Deus é contra as cotas? Por, Dennis de Oliveira

Dennis de Oliveira,

MOVIMENTAÇÃO NO CÉU

Movimentação no Céu. São Benedito, muito revoltado, chegou para Deus e disse: “Senhor, venho propor uma coisa para tornar o Céu mais justo”. Deus, espantado, perguntou: “O que, São Benedito?” e ele respondeu: “Não aguento mais este Céu cheio de anjos e santos brancos, proponho cotas raciais para o Céu”. Deus ficou estupefato com a proposta de São Benedito e mais ainda quando Nossa Senhora Conceição da Aparecida veio com mais esta: “Concordo e vou mais além: cotas para mulheres negras também, cansei de não terem santas negras”.

Deus ficou irado com as propostas dos santos e disse: “O que é isso, vocês estão loucos? Aqui é o Céu, não existe racismo por aqui!”. E aí São Benedito e Nossa Senhora Aparecida questionaram então porque havia uma maioria branca no Céu se a maioria da humanidade não era branca. “Mas não é uma questão de cor de pele, a beatificação de santos é uma questão de bondade, não se trata de uma seleção baseada na cor da pele”, disse Deus. São Benedito e Nossa Senhora Aparecida então retrucaram: “Ah, então o Senhor está dizendo que nós, negros, não somos bons o suficiente para sermos santos, é?” e Deus ficou um tanto contrariado, “imagine, claro que não, tanto é que vocês estão aqui”. Os dois interlocutores de Deus se entreolharam, “mas só nós e mais uma meia duzia?”, mas Deus arrematou: “Vocês acham que eu, Deus, com toda a minha sabedoria, sou racista? Ser humano é tudo igual, vocês é que estão sendo racistas e querem dividir a humanidade em raças.” São Benedito e Nossa Senhora Aparecida insistiram em questionar porque a maioria dos santos é branca. “É um problema da história da humanidade”. Os candidatos brancos a beatificação aproveitaram a deixa e mandaram o recado: “Concordamos com Deus, o racismo existe na humanidade mas não somos culpados disso, trata-se de um problema de bondade”.

ANALOGIA DO CÉU COM A USP

Movimentação na USP. Um aluno negro, muito revoltado, chegou para o Reitor e disse: “Reitor, venho propor uma coisa para tornar a USP mais justa”. O reitor, espantado, perguntou: “O que, aluno?” e ele respondeu: “Não aguento mais esta USP cheio de alunos e professores brancos, proponho cotas raciais para a USP”. O reitor ficou estupefato com a proposta do aluno negro e mais ainda quando uma professora negra veio com mais esta: “Concordo e vou mais além: cotas para mulheres negras também, cansei de não terem professoras e alunas negras”.

O reitor ficou irado com as propostas do aluno e da professora e disse: “O que é isso, vocês estão loucos? Aqui é a USP, não existe racismo por aqui!”. E aí o aluno e a professora questionaram então porque havia uma maioria branca na USP se a maioria da população brasileira não era branca. “Mas não é uma questão de cor de pele, a entrada na USP é uma questão de mérito, não se trata de uma seleção baseada na cor da pele”, disse o reitor. O aluno e a professora então retrucaram: “Ah, então o reitor está dizendo que nós, negros, não somos bons o suficiente para sermos da USP, é?” e Deus ficou um tanto contrariado, “imagine, claro que não tanto é que vocês estão aqui”. Os dois interlocutores do reitor se entreolharam, “mas só nós e mais uma meia duzia?”, mas Deus arrematou: “Vocês acham que eu, um intelectual, com toda a minha sabedoria, sou racista? Ser humano é tudo igual, vocês é que estão sendo racistas e querem dividir a sociedade em raças.” O aluno e a professora insistiram em questionar porque a maioria dos uspianos é branca. “É um problema da sociedade brasileira”. Os candidatos brancos à USP aproveitaram a deixa e mandaram o recado: “Concordamos com o reitor, o racismo existe na sociedade mas não somos culpados disso, trata-se de um problema de mérito”.

NÃO É QUE CONSIDERO A USP UM CÉU, MAS QUE MUITOS INTELECTUAIS USPIANOS CONSIDERAM-SE DEUSES OU SANTOS E ACIMA DA SOCIEDADE.

 

Fonte: Revista Fórum

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...