Exposição multimídia projeta imagens que reverberam nuances e crenças afro-brasileiras
A exposição Corpo-imagem dos terreiros traz à Brasília, até o dia 3 de agosto, obras de fotógrafos que voltam suas lentes para o corpo cultural dos terreiros. Em cartaz na Galeria Acervo da Caixa Cultural, as imagens da mostra contextualizam o universo simbólico desses territórios disseminadores de valores e tradições de origem africana. Com curadoria da fotógrafa e pesquisadora Denise Camargo, a coletânea tem um eixo dedicado a Pierre Verger, Mario Cravo Neto e José Medeiros, além de obras de artistas de todo o país.
Doutora em Artes (Unicamp), Denise dedicou as últimas duas décadas de sua vida à pesquisa da identidade cultural brasileira, sempre realçando a negritude explícita do País que, paradoxalmente, tem sido ofuscada há mais de 500 anos. A curadora observa que o espaço expositivo de Corpo-imagem dos terreiros pretende ampliar tanto a experiência estética, quanto o saber dos visitantes. “O Brasil tem a cultura africana em sua essência e os terreiros guardam a nossa história”, aponta. A pesquisadora recorda também que a dinâmica do tempo, do espaço e as condições encontradas aqui fizeram com que os negros recriassem algumas tradições com novas cores, ritos e sabores, dando origem às religiões afro-brasileiras. “Os terreiros preservam essas ancestralidades e memórias, imprimem as marcas da formação e diversidade étnica brasileira, mas são encarados com certo estranhamento e preconceito em nosso País”, lamenta.
A curadora, no entanto, acredita que a arte é capaz de soltar algumas amarras históricas. “Corpo-imagem dos terreiros fala para aqueles que estão abertos ao conhecimento e ao belo”, sugere. As fotografias da mostra são apresentadas por meio de projeções em diferentes suportes, combinadas a trilhas que fazem releituras das sonoridades geralmente associadas ao tema. “As imagens são acompanhadas de textos que oferecem informações capazes de desconstruir versões e visões estereotipadas”, adianta.
Os eixos
Corpo-imagem dos terreiros está dividida em eixos temáticos que referenciam marcos conceituais de saberes ancestrais e o modo de viver e festejar nas comunidades por meio da culinária, na cultura das oferendas; pelas relações com a natureza; pelo estatuto do corpo que é um patrimônio que dança, canta, e se enfeita para as celebrações.
Encruzilhada (Orita): é o ponto de partida da exposição. Uma encruzilhada é um local emblemático de fronteira e passagem. Visualizada no chão, recebe o visitante e o integra ao espaço expositivo.
Corpo (Ara): essa projeção compõe as inscrições corporais, os modos de vestir, os adereços utilizados pelas comunidades, e seus significados na preservação do patrimônio de origem africana no Brasil.
Alimento (Ajeum): oferecer alimento faz parte dos rituais e das celebrações. A projeção desse eixo, realizada em uma tela semicircular, pretende apontar para essa importante influência africana, preservada nas comunidades.
Natureza (Imolé): a projeção de imagens neste eixo temático difunde a importância dos elementos da natureza, como base para as manifestações de origem negro-africana, suas relações sociais e mitológicas.
Som (Rum, rumpi e lé): rum, rumpi e lé designam três atabaques. Eles são elementos simbólicos de afirmação étnica, pois produzem o “chamado” que conecta afro-brasileiros aos negros da África, evocando uma memória ancestral. São responsáveis pelos toques (sons) que convocam também à dança, ao canto, à festa. Aqui as imagens fazem referência ao campo conceitual criado em torno dos instrumentos e são projetadas mediante a interação do visitante na produção de sons.
Saravá: este eixo propõe uma saudação aos fotógrafos Pierre Verger, Mario Cravo Neto e José Medeiros, artistas emblemáticos e referenciais que delimitam, com seus trabalhos, um marco para a produção de imagens da cultura dos terreiros. São imagens que permitem o diálogo entre os outros eixos temáticos.
Fazem parte da mostra os artistas: Adenor Gondim, Andrea Fiamenghi, André Vilaron, Amanda Oliveira, Ayrson Heráclito, Bauer Sá, Cristina Cenciarelli, Eustáquio Neves, Fer D’Andrade, Fernanda Grigolin, Fernanda Procópio, Fernando Fogliano, Guta Galli, Guy Veloso, Laila Santana, Léo Guma, Luiz Paulo Lima, Luiz Alves, Marcello Vitorino, Márcio Vasconcelos, Marisa Vianna, Miriane Figueira, Miriam Fichtner, Nélson Sebastião, Nívio Alves de Souza, Paulo Rossi, Peterson Azevedo, Ricardo Teles, Rita Ruiz, Tacun Lecy e Vantoen Pereira Jr.
Programação diversificada
Corpo-imagem dos terreiros terá ainda programas de acessibilidade (visitas para públicos deficientes visuais); de mediação cultural (visitas para grupos); de exibição das projeções em Taguatinga, Ceilândia e Brazlândia, para aproximar o bem cultural ao público do Entorno.
Mediadores acompanham as visitas para escolas, grupos e públicos especiais, por meio de agendamento prévio. Está prevista uma oficina de formação para educadores, com a finalidade de contribuir com conteúdo para atender a lei 10.639/03, que exige o ensino da história e cultura africanas no currículo escolar, em especial nas áreas de Artes, Literatura e História.
O projeto é patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura, Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal (FAC), na modalidade Difusão e Circulação e tem o apoio da Caixa Cultural. Corpo-imagem tem como contrapartida duas oficinas, uma ministrada pela cenógrafa Eneida Sanches – Concepção e Montagem de Exposições Multimídia – e outra com a curadora Denise Camargo com o tema “O que move em nós, a fotografia?”.
Serviço
Exposição Corpo-imagem dos terreiros
Visitação: de 28 de junho a 03 de agosto
Horário: terça-feira a domingo, das 9h às 21h – consultar horários em dia de jogos da Copa do Mundo
Local: Caixa Cultural Brasília – Galeria Acervo
SBS Quadra 4 Lotes 3/4, Brasilia – DF
61 3206-9448/ 61 3206-9449 #vivamaiscultura
Entrada: Gratuita
Agendamento de visitas para grupos, informações e inscrição para as oficinas: 61 9928-9091 (Karita Pascollato) ou 61 3206-9448/ 61 3206-9449 (Caixa Cultural)
Site: www.oju.net.br
Fonte: Jornal de Brasília