Cuba é feita pra apanhar, é boa de cuspir. É a Geni da língua portuguesa

Leonardo Sakamoto

Enquanto isso, em lugar chique de São Paulo…

– E esse negócio de participação social é cubano. Eles vão querer tomar conta de tudo daqui para frente.
– Eles quem?
– Esse povo aí.

A análise desse diálogo rende um doutorado. Já tenho o título:

O Gigante Acordou
Uma abordagem interdisciplinar, à luz de  Norman Fairclough e Pierre Bourdieu, sobre o discurso de criminalização dos instrumentos de participação social como elemento estruturante para a manutenção do status quo e a preservação das relações hegemônicas em um contexto de clivagem geracional

Vou me ater a outro aspecto, contudo: o que que é essa gente colocando Cuba em qualquer conversa?!

Pode criticar o país e seu regime à vontade, há um monte de razões para isso. Mas o ódio de algumas pessoas é tão grande, tão grande que transformou “cubano” em um adjetivo que expressa o que há de pior no mundo. Ódio, esse, que foi fomentado por um monte de malucos na internet, incluindo pessoas que se dizem jornalistas.

Já vi, em mais de uma ocasião, a tentativa de imputar um efeito negativo em uma frase agregando Cuba à história. Cuba virou a nova Geni. Cuba é feita pra apanhar, Cuba é boa de cuspir, Cuba dá para qualquer um. Maldita, Cuba!

Com base nessa evolução detectada em nosso léxico, sugiro uma breve releitura dos preconceitos paulistanos:

– Meu filé está muito ruim. O serviço aqui está cada vez mais cubano, nunca vi.
– Ai amor, tem um cubaninho vindo ali. Levanta rápido o vidro do carro!
– Minha empregada em casa é tão cubana que me deprime. Ô raça…
– Pior do que bandido, meu bem. Cubano.
– Eu não sou cubano, paguei caro por isso aqui.
– Mulher no volante, cubano constante.
– É um cubano, quando não faz na entrada, faz na saída.
– Apesar de cubano, tem caráter.
– Servicinho cubano esse seu, hein?
– Não gostaria de ver minha filha casada com um cubano. Não por ele ser cubano, é claro, mas os filhos deles sofreriam muito preconceito.
– Esse cubanos deveriam ir para a periferia onde não incomodariam ninguém.
– São Paulo é São Paulo, né amiga? Não é Havana.
– Se a mulher estava vestida daquele jeito e porque era uma cubana e mereceu o que levou.

Confesso que já ouvi três desses acima. Mas deixo vocês descobrirem quais. Se conseguirem…

 

Fonte: Blog do Sakamoto

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