Das teorias de Nina Rodrigues à bárbarie contra Claudia da Silva Ferreira

por Cleidiana Ramos

Filhos mostram farda da mãe trabalhadora que foi baleada e teve o corpo arrastado por uma viatura policial. Foto: Carlos Moraes/Ag. O Dia/Estadão Conteúdo

Perto do final do século XIX, da Faculdade de Medicina da Bahia, que funcionava naquele imponente prédio situado ainda hoje no Terreiro de Jesus, saiam os estudos que praticamente fundamentaram a prática da Polícia Científica. O autor era o professor Nina Rodrigues, maranhense e discípulo de um italiano chamado Lombroso.

Lombroso defendia que características físicas como formato do nariz, do queixo e tamanho do cerébro interferiam em virtudes e defeitos morais. Nina via nos negros os traços físicos que davam uma predisposição para seguir o caminho do crime e até reivindicou que existissem dois códigos penais: um para negros e outros para brancos.

Hoje pode parecer absurdo, mas teoria científica elaborada dentro de uma instituição de prestígio não é algo que se apaga tão facilmente. Afirmação científica carrega consigo o status de algo verdadeiro, comprovado e, portanto, que merece ser defendido até a exaustão. Quantos membros da polícia tanto civil como militar receberam formação com base nesse pensamento e as transmitiram com uma ou outra modificação, mas sem perder sua essência?

O que tudo isso tem a ver com esses dois jovens e a criança da foto aí acima? Não é preciso fazer uma equação muito difícil para imaginar o estrago que as teorias racistas disseminadas pelas academias de policia Brasil afora fizeram e fazem no campo da segurança pública. De subordinados, inclusive negros, a chefes, mesmo que não assumam, predomina o pensamento de que o crime tem sempre o preto como cor da pele.

O Brasil não pode ficar calado diante da barbárie que matou Claudia da Silva Ferreira, mãe desses meninos da imagem acima. Depois de baleada quando saía para comprar pão, Claudia foi jogada no porta-malas de uma viatura policial e arrastada por cerca de 250 metros. Chegou ao hospital morta e o seu corpo dilacerado.

O monstro do racismo sempre esteve no ataque, mas parece que nesse começo de 2014 resolveu mostrar sua força em dobro. Só no futebol foram quatro episódios em apenas duas semanas. O Brasil precisa combater o preconceito de ter preconceito racial, como dizia Florestan Fernandes.

Esse país necessita, tanto como Estado como sociedade civil, reconhecer-se como racista o mais rápido possível, pois é do silêncio sobre o racismo ou considerá-lo fantasia de radicais que ele tem se alimentado e ficado cada vez pior.

Fonte: MUNDO AFRO

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