Dossiê Mulheres Negras retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil

 

APRESENTAÇÃO IPEA

Ao longo dos últimos anos, as questões relativas à igualdade de gênero e raça têm ocupado cada vez mais espaço na agenda pública nacional, tanto no que se refere aos debates e reflexões promovidos pelo movimento social e pela academia, quanto na apropriação dos temas pelas instituições do Estado. Neste contexto, o desenvolvimento de um conjunto de políticas de caráter afirmativo, que se somam às importantes políticas universais, tem contribuído, sem dúvida, para a conformação de uma sociedade que avança paulatinamente rumo à igualdade.

As conquistas alcançadas no campo da igualdade de gênero e raça, porém, não podem ofuscar os enormes desafios ainda impostos. Os indicadores sociais disponibilizados todos os anos em nível nacional, e consolidados na publicação Retrato das desigualdades de gênero e raça, editada pelo Ipea em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR), a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR) e a ONU Mulheres, permitem dimensionar as grandes distâncias que ainda separam homens e mulheres e negros e brancos. De qualquer ângulo em que se tomem estes grupos – no campo da saúde, do trabalho, da educação, no espaço doméstico –, a realidade ainda revela muitas desigualdades. A persistência deste cenário aponta, a cada dia, para a força estruturante dos valores e convenções de gênero e raça na conformação do quadro maior de desigualdades que ainda marca o país.

Para a compreensão desses fenômenos, há que se considerar a relevância de um novo conceito, há pouco apresentado ao debate público e já percebido como de grande utilidade e relevância. Trata-se da ideia de interseccionalidade, que re- monta às dinâmicas e processos de interação entre dois ou mais eixos de subor- dinação na construção de situações de exclusão e opressão. Isto significa que tais situações são vivenciadas de forma diferenciada se consideradas mulheres negras e brancas, ou homens negros e brancos. São ainda mais diferenciadas se inseridas na análise as categorias de classe, geração, regionalidade ou orientação sexual, por exemplo. A menção a desigualdades de gênero, considerando-se apenas homens e mulheres, torna-se, a partir desta perspectiva, bastante simplificador, e não reflete inteiramente o que de fato acontece.

É com o intuito de estimular estas reflexões que, em última análise, este Dossiê mulheres negras foi elaborado. E de forma inovadora, as instituições par- ceiras abrem espaço para que as questões aqui colocadas sejam analisadas a partir da perspectiva de jovens mulheres negras, convidadas a estudar um conjunto de

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indicadores sociais capazes de evidenciar as inúmeras desigualdades integrantes de suas experiências enquanto pertencentes ao grupo que vivencia, no cotidiano, o impacto destes processos múltiplos e simultâneos de exclusão.

Para o Ipea, integrar este esforço interinstitucional é cumprir à risca sua mis- são de produzir, articular e contribuir para que seja gerado conhecimento capaz de alterar, de fato, a realidade ainda vivenciada pelo país.

Desejamos a todos(as) uma boa leitura.

Marcelo Côrtes Neri

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) 

 

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