Pedro Paulo Soares Pereira, ou apenas Mano Brown, é um narrador do cotidiano dos negros e da periferia. A voz do rapper tem ecoado para milhares de jovens que se inspiram nas letras dos Racionais Mc’s. A relevância do cria do Capão Redondo, zona sul paulista, influencia também a estética fashion. O estilo do cantor se mantém fiel às origens, mas também se mostra atento às tendências atuais.
O público pode conhecer mais sobre o guarda-roupa de Brown com o lançamento do podcast Mano a Mano. Vem conferir a trajetória!
Sobrevivendo no inverno
Desde 1988, Ice Blue, Ed Rock, KL Jay e Mano Brown criaram um legado não apenas no rap nacional, como também na música brasileira. Com discos que fazem parte da trilha sonora da vida de várias gerações, os Racionais reivindicaram o lugar de destaque da cultura negra brasileira.
Lançado em 1997, o disco Sobrevivendo no Inferno é celebrado como um marco na construção da identidade de milhares de jovens. O trabalho vendeu mais de 1,5 milhão de cópias, além de ter se tornado livro e referência acadêmica.
Com os Mc’s, Brown lançou também os álbuns Holocausto Urbano, Escolha O Seu caminho, Raio X do Brasil, Nada Como Um Dia Após O Outro dia, e Cores e Valores. Músicas como Capitulo 4 Versículo 3, Pânico na Zona Sul e Negro Drama são referenciadas até hoje.
Acauam Silvério de Oliveira, professor de literatura brasileira da Universidade de Pernambuco, que assina o prefácio do livro Sobrevivendo no Inferno, explica que a atuação do grupo foi decisiva para fazer o rap mais do que uma simples representação da periferia.
“Sua radicalidade e o seu senso de ‘missão’ – afinal, o ‘rap é compromisso’, já dizia Sabotage – ajudaram a desenvolver um espaço discursivo em que os cidadãos periféricos puderam se apropriar da sua própria imagem, construindo para si uma voz que, no limite, mudaria a forma de enxergar e vivenciar a pobreza no Brasil”.
Segundo o professor, a contribuição do grupo é de reestruturar o imaginário de cordialidade que a ideia de democracia racial se estabeleceu na sociedade brasileira. “A aposta dos Racionais, ao contrário, está na construção de uma identidade formada a partir da ruptura com essa tradição conciliatória”.
No ritmo de Boogie Naipe
Aos 52 anos, Mano Brown é umas das principais referências quando o assunto é estilo de moda masculina. Assim, a personalidade do rapper é exposta nas suas roupas. O cuidado com o styling do artista pôde ser melhor acompanhado a partir do lançamento do primeiro álbum solo Boogie Naipe, em 2016.
Com referências da black music dos anos 1970 e 1980, Brown se aventurou em outros gêneros para além do rap. O cantor compreendeu os períodos e artistas característicos e adaptou a sua própria linguagem.
Correntes, sneakers, regatas caneladas, bonés….. Essas são algumas das peças que fazem parte do guarda-roupa de Mano Brown. O cantor também está atento as tendências, como jaquetas puffer e jeans lavados.
O rei do podcast
Em 2021, Brown surpreendeu a todos com a divulgação de seu novo trabalho autoral: um podcast. Intitulado de Mano a Mano, o programa estreou com a proposta de ampliar a visão e o debate a partir da profundidade e respeito.
Ao longo das duas temporadas disponíveis, o projeto recebeu personalidades como os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff; as cantoras Ludmilla e Karol Conká; os atores Lázaro Ramos, Tais Araújo e Wagner Moura; além da filosofa e escritora Sueli Carneiro.
O programa de Brown é um dos mais ouvidos da plataforma de streaming Spotify. As conversas comandadas pelo artista ganham as redes sociais, com debates a respeito dos temas abordados nas entrevistas.
Mano Brown é um desses nomes que têm a admiração de diferentes grupos. Seu legado é perpetuado e referenciado por milhares de jovens que encontram no rap uma forma de expressar as realidades enfrentadas no dia a dia. Assim como as rimas, o estilo do rapper toca e veste gerações.