O debate sobre o empoderamento econômico da população afrodescendente avançou no último ano graças à persistente e destacada atuação de organizações do movimento negro, em especial de mulheres negras como Geledés – Instituto da Mulher Negra, durante a presidência rotativa do Brasil do G20. Em 2024, se intensificaram as discussões sobre a temática em altos fóruns na Organização das Nações Unidas (ONU) e no grupo que reúne as maiores economias globais sobre essa temática.
O diagnóstico é do assessor internacional de Geledés, Gabriel Dantas, que participou do evento “Legados da Presidência Brasileira na Trilha de Finanças: G20 Social e África”, que aconteceu durante a G20 Social, no Rio de Janeiro, no dia 15, com representantes do Ministério da Fazenda do governo brasileiro e da sociedade civil do Brasil e África do Sul. “Os temas de justiça racial, inclusão econômica e participação política de mulheres e populações afrodescendentes têm ganhado espaço nas agendas globais”, afirma ele.
Durante sua explanação no evento, o assessor internacional fez uma retrospectiva sobre como os mecanismos da ONU vêm atuando. “O Grupo de Trabalho de Especialistas sobre Afrodescendentes, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD), o Fórum Permanente da População Afrodescendente e o Escritório do Alto Comissariado para Direitos Humanos têm impulsionado esforços para combater o racismo e a discriminação racial, especialmente os enfrentados pelas mulheres afrodescendentes.
Para avançar na agenda de desenvolvimento econômico, Geledés entende ser necessário combater a discriminação étnico-racial com políticas econômicas. Como aponta Dantas, faz-se necessário “uma análise mais apurada das diversas barreiras raciais e de gênero enfrentadas pela população afrodescendente no mercado de trabalho”. O instituto também vem postulando a proposta de acesso a crédito de bancos multilaterais para que essa população consiga participar em espaços de poder e decisão nos sistemas político e financeiro.
“Tais barreiras frequentemente limitam o pleno acesso da população afrodescendente e feminina a oportunidades de crescimento e geração de renda, além de restringirem o empreendedorismo”, afirma o assessor internacional de Geledés. “E esses bancos, ao complementar o setor privado no financiamento de investimentos que geram retornos sociais significativos, preenchem lacunas onde o mercado privado não consegue atender”, completa.
Durante o G20 Social, Geledés, Ipea, C20, T20, W20 e ONU Mulheres lançaram conjuntamente o documento “Empoderamento Econômico da População Afrodescendente e o Papel dos Bancos Nacionais e Multilaterais de desenvolvimento”, resultado executivo de seminário sobre o empoderamento econômico dos afrodescendentes realizado em setembro deste ano. Com cerca de 40 recomendações, o documento visa incentivar a formulação de políticas públicas promotoras deste empoderamento econômico voltado aos afrodescendentes.