Meu incidente mais assustador no Brasil foi há alguns anos, durante uma conferência no Rio de Janeiro. Eu estava hospedado em um hotel no Leblon, que como homem de pele negra me marcava como deslocado. Eu andava para cima e para baixo na rua todos os dias para visitar restaurantes, lojas e a praia, com uma câmera montada no meu ombro. Muitas vezes notei um policial, cuja cor de pele era parecida com a minha, na guarita que ficava no caminho que eu costumava passar. Em um desses dias, nossos olhares se encontraram e eu o cumprimentei (como os afrodescendentes costumam fazer de onde eu venho) e fui embora. Não sabia que esse ato aumentaria minha condição de suspeito, e, de repente, esse cara estava em cima de mim, segurando meu braço. Virei-me para ver seu rosto ameaçador enquanto ele murmurava sobre documentos de identidade. Claro, eu tinha pouco domínio do português e não sabia realmente tudo o que ele dizia. Ainda assim, eu sabia o suficiente sobre “andar enquanto negro” para entender a mensagem. Ele estava armado e comunicava claramente que de alguma forma eu havia incitado sua raiva feroz e sua vontade de exercer seu poder para me deter (ou pior). Eu não tinha meu passaporte, mas tinha uma cópia das páginas de identificação. Então me atrapalhei para dizer isso, o tempo todo falando com ele em inglês, enquanto sua ira aumentava. Naturalmente, a essa altura, estava puto (má jogada). Mas quase em um flash o cara percebe que algo está errado sobre mim (agora eu estou tagarelando em inglês “acadêmico”) – ele quebra o elenco. Um sorriso surge em seu rosto enquanto ele tenta reconhecer o erro e faz o que presumi ser uma conversa fiada. A essa altura, voltei aos meus sentidos, embora ainda mais chateado, saí de suas mãos e fui embora. Todos os meus amigos brasileiros com quem compartilhei essa história me contaram como eu tive sorte!
A campanha “13 de Maio: Comemorar o quê?” é uma iniciativa de colaboração entre US Network for Democracy in Brazil, Geledés Instituto da Mulher Negra e Afro-Brazilian Alliance (ABA) e tem como objetivo reafirmar a data da abolição da escravatura no Brasil como Dia Nacional de Luta contra o Racismo, como demarcado pelo movimento negro, já que a Lei Áurea não garantiu o pleno acesso aos direitos e à igualdade para a população negra – a qual vem enfrentando profundas desigualdades desde então.
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