A Tragédia do Cabula ou a Chacina do Cabula não é mais um desses amontoados de “conversório” inútil que se pratica em redes sociais, buscando uma mínima sensação de atuação politica, diante do mar de sangue que se acumula em territórios negros dominados pela violência, pelo lixo, pelo desemprego e pelo racismo.O Governo do Estado da Bahia e seus capangas tremulam por ai- em seus seminários, simpósios e conferências – sua politica de promoção da igualdade, acordada com uma turminha de pseudo liderança negra que com seus cargos, um dia ali e outro aqui ,transita como linha auxiliar de um projeto de genocidio do povo negro . Fazendo parecer para as novas gerações que lutar é essa farra de cosméticos, roupa chique, visual de roupas brancas as sextas-feiras, bailes e Tombamento (promoção da igualdade converteu-se numa tática desonesta de se conseguir emprego).
Por Hamilton Borges dos Santos ( Walê), do Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta
O episódio do Cabula, aquele massacre racial premeditado e orquestrado no dia 06 de fevereiro de 2015,(http://www.correio24horas.com.br/detalhe/salvador/noticia/janot-pede-que-stj-investigue-chacina-do-cabula-rapidez-com-que-pms-foram-absolvidos-e-curiosa/?cHash=7217a8702f2c3d1658e66fac4a8fb8e8 ) é central para o que resta de dignidade de luta contra o ódio antipreto na Bahia. Esforços aqui e ali, como a imensa coragem de poucas pessoas e poucos grupos que ainda se mantem autônomos e centrados na luta histórica e radical de pretos e pretas, como o Dandara Gusmão, que enfrenta o racismo da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. Porque não é possível fazer luta contra o racismo de forma dócil e negociada com seu algoz. É urgente e necessário demolir esse lixo que nos oprime e não se faz essa demolição com beijos e uma coreografia na noite da beleza negra.
Dancinha da Igualdade
Pouco nos importa esses círculos universitários de turbantinho e bom papo, os que não suportam a primeira zanga e correm para os braços da instituição, pra pedir uma verba pro próximo evento. Do tipo de evento gourmetizado sobre nossa desgraça coletiva. Cuidado com essa turma , é a mais forte arma de liquidação moral da recente luta contra o genocídio preto no Brasil. Eles são a nova cara do Loby acadêmico e do terceiro setor , buscando rios de dinheiros para fazer “Ação ” e você pode se confundir com toda essa estamparia e esse blá-blá-blá de empoderamento.
Aqui não, viu?! Aqui precisamos de uma outra coisa: operar uma forte e visceral campanha, seguida de grandes mobilizações comunitárias, de enfrentamento sem medo a esse poder de policia que é :ILEGAL, IMORAL E RACISTA. Falar sobre nossas dores colocando nossa humanidade no centro, nossas vozes, as vozes dos mortos, contar a histórica tragédia que nos atravessa nesses sucessivos governos de DEM/PT/DEM. Arrastam nossos corpos para os buracos e nossa moral politica negra para um atraso e retrocesso sem volta. Então não vai ter trégua também, vamos reagir em igual ódio e intensidade sem perdão a traidores e quem fica no meio da fila de vacilação que concilia sem estima ao legado do povo negro.
Nenhum preto ou preta pode achar que está tudo bem quando se mata pessoas nas ruas, a qualquer hora do dia , mesmo que elas não tenham nenhum antecedente, nenhum acesso ou habilidade com armas. A policia de Rui Costa vai alegar, troca de tiros, vai dizer que aquele “cidadão” ousou enfrentar a guarnição e vai lavrar um auto de resistência, com a cumplicidade do delegado, do escrivão, do MP, e do IML, ou simplesmente sumirem com corpos negros em diversas partes da cidade, como o último cemitério clandestino descoberto pela polícia, mas que era denunciado pela Organização Politica Reaja ou Será Morta, há pelo menos 10 anos.
Nós da Reaja , tivemos muito tempo pra pensar e ter certeza de quem está com nós e com quem nós estamos.
Estamos nas ruas , nos becos , nas cadeias e nos hospitais psiquiátricos e isso aqui não é poesia engajada pra te convencer que somos foda . Temos vários militantes encarcerados, vários militantes que enlouqueceram e vários militantes mortos. Não nos peçam para compreender seu pedido absurdo pra ser Reaja e ser outra coisa paralela à Reaja. Nossa organização é por sobrevivência espiritual, política e física e você nos enfraquece com duas conversas sobretudo, um olho no padre outro na missa, um pé na Marcha Contra o Genocídio e outro no projeto que nos aniquila.
Não somos um circulo universitário de estudo e contemplação do pan-africanismo, não somos hippies felizes e lombrados aplaudindo o sol, não somos anarco nada, somos a Reaja, apelando pros “alemão” que nos abandone de vez por que temos tarefas que sua bola de meia não suporta.
