oswaldo Rodrigues, alguns homens pediram sua documentação enquanto outros vasculhavam o local: “Reviraram tudo, guarda roupa, freezer. Fiquei dentro esperando eles. Eles voltaram perguntando se a gente era usuário e se eu tinha passagem pela polícia. Ele falou ‘pega seu RG pra mim’ e anotou o número. Deram bom dia, entraram no mato e foram embora”.

Os frequentadores do centro têm recebido apoio de movimentos sociais: “Tem gente combatendo a intolerância. O movimento negro tem sido muito solícito com a gente. Aqui tem senhoras, pessoas de idade. Às vezes a gente sai tarde daqui. Estamos vivendo um momento de pânico”, argumenta Marcelo Barbosa.

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