O fim de 2024 e da COP29 marcam um ano de temperaturas recordes, marcado por desastres climáticos e incontáveis mortes em territórios negros das cidades. Tudo isso acontece enquanto as emissões continuam aumentando e os compromissos dos responsáveis pela crise diminuem.
Nós, do Geledés – Instituto da Mulher Negra, acompanhamos as negociações durante as duas semanas da COP29, com um esforço incansável para que os textos principais incluíssem linguagem mais abrangente, inserindo a população afrodescendente. Mais uma Conferência das Partes com uma presidência produtora apaixonada por combustíveis fósseis, o que gerou desconfiança e falta de transparência nos processos de negociação dos acordos mais importantes. Não avançamos na transição justa, retrocedemos em gênero, temos muito trabalho a fazer para alcançar as metas globais de adaptação e não estabelecemos compromissos concretos com o financiamento necessário para garantir a sobrevivência das pessoas e do planeta. E finalmente, é realmente preocupante o enfraquecimento da agenda de direitos humanos nas decisões inconclusas e má fé. Assistimos o Norte Global jogando sujo contra o Sul Global.
A demora, a falta de entendimento dos processos por parte da presidência da COP29 e a ausência de negociações democráticas e transparentes não nos ajudam a avançar, especialmente em um tempo em que as demandas são urgentes e para o agora. Vimos países implorando em plenária, líderes emocionados em discursos, mas, longe dos olhos da sociedade civil, países desinteressados continuam pagando para dobrar a aposta na crise, em vez de contê-la. Lamentamos profundamente ver o final da COP29 marcado por tantos retrocessos.
Há muito trabalho a ser feito, especialmente pelo governo brasileiro, que vocalizou a importância da transparência e da confiança, mas também reforçou a necessidade de colocar os direitos humanos e a visibilidade da população afrodescendente como prioridades no caminho para a COP30, que será realizada no Brasil. Reafirmamos nosso papel, como organização do movimento negro brasileiro, de continuar contribuindo com formulações que destacam a necessidade histórica de combater o racismo ambiental e as desigualdades sociais.
Voltamos ao Brasil com mais tarefas, acreditando que podemos avançar desde que haja confiança, compromisso com o combate ao racismo ambiental e participação social. Se o Brasil, como presidente da COP30, deseja liderar, precisa dar o exemplo: evitar mortes causadas por eventos climáticos e não tolerar retrocessos na agenda climática são ações essenciais para essa liderança. É fundamental que os progressos reflitam verdadeiramente as necessidades do planeta, com maior ambição para alcançar a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C e garantir que ninguém fique para trás. Precisamos de mais!