No dia 04 de fevereiro de 2017, a linha auxiliar cometeu um erro histórico irreparável e jogou a ultima pá de barro na sepultura de sua própria história. A linha auxiliar do governo racista e genocida de Rui Costa não tem essa noção de história e do poder que a história tem de desenterrar a verdade dos fatos. Um grupo que como um passe de magica se calou diante de uma das maiores tragédias na segurança pública da Bahia dos últimos 12 anos . Ela já tinha se calado diante de outras mortes, como a de do Negro Blul, da Chacina de Cana-Brava, da morte de Evangivaldo em Fazenda Coutos, da morte de Ricardo e Ênio Matos, a morte de Geovani , o desaparecimento forçado de Davi Fiuza, de Luis Cláudio, de David, de Rildevan. Contudo, toda repercussão do Caso Cabula e o conteúdo dramático das declarações do Governador e da operação criminosa do secretario de segurança publica se esperava um pouco mais de tutano no corpo frágil de ativistas – aqueles que organizam e executam atividades – lotados nos cargos públicos de confiança e nos cabides de emprego dos parlamentares da base aliada do Governador do Estado da Bahia.
O que vimos foi : dois dias antes de se completar dois anos da Chacina do Cabula, a Policia Militar – representada por suas Rondas Especiais, a RONDESP – matar 04 pessoas no bairro Engomadeira e criar um terror absurdo de toque de recolher, ofensa a moradores e outros comportamentos típicos de um estado de exceção, de um Estado de ódio aos pretos.
Durante a noite, cinco uniformes bailavam no palco do evento da Noite da Beleza Negra do Bloco Afro Ile Aiyê/2017.Eram Uniformes da COPPA ( Companhia de Policia de Protção Ambiental), da PETO (Pelotão de Emprego Tático Ambiental), GRAER (Grupamento Aéreo), Cipe/Caatinga ( Companhia Independente de Policiamento Especializado/Caatinga) e RONDESP (Rondas Especiais) todos uniformes manchados com sangue de jovens negros da Bahia , as mortes dos pretos comuns , não mencionadas, que ninguém sabe ou se importa, como aquela ali executada na quebrada, com a certeza da impunidade porque não existe investigação na Bahia que solucione uma morte de um preto morto pela policia. Ou se quer se instaura inquerito policial para investigar. Aqui se pratica o direito de matar e eliminar, batizado como auto de resistência ou reconhecido pela pratica dos desaparecimentos forçados, com gosto de gás.Nos poupem a desprezível argumentação de esforços para aproximar a policia do cidadão. Isso não é digno de quem precisa admitir seu erro de avaliação. Não diria que os organizadores da triste performance tinham certeza daquele embaraço, mas a policia militar do Estado da Bahia não é otária: age como a instituição mais vilã que se tem noticia.Fizeram tudo calculado e mais uma vez invadiram o quilombo de Orubu em busca de Zeferina. Mas Zeferina estava conosco num domingo quente, dia 05 de fevereiro, pintando os muros na entrada da Engomadeira e enfrentando os insultos da Rondesp.
Linha Auxiliar dança na nossa desgraça junto com policia
Militar na Noite da Beleza Negra Fevereiro – 2017
A Policia Militar do Estado da Bahia colocou o uniforme de unidades especiais e não a sua farda principal. São dois anos da Chacina do Cabula e a PM fazendo a dança sagrada do Ilê. Evolui daquela dancinha da Iguadade , orquestrada pela supremacia branca, praticada entre a Sepromi com suas linhas auxiliares e os policiais da Rondesp – entre os quais os que participaram diretamente daquela emboscada seguida de execução sumária – para uma dança aplaudida pelo povo preto, transmitida pela TV oficial do Governo e tendo como mestres de cerimônia pessoas felizes.Sem esquecer a presença da militância que se beneficia com o lobby contra o genocídio.
Não existe acordo , sempre nossos corpos estão na mira. Esse evento citado acima, demonstrou a real projeção da desgraça, a miséria humana no palco servindo de justificação da morte de pessoas com a pele igual, mortas como insetos. O uniforme é mais forte que a dança , o passo, o corpo se transforma em libertação e absolvição de toda corporação pelo crime praticado .
Esse texto vai girar por ai e por certo vai aparecer numa das tantas redes sociais. Você não precisa dar likes ou curtidas e aquelas palavras de ordem toscas como “Guerreira” “gratidão” e congêneres. Nós te desafiamos a agir, fazer alguma luta, se afastar dos covardes e criar exércitos de indignação e combate.
Temos tarefas importantes. Precisamos atualizar a denúncia ao mundo do fracasso do programa de segurança publica do governo, o fracasso dos pilares do Pacto Pela Vida , o direcionamento de todo seu potencial bélico e nocivo para nossas comunidades, em especial aos jovens homens negros. Precisamos revelar o caráter seletivo da justiça criminal, revelar o terror a que estamos mergulhadas e mergulhados.É uma guerra de alta intensidade racial, como já dissemos.
Temos que chamar irmãos e irmãs espalhados pelo Brasil para num só grito acabar com esse silêncio de túmulo. Enquanto correr sangue em nossas veias nos será exigido lutar. A Reaja Vive , o Pan-africanismo quilombista de combate vive e não é como uma rodinha delicada de ativismo distinto,separado e reservado para um grupinho.
A Reaja vive no enfrentamento, na construção de um outro período de graves lutas no Brasil!!!
Viva Mario Gusmão
Viva , Zeferina
Viva Zumbi
Viva Marcus Garvey
Hamilton Borges dos Santos (Walê),
diretamente da Cidade Tumulo – Salvador