Diretor da Educafro se recusa a participar de audiência com Feliciano

Por: VINICIUS SASSINE

 

BRASÍLIA – A crise instalada na Comissão de Direitos Humanos desde a chegada do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) à presidência produziu um efeito negativo prático: o cancelamento de uma audiência da comissão após a recusa de um militante dos direitos dos negros em participar. O GLOBO mostrou ontem que a estratégia de Feliciano, em meio à forte pressão pela saída do cargo, é demonstrar proximidade à causa dos negros e se desvencilhar da acusação de racismo em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado havia preparado para esta quarta-feira, às 14 horas, a realização de uma audiência pública para discutir a inclusão no mercado de trabalho sem discriminação de cor. O evento precisou ser cancelado porque o diretor-presidente da Educafro, o frei franciscano David Santos, comunicou a Feliciano que não compareceria à Câmara.

Em entrevista ao GLOBO, frei David criticou a permanência de Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e disse que prefere comparecer à Câmara para a audiência pública depois de resolvida a crise na comissão. A Educafro é uma entidade sem fins lucrativos que prepara negros para o ingresso nas universidades públicas, por meio das cotas, e nas universidades privadas, com a obtenção de bolsas de estudo. A Educafro atua no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Brasília e em Minas Gerais. Frei David é um militante histórico da causa.

– Para nós, a comissão vive uma crise, e qualquer comissão será mais eficiente se primeiro resolver essa crise. A conjuntura toda pede a saída dele (de Feliciano), uma saída digna, até para o bem da saúde psicológica dele – afirmou frei David.

O diretor da Educafro apontou a falta de afinidade entre Feliciano e as causas da Comissão de Direitos Humanos:
– Em cada cargo é preciso provar um histórico de afinidades naquela causa. É importante que daqui para frente só possa se candidatar quem tem experiência de pelo menos três anos na defesa dos direitos humanos.

Segundo frei David, a audiência que estava prevista para hoje já estava agendada com o então presidente da comissão, deputado Domingos Dutra (PT-MA). Na gestão de Dutra, a Educafro participou de outras cinco reuniões sobre o assunto. Com Feliciano na presidência, faltou “planejamento” sobre o que seria discutido na audiência, conforme o diretor da Educafro.

– Ele me mandou um e-mail na segunda-feira, convocando para a audiência. Respondi que não é assim, de uma hora para outra. Espero que ele aprenda que um tema sério como esse deve ser agendado com antecedência – disse frei David.

Sem a audiência, a Comissão de Direitos Humanos se reúne nesta quarta apenas para discutir requerimentos, com temas relacionados à saúde indígena e à contaminação por chumbo em Santo Amaro da Purificação (BA), entre outros. Um único requerimento é de autoria de Feliciano: a viagem a Oruro, na Bolívia, prevista para a próxima segunda, 8, para acompanhar a situação dos torcedores corintianos presos na cidade.

 

 

Fonte: O Globo

+ sobre o tema

STF julga constitucional lei que assegura abate em cultos de matriz africana

Para Ministério Público estadual, norma não podia dar tratamento...

Sem os pontos mais polêmicos, Senado aprova Estatuto da Igualdade Racial

O Senado aprovou nesta quarta-feira o Estatuto da...

Registros de casos de injúria racial aumentam 16,2% em um ano no DF

Durante os quatro primeiros meses deste ano, os casos...

para lembrar

Quilombolas de Brejo dos Crioulos ocupam terras de latifúndio em MG

Fonte: Comissão Pastoral da Terra - MG   OCUPAÇÃO...

Rio fiscalizará disciplina obrigatória sobre cultura negra

Fonte: Terra-A 'guerra santa' entre evangélicos e umbandistas causada...

SÃO PAULO: VII Semana da Cultura Negra

SÃO PAULO : VII Semana da Cultura Negra
spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Levantamento mostra que menos de 10% dos monumentos no Rio retratam pessoas negras

A escravidão foi abolida há 135 anos, mas seus efeitos ainda podem ser notados em um simples passeio pela cidade. Ajudam a explicar, por...

Racismo ainda marca vida de brasileiros

Uma mãe é questionada por uma criança por ser branca e ter um filho negro. Por conta da cor da pele, um homem foi...
-+=