A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns recebeu, na tarde da última quarta-feira (05/06), o Prêmio Eny Moreira de Direitos Humanos, promovido pela Agência do Bem. A cerimônia de premiação ocorreu durante a sexta edição do Fórum da Rede do Bem, em São Paulo, evento que reuniu representantes de organizações da sociedade civil para uma série de debates e palestras sobre os desafios do Terceiro Setor, como captação de recursos e gestão institucional.
“A Comissão Arns atua hoje em quatro linhas prioritárias: combate ao racismo, proteção da população de rua, garantia dos direitos dos povos indígenas e quilombolas, e, de forma mais abrangente, defesa da democracia, área de atuação notória de Eny Moreira”, afirmou a socióloga Maria Victoria Benevides, presidente da Comissão Arns, durante a cerimônia. “Estamos juntos desde 2019 encaminhando denúncias às autoridades competentes, organizando seminários, notas públicas e trazendo visibilidade a esses temas na imprensa. É uma emoção e uma alegria receber essa placa de prêmio com o nome dela”, completou.
Na ocasião, o ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi, também membro da comissão de direitos humanos, relembrou a trajetória marcante de Eny Moreira. “Um dos grandes feitos da Eny, do qual tive o privilégio de participar, foi a pesquisa sobre a prática de tortura na ditadura militar, ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns e do Reverendo Jaime Wright. Fui membro da equipe que, durante cinco anos, pesquisou os arquivos da Justiça, trabalho que resultou no livro ‘Brasil: Nunca Mais’, um marco na história política do nosso país”.
Prêmio Eny Moreira de Direitos Humanos
Criada em 2023, a premiação faz homenagem à advogada e ativista Eny Moreira e tem como objetivo reconhecer iniciativas empreendidas por organizações, coletivos ou pessoas físicas em defesa dos direitos humanos no país. De acordo com Elio Moreira, idealizador do prêmio, a Comissão “tem se destacado pela qualidade do seu trabalho em defesa de grupos historicamente marginalizados no Brasil”.
Em sua primeira edição, o Prêmio Eny Moreira de Direitos Humanos prestigiou o Padre Júlio Lancellotti, pedagogo e coordenador da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, reconhecido por sua luta pela defesa dos direitos humanos há mais de 40 anos.
A advogada Eny Moreira teve papel fundamental na luta pela democracia durante a ditadura militar brasileira. O projeto “Brasil: Nunca Mais” é considerado, até hoje, o mais amplo levantamento sobre a prática de tortura e outras violações de direitos pelo regime militar. Desenvolvida pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de São Paulo, a iniciativa impediu que o compilado de processos judiciais de crimes políticos se perdesse com o fim da ditadura. O resultado foi a publicação de um livro, em 1985, que expôs à população brasileira a gravidade dos crimes cometidos pela repressão militar.
Sobre a Comissão Arns
Criada em fevereiro de 2019, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns busca dar visibilidade e acolhimento institucional a graves violações da integridade física, da liberdade e da dignidade humana, especialmente as cometidas por agentes do Estado contra pessoas e populações discriminadas – como negros, indígenas, quilombolas, pessoas LGBTQIA+, mulheres, jovens, comunidades urbanas ou rurais em situação de extrema pobreza. A Comissão Arns trabalha em rede com outras organizações sociais para detectar casos, dar suporte a suas denúncias públicas, encaminhar questões aos órgãos do Judiciário e organismos internacionais, promover ações específicas junto a lideranças políticas e mobilizar a sociedade. Seu trabalho é apartidário e congrega figuras públicas de formações distintas, mas complementares, todas elas comprometidas com a defesa da dignidade da pessoa humana.
Em seu nome, a Comissão destaca a figura do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), Arcebispo Emérito de São Paulo. Em 1972, Dom Paulo criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, porta aberta no acolhimento das vítimas da repressão política e policial no país. Ao homenageá-lo, a Comissão reconhece esse exemplo de resistência, resiliência e, sobretudo, de esperança para os brasileiros em tempos difíceis.