Coisas da condição humana e o tempo – 1ª parte

por Sérgio Martins

De repente a gente se vê diante do último mês do ano, repleto de tarefas inacabadas, planos não realizados e várias demandas para serem geridas. Então, concluímos que vamos planejar o próximo ano, reduzir tarefas, compromissos e nos dar uma chance de uma vida com mais qualidade. Aí prometemos, mais atenção para família, filhos e amigos que não vemos há anos. O cuidado com o corpo e a saúde entram em pauta como prioridade, os horários da academia, o clínico geral, o especialista naquele problema que nos incomoda, mas não temos tempo para cuidar. Aquele livro que ainda não lemos, a peça que veríamos, a sessão de yoga, a obrigação prometida ao orixá, tudo fica para próxima temporada. Não há apenas um tempo que coordena nossas vidas, somos dirigidos por vários círculos de temporalidade, cada um ditado pelo conjunto de tarefas que assumimos, nos envolvendo simultaneamente. O engraçado de tudo isso, é que nossa percepção do tempo centrado em si próprio, não permite-nos enxergar as diversas temporalidades que vivemos.

No mundo do direito, a abstração da realidade, através do afastamento dos fatos da vida pela apreensão técnica no processo judicial, regido por ritos e prazos, confronta-se com as angústias das pessoas, que experimentam outras percepções de tempo em relação às suas necessidades.

Neste lugar em especial, há várias temporalidades diferentes, que se relacionam entre si, nem sempre ajustadas. O consenso no imaginário de um parâmetro de mediação do tempo, não afasta a percepção individualizada de realização e conclusão de nossas tarefas. Porém, as confluências destas realidades temporais não ocorrem isoladamente, somos um conjunto de pessoas implicadas umas com as outras. A cada “sim” que pronunciamos, assumindo uma nova atividade, nos envolvemos em uma nova marca temporal de exigências e compromissos.

A condição humana, arrumada neste corpo de carbono, tenta, a cada novo ano reinventar uma agenda mais saudável, mas é assolada por fatos novos, pela dura vida pela sobrevivência, tão comum á todos nos. Logo, o planejamento heroico será substituído, por uma corrida alucinada para dar contas das tarefas diárias. A única certeza que temos, é a permanecia de um fio tênue que liga os planos á vida cotidiana.

Daí a necessidade de princípios norteadores e planejamento estratégico de nossa trajetória de vida neste planeta. A partir destes poderemos mediar os avanços e recuos em nossos projetos. Se seu filho, aos 08 (oito) anos de idade, diz que será médico, lhe dê um presente e incentive-o. Porém, as coisas não param por aí, pois as descontinuidades e rupturas provocam mudanças de caminhos, mas não de direção que resolvemos seguir. Disto trato na 2º parte deste artigo.

+ sobre o tema

Racismo, sexismo e elitismo ‘assombram’ clube mais tradicional do mundo no golfe

O Augusta National Golf Club definitivamente é um local...

Neymar apoia zagueiro do Vasco em luta contra o racismo

Dedé foi ofendido pela torcida do Libertad-PAR, e ganhou...

Indígenas e quilombolas: eternas “ameaças” à ordem e ao progresso

Notas sobre o conceito de “brasilidade”, sob o manto...

Chacinas revelam monstro que habita em nós

O Rio de Janeiro é mais uma vez convidado...

para lembrar

Negros são maioria entre presos por tráfico de drogas em rondas policiais, diz Ipea

Nota do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra...

A violência contra jovens negros no Brasil

por Paulo Ramos A cada nova divulgação dos dados...

BA: Homicídio de jovens negros aumenta mais de 300% em oito anos

Na última quinta-feira (29/11), o Centro Brasileiro de Estudos...

Grupo Record RS apoia debate sobre Racismo Institucional

    O Grupo Record RS é um dos apoiadores da...
spot_imgspot_img

Não é sobre o Oscar, nem sobre uma corrida de 15km com ótimo pace

Passamos pela premiação do Oscar sem nenhuma menção direta aos incêndios de Los Angeles. Acho que, em momentos difíceis, o público valoriza o escapismo...

Miopia econômica

O avanço da onda antidiversidade e anti-inclusão (coisa que vem sendo especialmente estimulada pelos EUA) começou a surtir efeitos negativos de grande impacto no...

‘Piada’ de ministro do STJ prova como racismo está enraizado no Judiciário

Ontem, o ministro do STJ João Otávio de Noronha, em tom de "piada", proferiu uma fala preconceituosa sobre baianos durante uma sessão de julgamento. A suposta...
-+=