Doméstica etíope espancada no Líbano se suicida após vídeo do abuso passar na TV

O caso revoltou libaneses e etíopes e reacendeu debate sobre o tratamento dado a domésticas no país

Um vídeo que mostra um grupo de libaneses espancando uma doméstica etíope provocou condenação dos governos dos dois países e levantou mais uma vez o debate sobre o tratamento dado a trabalhadoras estrangeiras no Líbano. A doméstica, Alem Dechasa, se suicidou nesta quarta-feira (14/03), alguns dias após o material ser transmitido pelo LBCI, canal de TV local, e cair na internet — foram mais de 84 mil acessos no Youtube.

Nas imagens, captadas com uma câmera de celular, Dechasa e os agressores estão próximos à Embaixada da Etiópia em Beirute. Enquanto é arrastada pelos homens, um deles seu patrão, Ali Mahfouz, a doméstica implora para ser deixada em paz. Eles tentam colocá-la dentro de um carro, contra sua vontade. Mahfouz bate na mulher, puxando seus cabelos.

O vídeo foi transmitido na semana passada na TV e causou revolta entre libaneses e etíopes. Comunidades no Facebook e em outras redes sociais foram inundadas com mensagens de repúdio a Mahfouz, algumas delas com teor anti-árabe. Autoridades dos dois países anunciaram uma investigação.

No entanto, pouco tempo após ser hospitalizada no hospital psiquiátrico la Croix, na capital libanesa, Dechasa cometeu suicídio usando os lençóis da cama para se enforcar. De acordo com o cônsul etíope Asaminew Debelie Bonssa, entrevistado pelo jornal libanês The Daily Star, Dechasa parecia bem no sábado (10/03), quando ele a visitou, e que fazia planos para quando voltasse para a Etiópia.

Abusos

A história de Dechasa se junta a outros relatos de abusos cometidos contra trabalhadoras estrangeiras no país. Desde 1973, o Líbano vem “importando” domésticas estrangeiras que não contam com a proteção de nenhuma lei libanesa: o código do trabalho não se aplica a elas. Nesse panorama de ilegalidade, muitas famílias condicionam as domésticas a regimes de trabalho desumanos e, na maioria dos casos, aliados a abusos físicos e sexuais.

O vídeo de pouco mais de um minuto mostra Dechasa sendo espancada e agarrada pelos cabelos

Segundo as associações de direitos humanos, a situação só piora. São centenas de filipinas, etíopes, togolesas e cingalesas, entre outras nacionalidades, que relatam sofrer espancamentos, abusos, e privação de sono e comida.

De acordo com pesquisa da associação Caritas feita em 2007 com patrões, mais de 91% confiscaram o passaporte da empregada, 71% não a deixam sair sozinha, mais de 31% reconhecem maltratá-la, 33% limitam as suas refeições, 73% vigiam os seus relacionamentos e 34% a punem como se ela fosse uma criança.

O suicídio acaba sendo o destino de muitas delas. Nos últimos quatro meses, quatro mulheres tiraram suas vidas, de acordo com o Daily Star.

Fonte: Opera Mundi

+ sobre o tema

Brancos, vamos falar de cotas no serviço público?

Em junho expira o prazo da lei de cotas nos...

Em junho, Djavan fará sua estreia na Praia de Copacabana em show gratuito

O projeto TIM Music Rio, um dos mais conhecidos...

O precário e o próspero nas políticas sociais que alcançam a população negra

Começo a escrever enquanto espero o início do quarto...

Estado Brasileiro implementa políticas raciais há muito tempo

Neste momento, está em tramitação no Senado Federal o...

para lembrar

Carta de repúdio ao racismo praticado na formatura de História e Geografia da PUC

Durante a tradicional cerimônia de formatura da PUC, onde...

PARANÁ: Caso de racismo leva treinador a pedir demissão no estadual

  O treinador Agenor Picinin pediu demissão do...

‘Prefiro que a loira me atenda’, diz cliente a atendente negra em restaurante

Após ser atendida pela funcionária branca e de cabelos...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=