Esta semana iremos conversar com Abdoulaye Mar Dieye, Diretor do Programa da UNDP em África, sobre o seu trabalho e a sua visão sobre a ciência e tecnologia no continente. Previamente ocupou o cargo de Diretor da Comissão Executiva do UNDP, tento também supervisionado os portfolios do programa no Médio Oriente, Norte de África e Golfo Pérsico.
1 – Em Junho deste ano em Dakar, no Senegal, os líderes de países Africanos reuniram-se para o PASET (Parceria de Ciências Aplicadas, Engenharia e Tecnologia para o Desenvolvimento de Conhecimento em Áreas Prioritárias). Como alguém que ocupou um vasto número de posições sénior no Senegal, o quão crucial acredita ser o papel das ciências, engenharia e tecnologia para a transformação económica do país?
Estes aspetos são tão importantes para o desenvolvimento do continente, que em Julho deste ano, a União Africana adotou Ciências, Tecnologias e Inovação como a estratégia para o continente. Esta reafirma a aspiração de que economias do continente se tornem em economias de conhecimento e inovação. Ciências, tecnologia e inovação são cruciais para que as economias possam ter um crescimento sustentável e para que se verifiquem melhorias nas condições socioeconómicas. Por exemplo, a difusão das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) poderão vir a desempenhar um importante papel no desenvolvimento de novas indústrias e da competitividade do continente. Da mesma forma, pode melhorar as perspetivas económicas das populações, facilitando o acesso aos bancos, criando emprego para jovens empreendedores e melhorando as condições em que as empresas operam. Mas África precisa de investir no desenvolvimento local das ciências, para que se desenvolvam tecnologias capazes de enfrentar os desafios que esta enfrenta. Por exemplo, a revolução científica que se tem verificado na agricultura por todo o mundo, ainda tem que ocorrer em África. Tal deve-se à falta de investimento em ciências e tecnologia. As condições ecológicas e agrícolas de África são únicas e dão um enorme potencial às suas colheitas. Este investimento poderá ter consequências positivas na segurança alimentar do continente. O mesmo pode ser dito dos desafios enfrentados na área da saúde – como o presente surto de Ébola em África demonstra. Existem também oportunidades para que se consiga um acesso universal a uma energia sustentável.
2 – Foi recentemente citado, quando disse que o Ébola no Oeste Africano pode ameaçar os frágeis desenvolvimentos que tinham sido alcançados em áreas como o turismo e agricultura. O que nos diz esta crise sobre as necessidades de investimento por parte dos Governos Africanos nas ciências e na investigação médica?
Evidentemente, as ciências irão ter um importante papel no desenvolvimento de uma vacina para esta doença. Existem também argumentos que apoiam o investimento em investigação, sistemas de saúde e infraestruturas nos países afetados. Mas fundamentalmente, devemo-nos recordar que o presente surto não é resultado de uma crise na área da saúde. É resultado de uma pobreza crónica, falta de acesso a serviços básicos e uma capacidade limitada dos governos em lidarem com urgências desta dimensão. A presente situação teve as suas origens no Oeste Africano, onde se verifica uma cada vez maior movimentação de pessoas entre as fronteiras destes países. Se esta crise persistir, irá prejudicar o crescimento económico e programas de desenvolvimento. Tal recorda-nos, que a comunidade internacional deve, em conjunto com os países infetados, continuar a investir numa perspetiva de longo-prazo. Por sua vez, tal irá maximizar as possibilidades de que uma nova crise como esta não se repita.
3 – Depois da recente publicação do Relatório de Desenvolvimento Humano de 2014 da UNDP, você defendeu a diversificação das economias Africanas por forma a expandir o seu crescimento. Que papel vê a educação, o setor privado e os empreendedores desempenharem para que este objetivo económico se cumpra?
O relatório sublinha que devemos prevenir choques e promover as oportunidades, especialmente em países que tenham um maior risco de cair de novo em pobreza. Fortalecer a educação e o empreendedorismo será importante para que se promovam comunidades fortes e prósperas. São também cruciais para diversificar as economias Africanas, para o desenvolvimento de conhecimentos e empresas, e para a promoção de novos setores económicos. O foco não é apenas expandir o crescimento, mas também assegurar que este se traduz na criação de postos de trabalho, melhoria das condições de vida, e aumento das oportunidades para os homens e especialmente mulheres (que são muitas vezes marginalizadas e afastadas dos processos de tomada de decisão).
4 – África é um continente jovem. Acredita ser necessário ter jovens a apoiarem a agenda pós 2015?
Os jovens Africanos tem já uma participação nesta agenda, como pode ser verificado na sua participação ativa em consultas nacionais e no inquérito My World, da UNDP (que procurava identificar de forma global, nacional e regional, prioridades para quando os Millenium Development Goals (MDGs) expirem. Os jovens têm também, o seu ligar nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs), que estão focados na literacia e emprego. Os jovens são um enorme ativo do continente. Uma vez que as jovens mulheres e homens representam o futuro do nosso continente, devemos permitir-lhes tomarem importantes decisões. Temos também a obrigação de apoiá-los na procura de emprego e na criação das suas empresas.
5 – O último relatório económico sobre África publicado pela Comissão das Nações Unidas para o Continente alertava para a necessidade deste desenvolver instituições credíveis para cimentar a sua industrialização. Que papel acredita que a ciência irá aqui desempenhar?
Avanços científicos e tecnológicos são os determinantes máximos para o progresso económico e social. África precisa de infraestruturas científicas e de educação que lhe permita aprender com o ocorrido em outros países, adaptar-se a conceitos locais, testar novas iniciativas e providenciar incentivos à sua adoção. Será necessário o desenvolvimento de ciências e tecnologias no continente para que se faça face aos singulares desafios aí enfrentados, com exemplos na área da agricultura, ciências e energia. A diversificação económica de África requer a adoção das tecnologias existentes bem como o desenvolvimento de novas.
Fonte: Africa Twenty One