Conteúdos alados

O mais divertido de ler oráculos e ouvir videntes é constatar, algum tempo depois, o quanto eles se equivocaram. Não sinto compaixão quando eles perdem a fama. Afinal, nada mais arrogante do que tentar afirmar o futuro. O porvir, em particular, é semente do que não sabemos. Os fatos comprovam a fragilidade das tendências.

Em companhia da ilusão de prever, vem sempre a ideia apressadinha de que uma novidade derruba o que já existe. Esclarecendo, quando a televisão entrou lares adentro, muitos oráculos decretaram a morte iminente do rádio. Quem tinha sons e imagens por que se contentaria com vozes?

O mundo dos impressos – livros, cartazes, jornais, revistas etc – também teve a certidão de óbito lavrada em cartórios digitais. Se tudo cabia numa telinha – e muitas vezes de graça – por que as pessoas seguiriam comprando papéis? Não seria mais honesto deixar as árvores em paz?

Pois é. O que presenciamos – neste 2014 – é a convivência de todos os meios de comunicação e emoção. Vou à sala de cinema e vejo filmes pelo computador. Leio noticiários online e assino um jornal diário. Vejo televisão e ouço muito rádio enquanto congestiono no trânsito, ou quando deslancho nas rodovias.

Os livros impressos, então? Entre em qualquer livraria e comprove a pujança de capas, textos, cheiros. Nada impede que eu leia e-books e também calhamaços de papel e tinta. Tudo informando e entretendo ao mesmo tempo. Online e offline do café da manhã à hora de dormir.

Com tudo isso, faço um meaculpa. Pois acreditei, por uns anos, que só o caminho digital valeria a pena ser trabalhado. Dei ouvidos aos oráculos. Agora percebo que ao fechar em uma única possibilidade – normalmente a mais novidadeira – a gente deixa escapar oportunidades. Perde trem, ônibus, avião.

Os conteúdos do mundo estão se movendo em todas as direções. Eles se aproveitam de todos os suportes. Vale ter músicas no iTunes, no iPod e vale – muitíssimo – assistir a um concerto ao vivo. Ou a uma banda de pífaros numa praça cearense. Cada um desses “meios” provoca experiências diferenciadas. Cada um dá um ambiente diferente ao conhecimento.

É o saber líquido transitando de uma garrafa à outra. A cantiga de roda, os games eletrônicos, o locutor no rádio, um avatar vendendo na loja virtual, o garoto com megafone atraindo freguesas na 25 de Março paulistana ou numa rua da fluminense Nova Iguaçu. Tamos juntos!

Imagem: Régine Ferrandis, “garrafas em Ibiúna”.

Fonte:Yahoo

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