Docente da UESPI parabeniza o Piauí pelo Dia Estadual da Consciência Negra

O Dia Estadual do Consciência Negra no Piauí foi comemorado na sexta-feira, 06 de setembro. O professor da Universidade Estadual do Piauí – UESPI e coordenador do Centro de Ciência Comunicação e Artes- CCECA, Prof. Dr. Robson Silva parabeniza a comunidade acadêmica e o Piauí por este dia, e afirma que esta data é para que todos tenham orgulho do povo e de suas raízes.

Segundo o Professor, esse dia ficou marcado pela luta de uma mulher, Esperança Garcia, que para ele é uma heroína negra do Piauí na busca pela justiça. Esperança escreveu uma Carta ao Governador do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro (1769-1775) denunciando os castigos e outras agressões que ela e consequentemente, as mulheres negras sofriam. Em sua homenagem foi criado o Dia Estadual da Consciência Negra (06 de setembro). Dia esse, que vem para nos lembrar da invisibilidade das datas históricas do povo negro, e dessa heroína corajosa Esperança Garcia.

“Lembramos também da quão guerreira é a mulher negra nessa sociedade, que em sua maioria é racista. Então o dia 06 de setembro, Dia da Consciência negra no Piauí, para que possamos lembrar-nos dessa data e nos orgulhar de nosso povo, de nossas raízes, como a capoeira que e praticada na UESPI e de toda a bagagem que historicamente o povo negro direta e indiretamente construiu e ajudou a construí a história piauiense e de seu povo”, explica.

Sobre Esperança Garcia

Esperança Garcia viveu na região de Oeiras na fazenda de Algodões, a mais ou menos 300 km de Teresina, essa fazenda juntamente a outras dezenas de estâncias pertenciam à inspeção de Nazaré, onde é hoje o município de Nazaré do Piauí. Apesar de sua importância histórica, não se sabe quase nada sobre sua vida, esse descaso da sociedade é consequência principalmente de sua condição de mulher negra escravizada. Porém ela se destaca por ter sido corajosa a ponto de escrever uma carta ao governador do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro (1769-1775), denunciando os maus tratos sofridos por ela, seus filhos e companheiras, além de outras mulheres negras.

A carta é datada de 06 de setembro de 1770. Afirma-se que a carta original está em Portugal, e uma cópia foi descoberta no arquivo público do Piauí pelo pesquisador e historiador Luiz Mott em1979: “Outra minha importante descoberta arquivística foi um pequeno documento, uma única página escrita a mão, todo cheia de garranchos com muitos erros de português: trata-se de uma petição escrita em 1770, por uma escrava do Piauí, Esperança Garcia. Trata-se do documento mais antigo de reivindicação de uma escrava a uma autoridade.

“Documento insólito! Primeiro por vir assinado por uma mulher, já que mulher escrever antigamente era uma raridade. As mulheres eram vítimas da estratégia de seus pais, mantê-las distante das letras, a fim de evitar que elas escrevessem bilhetinhos para os seus namorados. Segundo, por se tratar de uma petição escrita por uma mulher negra.”(Mott).

Esse documento serviu de inspiração para diversas manifestações contemporâneas, como o grupo de mulheres que trabalham pela cidadania da mulher negra piauiense, e recebe o nome de Esperança Garcia, assim como a maternidade de Nazaré do Piauí e a data desta carta é o Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí desde 1999.

Carta traduzida:

Eu sou uma escrava de V.S.a administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões , aonde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem, sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca; em mim não poço explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.S. pelo amor de Deus e do seu valimento, ponha aos olhos em mim, ordenando ao Procurador que mande para a fazenda aonde ele me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha.

De V.Sa. sua escrava, Esperança Garcia

Por Ruth Carioca- estagiária- ASCOM

Fonte: UESPI

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