Dennis de Oliveira: Sobre as cantadas racistas

Charô Nunes, no final de maio, publicou um texto no blog “Blogueiras Negras”  em que enumera as cantadas racistas mais ouvidas por mulheres negras, a partir, inclusive de experiências pessoais.

Já tinha lido este post e agora vi a repercussão na Folha de S. Paulo. Interessante são os comentários colocados abaixo da matéria. Chamam a blogueira que fez esta denúncia de chata, mal-humorada e que vê racismo em tudo. Eu, como homem negro, também estou de saco cheio destes reacionários e racistas de plantão que se apresentam como vítimas de um pretenso “patrulhamento do politicamente correto”. Como resposta a isto, uso a fala do escritor Marcelo Rubens Paiva que disse, certa vez que “prefiria o politicamente correto que o politicamente facista”.

Charô Nunes cita um verso da poetisa Elisa Lucinda: “deixar de ser racista não é comer uma mulata”. É exatamente esta a matriz do pensamento de Gilberto Freire que considera que o racismo no Brasil foi superado com a “trepada”. Amar de fato uma mulher negra, superando as barreiras raciais que existem independente da vontade individual (sim, porque o racismo é estrutural e não apenas comportamental ou subjetivo) implica em tomar uma posição anti-racista.

É ser não solidário, mas cúmplice da luta anti-racista que a companheira(o) negra(o) é obrigada(o) a travar no dia-a-dia.

Brancos e brancas que eventualmente amem mulheres ou homens negr@s, a pergunta que se devem fazer é: está disposto(a) a lutar contra os preconceitos e racismos que existem dentro de si e de outros a sua volta, que inclusive lhe dão alguns privilégios em determinadas situações, por cumplicidade se não a toda a comunidade negra, pelo menos a pessoa que se diz amar? Ou se se trata apenas de desejo sexual, até que ponto este “tesão” está impregnado de desejos exóticos construídos pelo pensamento racista? Exotismo que é a manifestação de seqüestro do controle do corpo da mulher negra que se transforma em objeto de satisfação sexual do outro (opressão machista), de exploração para o trabalho (opressão do capital) intensificada pelo racismo que retira a dimensão humana da população negra.

Por: Dennis de Oliveira

 

Outros textos de Charô Nunes;

Deixar de ser racista, meu amor, não é comer uma mulata!

Blogueira enumera as cinco cantadas racistas mais comuns

Escreva, escreva sempre, como souber ou quiser, em verso e prosa, mostre ao mundo quem você é e quem são vocês, quem somos nós.

Marina Silva – de mulher negra seringueira ao conservadorismo das elites – Por: Dennis de Oliveira

 

 

Fonte: Quilombo

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