Fonte: Infonet
Cursos mais concorridos, como Medicina e Direito, apresentam diferença na relação candidato/vaga para quem optou pelas cotas e quem não aderiu ao sistema
Estudantes de escolas particulares receberam com surpresa a divulgação da concorrência candidato/vaga do Processo Seletivo Seriado 2010 da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Diante da implantação do sistema de cotas, que destina 50% das vagas a alunos de escolas públicas, a conquista de uma vaga nos cursos mais requisitados ficou ainda mais difícil.
Cursos como Direito, Medicina, Psicologia e Engenharia de Petróleo – um das novas carreiras implantadas este ano – apresentam um número bastante expressivo da relação entre candidato/vaga. Algo que, de acordo com a estudante Mirella Amaral, só era visto em concursos de universidades públicas das regiões Sul e Sudeste do país.
A vestibulanda tentará entrar no curso de Medicina, onde cada vaga será disputada por mais de 45 candidatos. Entretanto, para os alunos que optaram pelo sistema de cotas, a relação é de aproximadamente 12 por um. “Eu esperava que fosse aumentar, mas não tanto. Não tem como ficar despreocupado com concorrência. A disparidade entre os cotistas e os não-cotistas é muito grande”, afirma Mirella.
Opinião concordante com a do coordenador da escola, Sérgio Gomes. Ele diz que o maior impacto dessa grande diferença age no lado psicológico dos alunos. “Sempre costumamos conversar com os alunos que quantidade não é qualidade. Quem está comprometido com os estudos desde o início do ano, naturalmente, está assustado. Mas também existe a parcela que não está nem aí para o exame”, diz.
Conhecimento x Emocional
Sérgio acrescenta que o desempenho do estudante no vestibular depende muito mais do seu estado emocional. “A prova é 50% conhecimento e 50% emocional, o que às vezes decorre naquele ‘branco’ que, sim, pode derrubar o candidato”, teoriza. O coordenador ressalta que mesmo sendo mais fácil para os alunos que optaram pelo sistema de cotas entrarem na universidade, o impacto maior haverá dentro das salas de aula.
“É um sistema desumano para o estudante de escola pública, porque com a formação deficiente eles sentirão muitas dificuldades para acompanhar o ritmo da academia. A descriminação pode partir até por parte dos professores, que exigirão muito mais”, diz.
Já Marcela Damásio, que tentará uma vaga em Direito, revela que ficou menos assustada, mas diz que o desafio, agora, é justamente não perder o controle emocional que pode influenciar diretamente o resultado na prova. “Temos que saber lidar com a emoção, se auto-conhecer e não deixar que o nervosismo dê aquele ‘branco’ na hora da prova”, indica. Para o curso escolhido por ela, no turno da noite, a relação candidato/vaga é de 33,96.
Luiz Alfredo Sá mostra-se ainda mais seguro. O estudante diz que é a favor das cotas para alunos de escolas públicas, mas é contra as raciais por achar que acentua a discriminação contra os negros. “A mudança para as cotas foi muito rápida, então eu vejo que os dois lados saem prejudicados nisso”, analisa. Apesar disso, ele diz que não está preocupado com o número de candidatos concorrentes. “Não vou depender disso para passar na prova, mas, sim, dos meus estudos. Quanto a isso, estou fazendo minha parte”, destaca.
Além de Medicina e Direito, chama a atenção o número de candidatos para Engenharia de Petróleo – 30,36 candidatos por vaga, contra 16,06 para cotistas – e Psicologia – 26,68 contra 17,13. Por outro lado, há cursos em que o número de vagas ofertadas é maior do que o número de inscritos, como em Química – Vespertino, Matemática – Vespertino, Museologia e Letras – Francês.