Dilma fecha reestruturação política; mulheres são maioria no Planalto

Por: André Barrocal

 

 

Para tentar encerrar de vez crise de relacionamento do governo com partidos aliados, Dilma Rousseff completa reestruturação da área política, iniciada com demissão de Antonio Palocci, e troca ministro das Relações Institucionais. Mas resiste à pressão de setores do PT e indica nome de sua preferência, a ex-senadora Ideli Salvatti. Pela primeira vez na história brasileira, mulheres são maioria nos cargos mais importantes do Palácio do Planalto.

BRASÍLIA – A presidenta Dilma Rousseff concluiu nesta sexta-feira (10/06) a reformulação da área política do governo a que foi obriga pela crise de relacionamento com aliados exposta ao público na crise do ex-ministro Antonio Palocci, que era até aquele momento o principal estrategista e articulador presidencial. Depois da saída de Palocci, Dilma decidiu trocar o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência e nomear para o cargo a ex-senadora petista Ideli Salvatti, que assumirá na próxima segunda-feira (13/06).

A opção de Dilma por Ideli faz com que, pela primeira vez na história brasileira, as mulheres estejam em maioria nos postos de comando mais importantes da Presidência da República, sem contar a presidenta e o vice, Michel Temer. Dos cinco ministros que trabalham no Palácio do Planalto, três serão mulheres com a posse de Ideli: ela, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Helena Chagas (Comunicação Social). Aos homens, restaram a Secretaria Geral, do ministro Gilberto Carvalho, e o Gabinete de Segurança Institucional, do general José Elito Carvalho Miranda.

Com a substituição nas Relações Institucionais, Dilma tenta melhorar o convívio do governo com o Congresso e os partidos aliados, especialmente com o PT. Os petistas estavam insatisfeitos com Palocci e com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Achavam que o primeiro não defendia, perante a presidenta, as reivindicações do partido por cargos e rumos do governo. E que Luiz Sérgio, que deveria ajudar a pressionar Dilma, acanhara-se e deixara-se engolir pela força do ex-chefe da Casa Civil.

Esse tipo de contrariedade selou o destino dos dois ministros e obrigou a presidenta a reformular a área política do governo. Nenhum partido aliado fez defesa enfática de Palocci na denúncia de enriquecimento de ilícito, que o ex-chefe da Casa Civil acredita ter sido obra de “fogo amigo”.

Vários políticos, sobretudo do PT, aproveitaram o caso, que forçou uma discussão da condução política do governo, para minar Luiz Sérgio e tentar derrubá-lo, como se pode observar em inúmeras reportagens em jornais e na internet nas quais os interesses escondiam-se sob anonimato.

Um dos mais interessados no cargo era o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que ainda não assimilou ter derrotado pelo colega petista Marco Maia (RS) na disputa pela presidência da Casa, em fevereiro.

Time das “duronas”

Segundo apurou Carta Maior, pessoalmente, Dilma não tinha intenção de trocar Luiz Sérgio, pois tem convivência cordial com ele. Tanto que o manteve no governo – ele vai para o lugar de Ideli no Ministério da Pesca. A presidenta convenceu-se, porém, de que, se o segurasse, ainda teria problemas políticos, já que o ministro perdera autoridade, a exemplo de Palocci.

Mas Dilma não cedeu de todo. Resistiu à tentativa do PT, especialmente da bancada de deputados, de impor-lhe um nome. A escolha de Ideli foi pessoal da presidenta, que deu mais uma demonstração de que gosta de ter auxiliares do tipo “linha dura”.

Já havia demonstrado isso ao nomear Gleisi Hoffmann para o lugar de Palocci. A senadora vinha se destacando no Congresso pela defesa inflexível do governo. Em seu discurso de posse na chefia da Casa Civil, na última quarta-feira (08/06), Gleisi tentou inclusive mostrar que tem condições de ser flexível, o tipo de coisa que a classe política adora ouvir. Recusou a pecha de “trator” e disse que sua escolha sinalizava “apreço” de Dilma pelo Congresso.

Com Ideli, acontece o mesmo. Nos oito anos do governo Lula em que foi senadora, sete deles exercendo algum tipo de liderança (do governo ou do PT), mostrou ter temperamento forte, o que várias vezes lhe custou brigas com adversários e até com aliados.

Em entrevista nesta sexta-feira (10/06) na qual já falou como indicada por Dilma, Ideli também foi confrontada com a imagem de “durona”. E, a exemplo de Gleisi, tentou mostrar flexibilidade. “A relação com todos os partidos será respeitosa sempre”, afirmou a ministra, que disse que vai usar “ouvidos, coração e bom senso” no novo cargo.

Escanteado pelas circunstâncias, Luiz Sérgio participou da mesma entrevista, ao lado de Ideli, para dar sua versão sobre sua saída. Disse que se trata de uma “reformulação natural” da coordenação política do governo e que não há “desarticulação” da base aliada de Dilma.

 

 

Fonte: Carta Maior

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