Hoje fomos ver o filme de Camila de Moraes, O caso do homem errado, um desses filmes que todo cidadão, preto, branco, pobre, rico, deveria ver. É um documentário que trata do caso de um jovem negro do Rio Grande do Sul que foi assassinado pela polícia sob a acusação de ser bandido. Acontece que o jovem era um trabalhador, era honesto, era um marido, era um filho, era um amigo respeitado, amado, conhecido pelo caráter tranquilo e afetuoso.
Mas o filme não existe só para dizer isso. O que faz o filme é mostrar por dentro da máquina a falência absoluta do estado na garantia à integridade física, moral, humana dos cidadãos que não têm pele clara, que não pertencem às classes dominantes. O estado falha não só porque não protege, mas, sobretudo, porque ele próprio mata.
Não é uma conta simples. O racismo em sua violência bruta é uma operação matemática que não cabe em nenhuma estatística pois é engolida por ela. Camila de Moraes consegue dar surpreendentes soluções estéticas a um conjunto de falas, depoimentos, reportagens sobre um caso que marcou a cidade de Porto Alegre na década de 80 e que se estende ao presente de forma crescente. Como se fôssemos nós a procurar nosso ente desaparecido, vamos mergulhando num caos perverso de mentiras e violências a partir dos fatos narrados por envolvidos no caso.
Toda a brutalidade do fato é colocada ali no desvendar da manipulação da polícia diante de um corpo abatido por policiais. O corpo vai crescendo durante o documentário, vai nos assombrando, vai se tornando um sujeito e ao final lhe é devolvida a dignidade que lhe roubaram, tornando-o um rapaz vivo e com o sonho de viver o seu casamento feliz e tranquilo.
Poucas vezes tenho visto um documentário tocar tão brilhantemente nesse tema que não cansamos de ouvir e de falar que é o racismo. Não existe um homem certo para ser assassinado pelo estado e, certamente, aquele homem que morreu brutalmente violado estava longe de ser alguém que pudesse correr esse perigo. Mas corria: era negro.
Sem cair em armadilhas moralistas que poderiam supervalorizar uma vida em relação a outras (afinal, para a sociedade “bandido bom é bandido morto”), o documentário é uma denúncia inteligente do perigo que correm os corpos fragilizados no sistema. A edição primorosa, o olhar, a abordagem e a poesia, que ao final chega ali em uma voz em off nos enchendo o coração de humanidade, fazem deste documentário uma obra rica para o cinema brasileiro.
Essa jovem diretora negra merece todos os prêmios que já ganhou e essa obra deve chegar a muito mais pessoas, sobretudo agora, sobretudo neste ano terrível que estamos tendo. Vejam e levem seu amigo, sua prima, seu vizinho, seu aluno, sua namorada, seu professor. O filme está em cartaz no cinema do museu só até quarta-feira.
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